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Freiras Bernardas da Ordem de Cister no Convento de S.Dinis em Odivelas.
O Mosteiro desde sempre foi habitado por nomes relevantes na História de Portugal, desde o seu fundador D. Dinis às próprias madres que ali se encontravam enclausuradas, directa ou indirectamente viram os seus nomes figurar entre os nomes dos nobres mais relevantes da História Portuguesa.
” A este mosteiro estão associados nomes de figuras históricas, além dos seus fundadores, D. Dinis e D. Isabel de Aragão.”
Nomes como D. Filipa de Lencastre que viria a falecer no mosteiro em 1415 rodeada pelos infantes D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique antes da partida para Ceuta. A princesa Santa Joana irmã de D. João II, foi moradora do convento durante alguns anos.
A maioria das monjas que habitavam o convento eram de origem nobre “Muitas das monjas que aí se fixaram”…”pertenciam à nobreza”…
” Por muitos séculos gozou fama de viveiro de santidade este Convento …, onde monges e monjas bernardas conviveram, ainda que separados pelo regime de clausura, particamente até ao reinado de D.João I.”
In “ode a Loures ( Monografia Histórica) de Vitor Manuel Adrião
No entanto a “santidade” do local foi sofrendo alterações uma vez que a maioria das suas habitantes se encontrava ali enclausurada não por vocação mas por imposições sociais.
” As residentes desta casa forma filhas de nobreza, senhoras que não casavam por não disporem de bens, quando a familia não lhes atribuía um “dote”. Como é sabido, a herança não era repartida pelos filhos e transitava integralmente para a posse do primogénito, daí que os restantes irmãos, sendo varões, uns seguissem a vida eclesiástica, outros abraçassem a vida militar e as raparigas, quando não eram prometidas em casamento a algum nobre, recolhiam-se à sombra protectora dos mosteiros, enriquecidos com as doações dos reis e dos nobres, para aí levarem vida segura, em termos económicos. O mosteiro de Odivelas serviu para recolher as filhas da classe dominante.”
In “O Mosteiro de S. Dinis de Odivelas”
No século XVII já estava instalada no Convento “a liberdade de costumes e a moral do prazer “.
“No tempo de el-Rei D. João V este convento criou muito má fama, por causa dos escandalos das freiras com os fidalgos seus amantes e com o próprio rei, a quem chamavam de freirático (“Aliás dizia-se de D. João V que era tão religioso que todas as suas amantes eram freiras.”) que era assíduo frequentador do convento, entretendo amores com algumas freiras, de quem teve filhos, com especialidade da célebre Madre Paula , de quem também houve um filho, D. José, um dos “meninos de Palhavã”(Para quem o rei mandou construir o palacete de Lisboa onde hoje está instalada a Embaixada de Espanha.).”
In “O mosteiro de S. Dinis de Odivelas” texto retirado de Dicionário História Cronológica – Vol. V Lisboa 1911
Mas houve outras madres e abadesas que fizeram do Convento um motivo constante de escandalo e um tema próprio de andotas.
Entre os manuscritos da Biblioteca Nacional, conserva-se uma lista de 20 freiras condenadas no reinado de D. João V por delitos amorosos, lista que servio a Camilo Castelo Branco para o enredo do seu romance “A Caveira da Mártir”. Freiras como D. Ana de Moura a quem D. Afonso VI “o rei seco” prometera fazer rainha, encarregaram-se de fazer do convento o seu ninho de alcova.
No entanto, nem todas as monjas se dedicavam à “devassidão monacal” caso de D. Filiciana de Milão que entrando para o clausura por vocação oponha-se vivamente ao modo de vida das suas iguais incluisivé apontando o “romance” de D. Ana Moura e D. Afonso VI sobre o qual escreveu.
“D. Feliciana de Milão viveu entre 1642 e 1705, dizendo dela as crónicas que “Não foi mulher banal, nem mesmo uma freira vulgar”.
No entanto do convento ficou mais a má-fama que das “flores virtuosas que perfumaram com raro talento e mimo as Artes e Letras portuguesas, ali mesmo em pleno Convento.”
Madre Paula
Madre Paula (Paula Teresa da Silva) viveu no Convento de Odivelas de 1701 a 1768 encontrando-se sepultada na casa do capítulo. Talvez tenha sido a freira mais conhecida do mosteiro. amante do Rei D. João V a quem deu um filho D. José um dos “meninos de Palhavã”
” A Madre Paula era chamada de ” Trigueirinha”, ao que ela um dia respondeu com uma quadra que passou ao domínio público:
Chamaste-me trigueirinha
Eu não me escandalizei,
Trigueirinha é a pimenta
E vai à mesa do rei!
verdadeiramente o rei é que ia à sua mesa, ali em Odivelas!”
A Casa da Madre Paula
Os aposentos de Madre Paula nada tinham a ver com a ordem que professava uma vez que a Ordem de Cister estipulava o despojamento. ” A Casa de Madre Paula, com dois pisos e um mirante no cimo, foi feita sobre a Sala do Capítulo, tornejando para a Torre. A descrição do interior dos seus aposentos, está reimpressa em várias obras. As divisões eram, pelo menos quinze, ricamente mobiladas e luxuosamente adornadas, com predominio do ouro, da prata, dos cristais de Veneza e da Boémia, dos móveis de chorão e tapeçaria de smyrna. Por isso lhe chamavam “um palácio oriental” dizendo-se que era a casa mais rica do mundo.” no entanto e como o mosteiro tinha visitas frequentes de visitantes de Alcobaça “havia um modesto cubículo a que se dava o nome de cela da Madre Paula” e os “visitadores de Alcobaça fingiam ignorar estes (subtuosos) aposentos de D. Paula.”
In “O Mosteiro de S. Dinis de Odivelas” texto retirado de ” O Mosteiro de S. Dinis de Odivelas ” de Virginia Paccetti.
Escritos de D. Feliciana de Milão que fez a D. Afonso VI sobre o elavo com D. Ana Moura.
“Me Monarca, vosso amor,
e vosso emleyo amorozo
tanto tem de primoroso
quanto de Rey, e Senhor;
mas inda assi cauza dor,
e naõ com pouca razaõ,
uer que esta uossa affeiçaõ
motivo tem que a desdoura,
poes adoraes huã Moura
sendo uos hum Rey chistaõ.
Freira podereis achar
discreta que possa ter
fee para uos merecer
discriçaõ para agradar;
isto naõ he enuejar
essa mais que ditosa Anna;
que ainda que Soberana
tam endiozada está,
Anna felice será,
mas nunca Feliciana.”