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Dr. Vitor Manuel Adrião
(Professor e investigador)
Conferência Pública Proferida pelo Autor, em 10 de Junho de 2003, No Anfiteatro da Antiga Cisterna Subterrânea da Cidadela Militar de Cascais, Perante as Autoridades Civis, Militares e Religiosas, Além de Vasto Povo, por Ocasião da Chegada do Círio Real dos Saloios da Virgem do Cabo Espichel aí, e Posterior ida para a Paróquia do Santíssimo Nome de Jesus de Odivelas, Sede de Concelho.
Hoje, Dia de Portugal, que é dizer do início da Portugalidade no Mundo como País soberano cerca de 500 anos à dianteira dos demais europeus estruturados em feudos cujos duques e condes isentavam-se dum poder central, é pois neste velhinho rectângulo Pátrio que irrompe a Diáspora da Fé, do Saber e das Armas assinaladas inicialmente a todas as parte da Europa, e depois do Mundo!… Ser Português é uma maneira de estar, de sentir, pensar e ser… sempre duvidoso das suas capacidades reais de realizar e, anacronicamente, sempre ansioso de realizar.
Num aspecto particular regista-se isso mesmo no Saloio, etnia arábica vinda de Saleh, nas fronteiras do Egipto, no finais do século VIII para estas bandas ocidentais da Europa e miscenizando-se aos cristãos submetidos ao jugo Árabe ocupante, pelo que em breve eles mesmo se tornariam moçárabes, desde logo mal vistos pelos de puro sangue Árabe, não corrompido pela mistura ao de outras etnias que consideravam inferiores, pelo que foram remetidos ao desprezo das fainas mais humildes, contudo imprescindíveis, do cultivo dos campos arredores das grandes urbes estremenhas, particularmente de Lisboa. De maneira que ao natural de Saleh deverá depois a sua origem o “homem do campo”, o Saloio.
Devo informar que o moçárabe, nome aliás escrito na forma plural, aparece pela primeira vez no foral que Afonso VI (1101) concedeu à cidade de Toledo, onde o monarca refere os súbditos “quos vulgo mozarabes vocitant”, de onde se infere que o nome carecia de uso nas instituições culturais e jurídicas.1 Essencialmente o moçárabe é o “como que árabe”, ou seja, o cristão inserido e subordi- nado à estrutura social muçulmana, excepto na religião, ainda que a Cruz e o Crescente em muito se identifiquem através dele.2
Durante a ocupação muçulmana da Península Ibérica, o Estado islâmico limitou a propagação judaica e cristã a guetos ou lugares de delimitação fixa. Assim, a paróquia é o gueto dos cristãos, como a alfama ou aljama é o asilo ou gueto dos judeus (e após a Reconquista judaico-cristã criar-se-ia, imitando o modelo islâmico, o gueto da moirama, isto é, a mouraria), com a diferença de que a paróquia – nome gótico – se designa, no direito muçulmano, por al-kenîssah, ou kulicia. Al-kenîssah não é apenas um templo, nem uma capela, nem uma ermida no monte. É, mesmo na forma evolutiva da palavra (kenîssah, caniça, caneça), uma cabeça de assembleia cristã: a sede paroquial.3
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1) Alexandre Herculano, Portugalia Monumenta Historica, Scriptores, 84.
2) Vitor Manuel Adrião, Rotas de Loures. Edição do Autor subsidiada pelo Município, Loures, 1994.
3) Pinharanda Gomes, A Filosofia Arábigo-Portuguesa. Guimarães Editores, Lisboa, 1991.
O desenvolvimento da rede paroquial durante a Reconquista cristã alerta para a função da freguesia nas acções da conquista e da consolidação do domínio das caneças contra as assembleias mesquitais. Algumas dessas caneças feneceram, ocupadas pela moirama e logo transformadas em mesquitas e mesquitelas, enquanto outras vingaram durante os séculos de ocupação. Caneça, ou caneças, é uma igreja paroquial onde ocorrem semanalmente as populações circunvizinhas, as populações desse gueto cristão tornado mais importante em regime de hábito disperso, como sucedia em toda a região da Estremadura, mormente nas terras saloias de Loures, Mafra, Sintra e CASCAIS, as quais se estendiam etnologicamente, por um lado, até Torres Vedras e inclusive registando-se vestígios da Cultura Saloia em Óbidos, e por outro lado, indo até à zona Sadina de Setúbal, Arrábida, Sesimbra e ESPICHEL.
Dentro da caneça o moçárabe é cidadão de pleno direito, freguês, felgrês, feligrês ou filius Ecclesia, “filho da Igreja” (donde a Freguesia ser extensão da paróquia, tal qual, numa sociedade tradicional, o Poder Temporal é justificado e confirmado pela Autoridade Espiritual), mesmo que a mulher sirva de lavadeira ao Califa.
O modelo jurídico islâmico, por sua perfeição aristotélica, serviria de inspiração ao Senado latino dos cristãos, reformulado por D. João I mas cuja origem recuará a D. Afonso II. O Senado islâmico era a Shari’a, o tribunal no qual o Cadi ou Juiz agia como representante do Califa. Por via de regra, era um muçulmano do sexo masculino, de bom carácter e comprovado saber. Embora a sua jurisdição abrangesse ao mesmo tempo a lei civil e a lei penal, na prática o Estado encarregava-se da maior parte da última. Ora era exactamente isto que o Senado latino fazia: mantinha a lei civil e só aplicava a penal após ordens expressas do Estado vigente.4
Com tudo isto, premissas indispensáveis ao entendimento da génese do Círio dos Saloios à Virgem de Mu ou Espichel, tema que aqui nos traz, pretendo agora afirmar que, com a maior das possibilidades, tal Círio Votivo ou Giro seria já cardápio do Cultuísmo do Saloio moçárabe ao tempo da Ocupação árabe, cuja lei era permissiva e não repressiva da Fé cristã submetida, desde que a mesma não se convertesse em Política anti-estatal subversiva. Ficar-se pela Fé, respeitava-se; extravasar-se para a Política, reprimia-se.
Tanto assim é que não raros autores de obras consignadas a leitura obrigatória na área Historiográfica, como Frei Bernardo de Brito (in Monarquia Lusitana, parte I, livro IV) e Manuel de Faria e Sousa (in Europa Portuguesa, cap. I, IX), afirmam que a devoção a Nossa Senhora da Pedra de MUA, de MU ou do Cabo é remotíssima e muitíssimo anterior a 1414, e mesmo a 1215 onde se notícia culto à Mãe Divina no terreiro do Cabo Espichel. 1414 é o ano em que D. João I doou ao Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira, terrenos no sítio do Cabo Espichel para que ele, devoto confesso de Nossa Senhora do Carmelo, desse ao povo Casa condigna à devoção da Virgem, sendo edificada em 1490 a Ermida de Santa Maria da Pedra de Mua, vulgo Ermida da Memória, humilde resto de formato Kaábico do antigo espaço Carmelita de que ainda sobejam as ruínas ao lado da actual Catedral. A pequena Ermida, mais sendo Oratório de Ermitão ou homem do Deserto, como Santo Antão que lá está em azulejo fazendo o sinal de silêncio, foi restaurada em 1758, data das suas inscrições azulejares, as quais indiciam que foi aí mesmo nesse “próprio lugar onde a milagrosa imagem de Nossa Senhora do Cabo se manifestou aos venturosos velhos de Caparica e Alcabideche e em que primeiro foi venerada”, segundo Frei Bernardo de Brito.
O Culto estremenho dos Celtas à Grande Deusa-Mãe ir-se-á prolongar ao período Moçárabe já na forma hagiográfica da Mãe Divina, e fixar definitivamente, por via do Santo Condestável, D. Fr. Nuno Álvares de Santa Maria, no Culto Votivo Popular à Virgem Santíssima, esta mesma Santa Maria do Cabo, por influência notória da Ordem do Carmelo, associando Espichel a novel Carmelo Lusitano.
Foi grande a devoção popular ao Santo Condestável, devotadíssimo a Santa Maria do Cabo, a ponto da devoção feminil saloia de lhe ter consagrado várias danças e cantares mouriscos, chacóinas ou chaconas, de natureza apologética abertamente matricial, inclusive atribuindo-lhe o “poder de ressuscitar os mortos”, o que vai bem com o Culto da Deusa-Mãe agora na figura do “Cavaleiro Santo”, do “Galaaz do Carmelo”, no dizer de Pinharanda Gomes, e tanto mais que a Iniciação Cavaleiresca é sinónima de Iniciação Mariana. Convém, sim, não confundir Cavalaria Espiritual com Cavalaria Militar. A propósito da “Chacona do Condestável”, medieval, ela foi
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4) Augusto Vieira da Silva, Dispersos, volume I. Lisboa, 1968.
recolhida e integrada no reportório do Rancho Folclórico e Etnográfico “Os Frieleiros”, que gentilmente cedeu-ma pela mão do seu Presidente na altura, sr. José Henriqueta.5 Passo a descrevê-la:
DANÇA: É somente dançada por mulheres. Tem a sua origem na Procissão ao Carmo de Lisboa, organizada em primeira mão pelo próprio D. Nuno Álvares Pereira. Esta dança, tal como na Judenga, eram obrigatórias a sua comparência, e em caso de falta seriam multados.
MÚSICA: É baseada em quatro notas, que procedem por graus unidos, sobre os quais se fazem muitas consonâncias e coplas sempre com a mesma volta.
LETRA (ortografia semi-medieval):
A CHACONA
Do Restelo a Sacavém
Nem ningola nem ninguém
Tem semelho ao Condestabre
Que le prouge e que le preze
Ho fazermos tanto bem.
E BEM E BEM
O rapaz das coberturas
Que mórre, e cahe pra tráz,
Já não vai à sepultura
Que outra vez, vive o rapaz:
E ho Conde le fizo o bem.
E BEM E BEM
Á filha de Joana estés
Que finou por non mamar
Ao do moinho Cubo
Que finou por se afogar
Viventa o Conde também.
E BEM E BEM
O mal daquela alfayata
O gram dor de Lopo Afonso
Nos les chega aos corações
Que o Santo Conde los guarde:
Y todo por fazer bem.
E BEM E BEM
E bem Condestabre Santo
Cobrimos com nosso manto
Com nosso manto de Galés
Defendimentos dos males
E fagamos muito bem.
E BEM E BEM
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5) Vitor Manuel Adrião, Ode a Loures (Monografia Histórica). Edição do Pelouro do Turismo da Câmara Municipal de Loures, 1993.
É ainda a Arqueologia a comprovar quão antigo é o Culto à Grande Deusa-Mãe, independentemente dos nomes que adopte de acordo com a ciclicidade dos movimentos religiosos imperantes no tempo de dado espaço histórico, no Cabo Espichel, outrora conhecido dos cronistas como Promontório Barbárico, e dos latinos como Capresicum Lugum, isto é, Cabo de Capris ou da Cabra.6
Com efeito, as lapas do Bugio e do Fumo, ambas muito dificilmente acessíveis pela alcantilada escarpa costeira, forneceram dentre outro espólio eneolítico (c. 3000 a.C.), diversas descobertas surpreendentes: junto à entrada da lapa do Bugio encontrou-se um esqueleto cujo crânio fitava o mar, tendo sido intencionalmente desmembrado e os ossos serrados,7 o que sugere um tipo de ritual funerário Isíaco, o que aliás indaga Manuel Joaquim Gandra.8 Na outra lapa do Fumo, mais ossadas humanas intencionalmente serradas, e cerâmica de fabrico demasiado esmerado, para que se possa considerar de carácter meramente utilitário, campaniforme, argárica, com ornatos a cores, datável da Idade do Ferro, e Medieval, designadamente do Período Muçulmano, também representado por oitenta quirates (moedas) cunhados em Silves, que se verificou haverem sido lançados sobre as sepulturas de presumíveis homens santos (mulâs) venerados pelo Islão.9 Que terá o mulâ a ver com a mula por que subiu Nossa Senhora escarpa acima, segundo a lenda? Ou mesmo essa outra mula em que subiu ao Céu Mahometh? Haverá algum ponto de encontro entre o Islão sufítico e o Templo cristão, sendo a Virginis Aeternis, a Marah corânica, o ponto de intercessão?
A acrescer tudo isso, a existência de diversas pistas de dinossáurios, com maior realce nas escarpas da enseada da praia dos Lagosteiros, pretexto para as pegadas deixadas na Pedra de Mua pela burrinha (mula ou muar) que transportou a Senhora encosta acima,10 transpondo-se assim o óbvio geológico para a maior valia da aparição sobrenatural da Virgem, o que recata à finalidade consagratória desse mais um finis-terrae ou lugar sagrado. Assim quis o Povo e assim está muito bem, na sua maneira simples mas pura de pensar e sentir o Sobrenatural, insensível à discussão científica esclarecida mas sensível à simplicidade da Fé iluminada por Graça da Virgem Mãe, a Stella Maris, o que reporta à devoção ao Divino Espírito Santo, soprando onde quer sobre o Oceano da Vida, por aqueles homens e mulheres que dados às fainas do mar caprichoso a Ele e a Ela tantas vezes recorrem nas horas de aflição, ou esses camponeses dependentes, também eles, das boas colheitas que os caprichos da Mãe-Natureza lhes concede. São motivos mais que suficientes para se cultuar a Senhora do Cabo, Orago dos Saloios que vivem da terra, mas também daqueles que vivem do rio e do mar.
É assim que nasce a fruição da história hagiográfica da aparição da Senhora da Mua, que os velhos contavam oralmente e que depois Frei Agostinho de Santa Maria transpôs literalmente ao seu “Santuário Mariano” (liv. II, tit. 72), tendo por personagem central o Nauta irlandês S. BRANDÃO, o que coloca o Cabo de MU na rota marítima das “Ilhas Perdidas ou Encantadas” de algum finado e mítico Continente da ATLÂNTIDA aqui reachado.11 Convém recordá-la:
“(Cerca) de 1215 pouco mais ou menos (…) uma nau em direitura a Lisboa, no fim de alguns dias estando já na altura de Lisboa, não longe da costa lhe anoiteceu, e sobreveio juntamente uma tão terrível tormenta, e com uma cerração tão obscura que todos se davam por perdidos. A cada instante julgavam tocar em um baixo ou despedaçar-se a nau naquela brava costa; porque além de serem (como estrangeiros) pouco versados nela com a obscuridade da noite, não sabiam onde estavam, nem ainda que o soubessem, lhes podia aproveitar pelo desmalado furor dos ventos, e braveza dos mares, que não deixavam que a nau obedecesse ao leme. Todos os que vinham nesta nau eram cristãos e católicos, como o eram então todos os Ingleses e entre eles vinha um Religioso Eremita de meu Patriarca S. Agostinho chamado Haildebrant (isto é, Brandão), que devia ser Capelão da nau, ou de um fidalgo, que também ali
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6) Vitor Manuel Adrião, Os Trilhos da História Sadina. In revista “Cidades”, S. Pedro do Estoril, 1988.
7) João Luís Cardoso, A Lapa do Bugio. In “Setúbal Arqueológico”, V. 9 – 10, pp. 89 – 225, 1992.
8) Manuel Joaquim Gandra, Os Círios ou aspectos da Grande Deusa na Estremadura. In “Comunicações”, publicadas pela Câmara Municipal de Loures, das Jornadas sobre Cultura Saloia – 2 e 3 de Dezembro de 1994.
9) Eduardo da Cunha Serrão, Cerâmica proto-histórica da Lapa do Fumo – Sesimbra – com ornatos coloridos e brunidos. In “Zephyrus”, 9, n.º 2, pp. 177- 186, 1958.
10) Miguel Telles Antunes, Dinossáurios Eocretácicos de Lagosteiros. Lisboa, 1976.
11) W. Scott-Elliot, Lendas de Atlântida e Lemúria. Editora Madras Ltda., S. Paulo, 2002.
vinha, chamado D. Bartolomeu. Trazia esta bom Religioso consigo uma Imagem de Nossa Senhora, com que tinha especial devoção (…) a foi buscar no seu camarote para se recomendar a ela, e a pedir-lhe que lhe valesse, e a todos os mais que vinham na nau. Mas não a achou no lugar em que a trazia (…): começou a dar vozes ao céu para que lhe valesse naquele grande aperto, em que ele, e todos se achavam pedindo-lhe valesse: o mesmo fizeram os mais desamparando o governo da nau, pondo-se de joelhos em oração e pedindo com lágrimas a Nosso Senhor que lhes acudisse interpondo o socorro de sua Santíssima Mãe. Eis que de improviso viram em um alto uma grande luz, que no meio daquela escura noite lhe alumia a nau e a viram como o podiam fazer com a luz do Sol em um dia claro. Após isto sossegaram os mares, abrandaram as ondas e se amansaram os ventos, quando a nau em Lua tranquila bonança. Entenderam por estes sinais ser do Céu aquela luz, e aquela maravilha e assim animados e seguros navegaram para ela, até que vendo-se junto da costa lançaram ferro e se deixaram estar surtos até amanhecer o dia dando muitas graças a Deus, que de tão evidente perigo, os havia livrado. Notaram que a luz os guiara e o lugar onde aparecera, para que tanto que fosse claro o dia, irem saber o que aquilo era. Chegou a manhã e saindo a terra Haildebrant (Brandão) com alguns dos principais da nau e subindo ao lugar notado, em que tendo visto a luz, descobriram a mesma Imagem da Rainha dos Anjos que o Religioso Padre Haildebrant trazia no seu camarote e que lhe havia falado dela na ocasião da tormenta em que buscava. Admirados todos de tão grande maravilha e agradecidos juntamente à Senhora pelo singular benefício que lhes fizera, não cessavam de dar graças a Deus e também a sua Mãe Santíssima. Consideravam que o achar-se a Santa Imagem em aquele lugar milagrosamente era mostrar-lhes que tinha feito eleição dele, e que ali queria ser venerada, e assim se resolveram a não a tirar daquele sítio, sendo o principal voto desta deliberação o do nosso Eremita Haildebrant (Brandão), de quem era a Santa Imagem. E para que ficasse decentemente naquele lugar, com esmolas que juntou dos companheiros, e com licença do Bispo de Lisboa, lhe edificou boa Ermida em o mesmo lugar, e junto a ela uma cela, ou aposento para si, e para D. Bartolomeu, que os quis acompanhar naquela solidão tão áspera (…).”
Desconheço se São Brandão acaso seja o capitão de mar Sancho Brandão, da mesma época, pertencente à Marinha de Guerra da Ordem do Templo e que, segundo Assis Cintra baseado nos escritos do jesuíta Manuel Fialho, terá chegado numa expedição de reconhecimento à “Ilha Perdida do Mar do Ocidente”, apontada como o Brasil, notícia comunicada pelo Rei de Portugal ao Papa Clemente VI, em 12 de Fevereiro de 1343.12 Igualmente desconheço se Sancho Brandão acaso será São Brandão… Para todos os efeitos, tem-se a Navegação Sobrenatural como Via Húmida da Alquimia – Macho/Fêmea, Fohat/Kundalini, Sol/Lua, estes aliás iconografados dentro da Catedral do Cabo, daí também o significado da legenda do azulejo junto ao altar-mar: “Ver o outro sentido além do aparente” -, Arte Magna de Espírito Santo; e assim igualmente a presença oculta da Ordem do Templo na feitura da santidade do Cabo Espichel 13, e só depois a Carmelita.
A publicação em Lisboa em 1707 desse feito miraculoso que o coloca no Ciclo e no Circuito Hipertúlico ou das Aparições Miraculares da Virgem, veio corroborar o que antes, em 1409-10, acontecera a uma velha saveira do Monte da Caparica (a Capa-Rica, tanto quanto aquela que depois se depôs sobre a Imagem) e a um velho saloio de Alcabideche, vizinho de Sintra e freguês de Cascais, ambos tido uma visão idêntica: visto uma brilhante estrela levantada sobre o Mar (Stella Maris), ao longe, alumiando sobre o Cabo Espichel, lugar que Nossa Senhora lhes revelara em sonhos, advertindo-os que ali achariam a sua Imagem, escondida desde há séculos numa fraga pelo próprio S. Brandão pelo ano de 1215, reinando D. Afonso II de Portugal, tendo a Virgem acrescentado que os devotos lhe deveriam prestar culto.14 O romeiro saloio e a velha caparicana, viriam a encontrar-se, a rumarem ao Cabo, e depois de aí orarem, fizeram ambos uma ermidinha de alecrim, arbusto saturnino que vegeta abundantemente no lugar, e dentro colocaram a pequena imagem da Virgem Negra achada entre fragas.
Quer isso dizer, descodificando o sentido imediato do acontecimento maravilhoso e maravilhado, que terá sido por essa data de 1410 que o Condestável Santo – esse novel “São Malaquias” da Gesta de Avis, Siva ou do Espírito Santo por estar sob a chancela do Carmelo, que
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12) St. Brendan’s Search for Paradise. In A brief history of the European Myth of de Garden, Press American Studies at the University of Virginia, 2001.
13) Maria Clara de Almeida Lucas, A literatura visionária na Idade Média portuguesa. Biblioteca Breve, vol. 105, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1.ª edição – 1986.
14) J. Raposo Botelho, Nossa Senhora do Cabo (Resumo Histórico), pp. 8/9. Sintra, 1928.
em egípcio se diz Espichel, logo tornando este um CARMELO LUSITANO nesta “Ocidental Ish-Ra-El” aonde confluíram as três grandes religiões monoteístas afro-mediterrânicas (Judaísmo, Cristianismo, Islamismo) – começou a interessar-se pela Fé Popular de Saloios e Saveiros à Virgem do Cabo, e, com o amplo apoio Popular, acrescido do Real e do Carmelitano, seria iniciada em 1490 a construção da Ermida da Memória do “Milagre” de 1215 aí, ou seja, o ano em que o Culto à Virgem Celeste terá assumido a definitiva forma Cristã e, possivelmente, largado a primitiva de feições Arábicas, antes, Moçarábicas.
Ambos esses acontecimentos, crónica hagiográfica posterior às visões de pessoas anciãs, que é dizer, de juízo formado, serviram para publicitar o privilégio da “descoberta” do Santuário eleito pela Senhora, isto é, o seu enquadramento no Cristianismo, ou melhor, a aceitação e oficialização pelas autoridades eclesiásticas da Igreja Católica do Culto Mariano aí levado a efeito pelo Povo desde, quiçá, muito antes da Nacionalidade, como narra a primeira das três lendas (duas já estão narradas, a do Nauta S. Brandão e a dos velhos romeiros de visões comuns) do Cabo Espichel, cuja origem poderá remontar ao Período Moçárabe, apesar do seu forte e, quiçá, acrescido sabor Carmelitano. Diz ela:
“Conta a lenda que na venturosa noite em que a Virgem Mãe deu à luz o Menino Deus, a Serra da Arrábida foi coberta por um clarão extraordinário, que iluminou por completo o Promontório Barbárico (Cabo Espichel). Viu-se então uma enorme nuvem, cheia de resplendores, a qual, como se fora o Sol no seu declínio, foi cair nas águas revoltas do oceano (Stella Maris), onde se sumiu (…).”15
Segundo documentação reservada na Biblioteca Nacional de Lisboa, a oficialização do Círio terá tido início cerca de 1430, “21 anos depois do aparecimento da milagrosa imagem”,16 presume-se por acordo tácito popular, tendo sido canonicamente organizado com o tempo: a Bula Apostólica confirmada em 15 de Maio de 1585, aprovada por Provisão do Cardeal Arcebispo de Lisboa, em 19 de Setembro de 1697, estabelecia que não se criaria aos romeiros “algum impedimento em os caminhos ou passagens de mar ou Carreiros, Almocreves, Barqueiros e mais pessoas que os servirem pelo Meirinho dos Clérigos ou outras justiças”. O ano de 1606 será o da instituição da Confraria de Nossa Senhora do Cabo, estando o seu compromisso datado de 1672, aquando os “Giros” já se efectuavam há largo tempo.17 Foi pouco depois dessa última data que D. Pedro II mandou construir a Catedral de Santa Maria de Mua, com terreiro (arraial) anexo debruado de casas sobre arcaria, para alojar os romeiros. Também D. José I e D. João VI mandaram fazer importantes obras aí.
O Círio Popular dos Saloios à Senhora de MU inclusive chegou, cerca de 1849 e pela pompa que a Realeza lhe devotou, a ser chamado de Real Círio dos Saloios, pois a fama de que goza advém sobretudo da protecção que a Coroa lhe dispensou. Com efeito, a rainha D. Carlota Joaquina confeccionou o manto riquíssimo (Caparica – analogia com o Véu ou Manto de Ísis) que revestiu a Imagem do Santuário, tendo antes disso o rei D. José I e a rainha D. Maria I oferecido à Confraria do Cabo a bandeira com a imagem de Nossa Senhora bordada a ouro, bem como a monarca D. Maria Pia oferecido, em 1887, a bandeira que os “anjos” usaram no Círio desse ano.
O Círio Real dos Saloios ainda resplandecia de importância no último quartel do século XIX, em todas as freguesias do Termo por onde ele girava. Tal era acompanhado da maior assistência aos romeiros. É como diz Luís Chaves18: “Hia antigamente ao Sítio do Cabo no Círio do Termo ou dos Saloios, hum cirurgião da Caza-Real, por conta do Infantado, e levava uma Botica (“Farmácia”) volante para acudir aos Romeiros em cazo de necessidade”.
Círio é a Vela consagrada pela devoção comum a um Orago único, no caso Santa Maria qual expressão do Espírito Santo sobre o Oceano da Vida, tornado votivo e itinerante qual seja a identificação gradual com o Divino em lugar prévia e tradicionalmente sagrado. No fundo, o Círio não deixa de ser Peregrinação, e Peregrinação é sempre, não importa se consciente ou inconscientemente, uma Iniciação, neste caso, Iniciação Hipertúlica da etnia Saloia, esta que,
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15) J. Raposo Botelho, ob. cit., pp. 6/7.
16) B.N.L., Memórias, cod. Pombalina 98.
17) Francisco Sousa, O Círio dos Saloios a Nossa Senhora do Cabo. In Aspectos Religiosos e Profanos das Festas Populares em Loures, Museu Municipal de Loures, 1993.
18) Luís Chaves, O Archeologo Portuguez, 21, 70 – 1916.
acaso, não se gosta à primeira, vai-se aprendendo a gostar… Hoje mesmo ela é a nata do Povo, simples e rude, mas sincero e bom, sempre acreditando nas boas intenções de “seus senhores”, esses “mandantes lá de Lixbôa” que, desgraçadamente, acabam esquecendo a palavra dada com muitíssima mais facilidade que a capacidade de hoje separar o rural do citadino. De maneira que ambos sofrem na mesma medida!…
O Giro do Círio à Senhora da Pedra de Mua tinha como cabeça dele a Freguesia de Belas, onde os procuradores se reuniam impreterivelmente a 25 de Março de cada ano para prestar contas e realizar eleições para os novos cargos. O prior de Belas era o juiz executor e o de Barcarena o seu tesoureiro perpétuo. Inicialmente o Giro compunha-se de 30 Freguesias do Termo dos Saloios, mas após o 10.º Giro 4 delas resolveram abandoná-lo: Bucelas (1709), Unhos (1711), Arranhó (1716) e Mafra (1722), ficando as restantes 26, número que se mantém até hoje.19 Vejamos a sua ordenação:
1 – S. Vicente de Alcabideche
2 – S. Romão de Carnaxide
3 – S. Julião do Tojalinho
4 – S. Pedro de Penaferrim de Sintra
5 – Nossa Senhora da Misericórdia de Belas
6 – Santa Maria de Loures
7 – S. Lourenço de Carnide
8 – Nossa Senhora da Purificação de Bucelas
9 – S. Pedro de Barcarena
10 – S. Pedro de Lousa
11 – S. Silvestre de Unhos
12 – Santo Antão do Tojal
13 – Nossa Senhora da Purificação de Oeiras
14 – Nossa Senhora do Amparo de Benfica
15 – S. Domingos de Rana
16 – S. João das Lampas
17 – S. Lourenço de Arranhó
18 – Nossa Senhora da Purificação de Montelavar
19 – Nossa Senhora de Belém de Rio de Mouro
20 – Nossa Senhora da Ajuda de Belém
21 – Ascensão e Ressurreição de Cascais
22 – Santíssimo Nome de Jesus de Odivelas
23 – S. Martinho de Sintra
24 – Santo André de Mafra
25 – S. Pedro de Almargem do Bispo
26 – Santo Estevão das Galés
27 – Nossa Senhora da Conceição da Igreja Nova
28 – S. João Degolado da Terrugem
29 – S. Saturnino de Fanhões
30 – Santa Maria e S. Miguel de Sintra
Nos primeiros tempos do Círio, a passagem de testemunho de uma Freguesia do Giro a outra, era feita no próprio Santuário do Cabo e concretizada através da entrega da bandeira da Confraria pelo juiz da Freguesia que sai ao juiz da Freguesia que entra. Saliente-se que, tendo em conta o número de Freguesias participantes no Giro (26), cada uma delas só festeja a Senhora do Cabo de 26 em 26 anos. No ano de 1751 foi essa bandeira substituída por uma imagem da Virgem feita à semelhança da original – que nunca saiu do Santuário – e que a partir dessa data começou a acompanhar os Círios.
Inicialmente a procissão do Círio organizava-se segundo uma coreografia de cortejo, que abria com um friso de anjos, seguindo-se a música e os carros enfeitados transportando os romeiros – o que se ajustava a um ludismo que, situado na transição do popular folclórico para o ritmo sagrado, orientava a função colectiva para os Mistérios Iniciáticos.
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19) Vitor Manuel Adrião, Introdução à Portugalidade. Academia de Letras e Artes, Cascais, 2002.
Em 1893 e devido à pouca afluência de romeiros ao Cabo, foi necessário tomar novo compromisso, onde se consignou que os festeiros se limitariam a levar a Imagem peregrina de Freguesia em Freguesia sem deslocação ao Cabo Espichel, e só quando chegasse a vez da última Freguesia do Giro – St.ª Maria e S. Miguel de Sintra – todas elas iriam em procissão ao Santuário de Mua e aí seria entregue a Imagem aos festeiros da primeira Freguesia – Alcabideche -, recomeçando assim um novo Ciclo ou Giro – o que se enquadra naquele princípio teosófico do Terceiro Logos Criador das Rondas e Cadeias dos Planos de Matéria e peregrinando por elas, evoluindo e fazendo evoluir os seus seres viventes. O facto é que, desde essa data a Imagem peregrina nunca mais voltou ao Cabo, verificando-se assim uma adulteração do ritual primitivo, por ela passar directamente de Freguesia para Freguesia, após 26 anos de ausência. Foi também nessa altura que se perdeu o hábito dos procuradores dos vários Círios se reunirem em Belas, no já referido dia 25 de Março de cada ano, para aí serem prestadas as contas.
Em 1910 e logo a seguir à promulgação da lei separativa do Estado e da Igreja, foi assaltada a igreja-matriz de Alcabideche onde se encontrava a Imagem, provocando-lhe vários danos. A este facto sucedeu um interregno de 15 anos nos festejos a Nossa Senhora do Cabo, que recomeçaram em 1926, tendo sido Odivelas a primeira Freguesia a reclamar a Imagem tomando a iniciativa de a ir buscar à Ressurreição de Cascais, para onde fora recolhida do vendaval carbonário ou jacobino,20 tanto valendo por um executar o que o outro ordenava, e assim o Círio do Santíssimo de Odivelas suscitar a retoma do Giro.
Depois disso as romarias continuaram, mas já destituídas da grande pompa que detinham outrora, até que foram uma vez mais interrompidas, desde 1976 a 1979.
Até finais do século XIX o Círio durava cinco dias.21 Saía da Freguesia que tinha a Imagem da Senhora na terça-feira que antecedia a Ascensão (40 dias após a Páscoa: quinta-feira da Ascensão ou da Espiga), indo depositar a Imagem na Capela de Nossa Senhora das Dores, em Belém. No dia seguinte atravessava o Tejo, enquanto as fortalezas davam salvas de 21 tiros, desembarcando de galeotas e bergantins da Casa Real em Porto Brandão (que herda o nome do Santo da lenda descrita pelo supradito Frei Agostinho de Santa Maria).
Uma vez em terra, o cortejo reorganizava-se, fazendo paragem na Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Daí seguia para a Ermida de Nossa Senhora do Cabo na Banática e para a homónima da Caparica (Quinta da Piedade de Domingos da Costa e Almeida, antiga propriedade de meus familiares), seguindo para o Cabo Espichel pela beira-mar, ao longo do areal. Os romeiros costumavam chegar ao Cabo na véspera da Ascensão, entrando o cortejo no terreiro e dando três voltas a este, antes de se dirigir para o interior do Santuário.
Os festejos iniciavam-se nessa quinta-feira, dia consagrado, com missa de Requiem, aos festeiros falecidos. No sábado havia solenidade consagrada a S. Joaquim (aludido pai da Virgem Maria) e no domingo acontecia a festa que faziam os que entregavam a imagem de Nossa Senhora. Nesse dia, à tarde, realizava-se a procissão, na qual se incorporavam os festeiros dessa Freguesia e da que ali a iam receber. Seguia-se-lhe a entrega da bandeira, no interior do Santuário, com Te Deum, Ladainha e Sermão. Os festeiros que entregavam, mais o respectivo prior, o juiz com a bandeira e três anjos todos se colocavam do lado direito do altar-mor, e os que recebiam do lado esquerdo. O Mestre de Cerimónias, que era o prior do Santuário, tirava a capa de
asperges dos ombros do prior da Freguesia que entregava, pondo-a nos do que acompanhava a que recebia. Ao entregarem o Círio os festeiros passavam todos para o lado esquerdo do altar. Concretizada a entrega era-lhes oferecido um copo de água (tradição que teve início, segundo Ribeiro Guimarães,22 apenas em 1752), ao qual sucedia a entrega das alfaias, lavrando-se acta do sucedido, assinada por todos os presentes. Conservavam-se os festeiros no local até a segunda-feira seguinte, dia em que ocorria o regresso.
Depois da travessia do Tejo para Belém iniciava-se a caminhada para o respectivo destino, para a Freguesia de eleição do Giro. Abria uma força de Cavalaria, de imediato o carro do Fogo, seguido pelos juízes com a bandeira e acompanhantes, mais os ternos de chamarelas e três anjos
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20) Vitor Manuel Adrião, Dogma e Ritual da Igreja e da Maçonaria. Dinapress Editores, Lisboa, Setembro de 2002.
21) Manuel Joaquim Gandra, ob. cit.
22) Ribeiro Guimarães, Summario de Varia Historia. Lisboa, 1872.
a cavalo, vestidos de soldados romanos. A Imagem peregrina era conduzida na sua berlinda puxada a duas parelhas, ladeadas por doze devotos com as tochas acesas. Após ela os carros triunfal dos anjos das loas, do padre, dos procuradores, uma galera que levava a música e o habitualmente longo cortejo com a multidão dos festeiros.23
Houveram oito Freguesias que não foram abrangidas pelo compromisso Seiscentista,24 as quais organizaram os seus próprios Círios a Nossa Senhora do Cabo Espichel: Lisboa (terceiro domingo após o Espírito Santo), Seixal e Arrentela (2.ª oitava do Espírito Santo), Almada (domingo da Trindade), Palmela (15 de Agosto), Azeitão e Sesimbra (primeiro domingo de Setembro). Os Círios organizados na Costa da Caparica possuíam uma organização semelhante à do Giro das Freguesias do Termo de Lisboa. A Freguesia era dividida em 4 Varas: 1.ª – Monte da Caparica (onde vivi nove meses e fiz a 1.ª classe da primária escolar, cuja igreja da Capa Rica guarda, como quer a lenda, um tesouro, encobrindo igualmente o segredo que lhe dá acesso – são observáveis dois retábulos azulejares os quais, significativamente, têm por tema o Dilúvio Universal) e Porto da Caparica (Porto Brandão, onde, também infante, ia morrendo afogado e sem ninguém próximo para dar a mão de socorro, contudo “força misteriosa” ou “mão de anjo caritativo” empurrou-me para terra seca. São coisas que não se esquecem…); 2.ª – Trafaria; 3.ª – Costa da Caparica; 4.ª – Sobreda, as quais se revezavam anualmente na organização do Círio e na manutenção da bandeira numa ermida própria até à festa seguinte.25
Hoje, tudo mudou e muito. Os usos e costumes, sem dúvida. A Fé, acaso não. Como também não as Freguesias do Giro, e assim também o Santuário do Círio do Termo dos Saloios.26 Ele lá está, solitário e solene, debruado sobre o Mar Atlântico lavrando as escarpas de MU.27 Nada falta, em remate final, para devolver à Solenidade Litúrgica a pompa mais que justificada merecida de outrora, não faz muito tempo, e que era prova tamanha da unidade social portuguesa reunida em torno de uma única Fé, de uma única Mãe: Santa Maria dos Saloios, de Espichel, de todo o Portugal que é dele este dia.28
Honra e Glória, pois, à Pátria Amada que nos é berço, Portugal, e a todos quantos, no rolar dos séculos idos, votando nos do Porvir, fizeram as suas Grandezas que tão bem e imortalmente a Musa de Camões soube cantar cujo eco abrasa o coração e empolga a mente. Portugal das Armas, Portugal da Fé, Portugal das Letras, Portugal do Povo que não tem casta e que é todo o Português no Mundo da nossa Diáspora. Morrer a Ideia e a Pátria, jamais! Transformar e Evoluir a Ideia e a Pátria, sempre!
Com esta Oração, tenho dito.
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23) Olegário Paz, Loas a Nossa Senhora. In “Jornal de Sintra”, 12 de Setembro de 1986. Pinharanda Gomes, O Carmo em Loures. Comunidade Paroquial de Santo António dos Cavaleiros, Loures – 1979. O Trabalho e as Tradições Religiosas no Distrito de Lisboa, Exposição de Etnografia, Governo Civil de Lisboa – 1991.
24) Frei Cláudio da Conceição, Memórias Prodigiosas de Nossa Senhora do Cabo, Lisboa, 1817.
25) Conde dos Arcos, Caparica através dos séculos. Cacilhas, 1974.
26) Diogo Francisco de Piedade e Costa, História de Nossa Senhora do Cabo. Lisboa, 1899.
27) Frei Agostinho de Santa Maria, Santuário Mariano, t. 2, liv. II, tit. 34, pp. 348 – 353. Lisboa, 1707.
28) Tanto o Círio à Virgem Negra de Mu – secundado pelo outro à Virgem Negra da Nazaré, cristianizados ambos por possível influência da Ordem do Templo – como a Festa Popular do Império do Divino Espírito Santo, celebrações Molhada e Seca, Costeira ou Marítima e Interior ou Campestre, não raro esta assumindo aquela, e vice-versa, assim justificando o aparelhamento de “Sol e Lua” adiante de Terris et Maris Nostrum, com efeito não deixam de correlacionar-se à influência solene e suprema, num misto de velada e patente, da Soberana ORDEM DE MARIZ em todo o Portugal, em toda a Portugalidade, que é dizer em todo o Mundo de expressão Portuguesa do qual é a mais bela Jóia o BRASIL bojo do Futuro da Humanidade.
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