Este conteúdo é Reservado a Assinantes
O edifício que é hoje a sede da Câmara Municipal, em Odivelas, era um complexo habitacional composto de casas nobres, capela e alojamentos para os “servidores” que garantiam aos seus proprietários todo o trabalho na quinta e ainda o serviço doméstico.
O brasão que assinala a entrada principal leva-nos a admitir que a construção das casas nobres se deve a D. Rodrigo de Moura Teles, arcebispo de Braga entre 1703 e 1728.
Pertencia a famílias nobres. Era filho do 2.º conde de Val de Reis e capitão general do Algarve, Nuno de Mendonça e da condessa D. Luísa de Castro e Moura. O brasão, adornado com as insígnias de arcebispo, é dos Moura.
D. Rodrigo nasceu em 1644. Estudou em Coimbra, e doutorou-se em Direito Canónico, vindo a ser Reitor em 1694. Desempenhou inúmeros cargos na corte e foi bispo da Guarda antes de ser sagrado arcebispo de Braga.
Por toda esta Diocese se encontram edificações atribuídas à sua iniciativa, como por exemplo a capela de S. Geraldo na Sé, onde está sepultado, a capela do Sacramento, no Paço Episcopal, a casa da Relação, a casa do Provisor, o Aljube, além de várias capelas em Braga e nas localidades da sua jurisdição, mas a sua maior obra foi o Bom Jesus do Monte.
Mandou, ainda, restaurar as torres da Sé Catedral, bem como o órgão.
Curioso é o chafariz construído no largo em frente ao Paço Episcopal. É obra de D. Rodrigo e o que o torna único é ter a configuração de uma fortaleza e ostentar os sete
Castelos que são o ex-líbris da família Moura.
Os projectos das obras de D.Rodrigo de Moura Teles, na cidade, eram da autoria do Coronel de Engenheiros, Manuel Pinto Vilalobos. Admito que tenha tido alguma intervenção nas obras da Quinta da Memória.
As casas desta quinta foram residência temporária dos seus sucessivos proprietários.
Entre 1742 e 1744 ou 1747, a Condessa deu aqui alojamento a Frei António dos Santos, durante o tempo em que se ocupou da construção do monumento do Senhor Roubado.
As Memórias paroquiais de 1758 referem-se à Quinta da Memória, de que era dono, nessa época, o Conde de Santiago, Aposentador – Mór, dizendo que tinha árvores de “fruta de caroço e de espinho”, oliveiras, vinha e terras de cultivo.
A sua extensão ia da Memória até ao ponto “onde o rio da Costa” se encontra com a ribeira de Odivelas. O Livro das Décimas de 1763 informa que, nesta propriedade, existiam casas nobres, (não deixando margem para dúvidas), que foram concluídas e habitadas.
Pelo que as ruínas do espaço exterior nos indicam, havia um jardim, o que era comum nessa época, e desse jardim existe ainda, quase destruída, uma construção semi cilíndrica, de pedra miúda, que eu acredito ter sido o que chamavam “casa de fresco”, lugar onde se recolhiam, estando no jardim, em horas de calor. Admito ainda, que poderia também ter sido uma fonte. Nas quintas que desse tempo se conservam, poderemos constatar a sua existência.
Reconstruir esta fonte, ou casa de fresco, só acrescentaria valor ao edifício dos Paços do Concelho. Ainda se podem observar os restos das canalizações que ali conduziam a água. É sempre de aplaudir a conservação do património, sobretudo quando tem qualidade, como é o caso destas edificações, que eram parte integrante dos jardins, e estes, parte integrante das casas de arquitectura nobre. Esta é a razão pela qual defendo a reconstrução desta fonte.
Não quero terminar sem dar mais uma informação: a capela era dedicada a Nossa Senhora da Conceição.
Na sacristia da igreja matriz, existe uma imagem de arte indo-portuguesa do século XVI, que só pode ter vindo da capela da Quinta da Memória. É N.ª S.ª da Conceição.
O Senhor Conde de Santiago, tinha muitas outras propriedades agrícolas em Odivelas, e era o maior proprietário, seguido dos Miranda Henriques, senhores da quinta de Nossa Senhora do Monte do Carmo e ainda de outras terras, como se pode verificar no Livro das Décimas de 1763.
Maria Máxima Vaz
________
Proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos apresentados, sem licença do autor.