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Desde que Napoleão determinou, sem sucesso, o bloqueio internacional, consubstanciado no fecho de portos marítimos à navegação inglesa, bem como a imposição dos veículos com tracção animal circularem em sentido inverso aos ingleses (o que explica a razão porque conduzimos pela direita e os ingleses pela esquerda), só para “chatear” os súbditos de sua majestade, que as sanções internacionais, raramente produzem os efeitos pretendidos por quem os impõe.
Registo que as sanções quiçá mais antigas em vigor são as que foram impostas a Cuba pela administração Kennedy. A resposta de Fidel Castro a essas sanções foi “Pátria ou muerte”.
No ranking das sanções mais antigas ainda em vigor, talvez as que os EUA impuseram ao Irão, se posicionem em segundo lugar, igualmente sem sucesso, como se tem visto.
Logo a seguir, penso não andar longe da verdade se disser que em terceiro lugar estará a Coreia do Norte, que apesar de tudo tem vindo a desenvolver um arsenal nuclear assustador, ainda que o seu povo passe as maiores privações.
A África do Sul, durante o famigerado regime de “aparthaid”, durante o qual empresas portuguesas na área dos congelados, aproveitaram para fazer bons negócios, com o peixe congelado, que mais não é do que vender água, a preço de peixe.
Hoje assistimos à novela das sanções impostas pelo mundo ocidental à Federação Russa, uma potência nuclear, militarmente ombreando com os EUA, mas economicamente semelhante ao Brasil, embora seja um gigante na produção e exploração de alguns recursos.
O impacto na economia Russa parece óbvio, e num primeiro momento o Rublo, sua moeda nacional teve uma depreciação brutal de 80%.
As autoridades Russas suspenderam de imediato a respectiva bolsa de valores.
A moeda própria é um recurso poderoso para qualquer país, mas também o seu calcanhar de aquiles.
E quando se consegue impor uma divisa como moeda
principal nas trocas comerciais mundiais, e exclusiva no mercado do petróleo, como é o caso do Dólar americano, a credibilidade e a segurança vêm por arrastamento.
Qualquer ameaça a esta hegemonia é eliminada sem apelo nem agravo. A “Primavera Árabe” (revoluções que depuseram ditaduras em África, para dar lugar ao caos) aconteceu, curiosamente, depois de Kadaffi ter defendido eliminar o dólar americano nas transações petrolíferas, instando os seus parceiros na OPEP a avançar para esse desiderato.
Se no principio o dólar tinha respaldo no padrão ouro, depois de Breton Woods, deixou de ter essa paridade, e a impressora dos dólares não pára.
Na Europa, o “Euro” escorou a sua credibilidade e segurança na pujança das várias economias europeias que o sustentam.
Medidas extremas, podem facilmente estilhaçar a credibilidade e a segurança de uma divisa, por mais forte que seja.
Surpreendentemente o Rublo, já recuperou o seu valor anterior ao dia 24 de Fevereiro de 2022, a economia da Federação Russa, ao fim de mais de 1 mês de sanções não apresenta as dificuldades que se esperava, com as sanções.
Como é possivel ? Desde logo porque o Banco Central da Federação Russa determinou uma paridade no padrão ouro, ou seja 1gr de ouro equivale a 5 rublos. As reservas de ouro russas fixam a paridade do padrão ouro, e a divisa ganha músculo.
Depois em matéria de trocas comerciais, os paises que não acompanharam as sanções do ocidente representam mais de 3/4 da população mundial, ou seja potenciais consumidores.
Por outro lado, e ao nível energético parece que foram já firmados acordos de permuta, dispensando divisas, que é como quem diz, dispensado dólares e euros.
Um aspeto pouco valorizado com as sanções foi que muitas marcas cujo negócio acenta no “franchising”, e que saíram do mercado Russo, não afectaram esse mercado, porque o negócio vai continuar embora com outros nomes e marcas. Ora quando sabemos que o “franchising” vive dos royaltis pagos pelo franchisado, que agora deixa de pagar, convertendo-se em receita própria, e que os produtos tinham de ser adquiridos ao master franchising, agora são adquiridos localmente, percebe-se facilmente que os 850 franchisados da Mac Donalds na rússia, ficam a lucrar muito mais, na directa proporção que a MacDonalds americana perde.
Isto sucede com todas as marcas que estavam na Rússia e que se afastaram devido ás sanções. Os prejudicados das sanções são os patrões ocidentais. Por essa razão há marcas que se recusam a sair, desobedecendo ás sanções.
Uma consequência directa e proprocional das sanções, é o quebrar da credibilidade e da segurança do dólar e do euro, devido ao congelamento de activos russos no ocidente.
Os grandes capitais que assentavam praça nos bancos ocidentais, ficam agora receosos de um dia virem a ter esses activos congelados … lá se vai a credibilidade e segurança, porque o que está a acontecer com estas sanções é bem o exemplo do que pode acontecer a qualquer um. Obviamente a resposta vai ser uma fuga macissa para outras “praças” mais seguras.
Por essa razão é que o Dubai, Catar, Omã, Estados Árabes Unidos, Arábia Saudita, América do Sul, etc, irão ser procurados como novos destinos seguros e credíveis, para capitais e activos patrimoniais das grandes oligárquicas mundiais e afins.
A nova ordem mundial serão BRICS (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul) que juntos representam uma grande maioria da população mundial, sobretudo se estabelecerem entre si, novas formas de parcerias económicas, subalternizando o ocidente, cujo apetite assusta cada vez mais o resto do mundo.
– Oliveira Dias, Politólogo