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“ Se Aquilino Ribeiro fosse vivo, seria ele a receber o prémio Nobel da literatura.” Isto afirmou José Saramago, quando lhe foi atribuído o prémio Nobel. É o maior elogio que se pode fazer a um escritor, sobretudo vindo de um outro escritor da mesma língua, galardoado com o mais elevado prémio a nível mundial.
O País prestou homenagem a Aquilino Ribeiro. Os seus restos mortais repousam agora no Panteão Nacional, junto dos túmulos de outros escritores de grande mérito – Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Guerra Junqueiro e João de Deus .
Prestámos-lhe uma justa homenagem, mas a melhor homenagem que lhe podemos prestar é, sem dúvida, lermos os livros com que ele enriqueceu e valorizou a língua portuguesa e que escreveu para nós.
O que mais me agrada nos textos de Aquilino é a utilização de expressões e termos genuinamente portugueses a que ninguém tinha dado ainda as honras da palavra escrita. Os temas são sempre temas portugueses, falam da nossa gente, das suas vidas e dos seus comportamentos. Confronta-nos, a maior parte das vezes, com os nossos defeitos, mas não deixa de destacar a nossa criatividade para resolvermos problemas que à primeira vista parecem insolúveis.
E se a sua prosa tem, por vezes, um vigor quase rude, quando o tema é a vida rude do mundo rural, ela tem a virtude da autenticidade que brota de um homem que nunca pactuou com regimes ou com interesses instalados, que não embrulhava as suas críticas em doces palavras, preferindo ser acutilante e duro, mas leal e verdadeiro, que não dizia o que era politicamente correcto, mas tão só e apenas, o que o seu pensamento, a sua consciência, o seu sentido de liberdade e a ética lhe ditavam.
Aquilino Ribeiro nunca se ajoelhou diante do poder dos homens. Preferiu, sempre, ficar de pé e é, também por isso, que hoje repousa no Panteão Nacional.
E se muito admiro o escritor, muito respeito o homem de carácter íntegro, cujos dotes nunca será demais destacar e enaltecer, apresentando-o como uma referência.
Na obra de Aquilino Ribeiro é visível o sentido de dignidade e o respeito do autor por si próprio, que deriva da sua coerência.
Preferia perder com honra, a vencer com desonra. O caminho da desonra é sempre um mau caminho. Não compensa, mesmo que conduza à vitória.
Não podemos esperar que todos tenham a sua coragem, mas podemos desejar que o igualem em integridade, pois é isso que torna as pessoas respeitáveis. Ninguém espere o respeito dos outros se, em primeiro lugar, não se respeitar a si próprio.
Era seu lema, “alcança, quem não cansa” . De facto ele alcançou o reconhecimento do seu valor e a nossa admiração, porque nunca se cansou de combater o servilismo, a corrupção, o oportunismo, a burla e o logro, a injustiça, a hipocrisia, a incompetência, a mesquinhez, a falsidade, a prepotência, a covardia. E esse combate de uma vida plena, continuou para além dela, porque ficou na sua obra. A prova do que afirmo aí está em todos os seus livros, leiam-nos e hão-de constatar que valeu a pena.
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