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Chamava-se Filipa de Lencastre, viveu em Odivelas e está sepultada na sacristia da igreja do mosteiro de S. Dinis.
Era neta do Rei D. João I e da Rainha D. Filipa de Lencastre. Era filha do Infante D. Pedro, “o das sete partidas”, como se dizia, querendo com isso referir as muitas viagens que realizou pela Europa e nas quais obteve muitas informações que transmitiu a seu irmão, o Infante D. Henrique, o “Navegador”.
O Infante D. Pedro governou Portugal, como Regente do Reino, durante a menoridade de D. Afonso V. Quando este atingiu a idade de governar, o seu tio entregou-lhe o poder. Por não ter satisfeito, enquanto regente, as ambições de alguns nobres, acercaram-se estes do jovem Rei e teceram as mais vis intrigas contra o Infante D. Pedro, que além de ser tio do novo monarca, era também seu sogro. Os amigos e familiares do Infante foram perseguidos e deu-se mesmo um confronto entre ambos – a batalha de Alfarrobeira, onde D. Pedro perdeu a vida. A Rainha, sua filha, faleceu muito nova, com 23 anos e há a suspeita de ter sido envenenada.
Mas não é da Rainha que eu quero falar hoje, mas sim da sua irmã, a Infanta D. Filipa de Lencastre.
Pelo seu elevado nascimento, (prima em 1.ºgrau, do rei D. Afonso V e irmã da rainha sua esposa), estava destinada a ocupar uma elevada posição e para isso foi educada primorosamente. Não aconteceu como seria natural, porque a ambição de uns, a inveja mesquinha e a maldade de outros, lhe desviou o percurso de vida. Morto o seu nobre pai, toda a família foi vítima de injustiças e perseguições, não se salvando sequer a rainha, Isabel de seu nome. Por isso, a Infanta D. Filipa se afastou da Corte, vindo acolher-se à sombra protectora da Ordem de Cister. A clausura contudo, não foi a sua escolha. Nunca fez votos, não quis ser freira. Viveu em casa própria, junto ao mosteiro, desde 1459 até 1475. Aqui se dedicou a educar sua sobrinha, a Princesa Santa Joana, até que ela decidiu ir para o convento de Aveiro. Afirmam alguns historiadores que o Príncipe, futuro Rei D. João II, recebeu dela muitos ensinamentos. Na verdade, este monarca continuou a política governativa do Infante D. Pedro seu avô e não a do Rei seu pai, D. Afonso V.
No ano de 1475, com autorização do Papa, entrou no mosteiro, não como freira, mas apenas com o estatuto de recolhida, condição que era permitida nesta casa e que algumas senhoras preferiam. A partir desse ano dedicou-se inteiramente às letras, redigindo alguns trabalhos e fazendo traduções de obras religiosas. Em 1490 empreendeu uma peregrinação a Santiago de Compostela, tendo feito desvios para visitar lugares sagrados, onde deixou generosas dádivas.
São conhecidas as opiniões desta Infanta, em questões de interesse público.
Não aprovou a resolução de D. Joana, de fazer votos perpétuos na vida monástica. Tal como os representantes das três classes reunidos em Cortes, declararam, achava que era dever da Princesa constituir família e dar herdeiros à coroa. E claramente lho fez saber, visto ocupar Joana o 2.º lugar na linha da sucessão.
O Rei D. João II pediu o seu parecer em questões políticas, não se escusando ela a responder por escrito e com toda a clareza, ao que lhe era colocado. Eram tão bem fundamentadas e tão esclarecidas as suas opiniões, que alguns cronistas acharam por bem publicá-las.
Faleceu a 11 de Fevereiro de 1493.
Por testamento desse mesmo ano, deixa ao mosteiro de Odivelas “o casal ventoso”, (que é hoje o Chapim), a quinta da Barrosa (Codivel) com seu moinho, duas quintas no Orneiro, um casal em Bolores, e todos os seus livros.
Residiu 34 anos em Odivelas.
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