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Informação
Há quem alimente a ideia que os jornalistas são assim uma espécie de vegetais que não têm opinião sobre o que se vai passando à sua volta. Tentam alguns, que os Órgãos de Comunicação Social (OCS) sejam apenas os transmissores das mensagens que lhes vão chegando, alimentando assim as suas clientelas e as suas receitas sem se comprometerem, comprometendo-se no fundo à sua condição de vegetais da informação. Acontece, que, neste mundo da Comunicação Social, há regras e entidades que supervisionam de uma forma ou de outra a atividade jornalística. Uma delas a “Comissão da Carteira Profissional de Jornalista” (CCPJ), por exemplo, em 22 de Maio de 2019, deliberava o seguinte:
“A prática de conteúdos patrocinados, mascarada de jornalismo, ameaça a essência e a credibilidade da profissão. Por isso, a CCPJ incentiva os jornalistas a recusarem qualquer forma de pressão no sentido de fazerem este tipo de publicidade encapotada, estando disponível para interceder sempre que seja chamada a fazê-lo”.
Voltando à opinião dos jornalistas que, em princípio, são dos mais bem informados quando exercem em pleno a sua atividade, lembrar que, para além dos artigos de opinião dos seus colunistas os “OCS” têm o “Editorial” que é isso mesmo, um artigo de opinião do Diretor ou Chefe de Redação.
Em suma, os jornalistas têm o direito à opinião e a transmiti-la nos seus OCS, de uma forma ou de outra, desde que fique claro o que é informação e o que é opinião.
Na verdade, ao analisarmos os “OCS” da região, análise na qual nos incluímos, é fácil percebermos que para além do “estatuto editorial” há linhas claras de posicionamento do projeto salpicadas aqui e ali por colunistas de várias áreas políticas que muitas vezes estão presas aos apoios em termos de publicidade. Da nossa parte já o afirmámos aqui antes, movem-nos os valores europeus e da democracia ocidental e não abrimos portas aos que de uma forma ou de outra sustentam os regimes ditatoriais e apoiam as agressões e violação dos direitos humanos, como é o caso atual com a invasão da Ucrânia e no passado as invasões da Checoslováquia e da Hungria. Somos claros e transparentes tal como exigimos aos outros.
Especulação
A melhor forma de alimentar a especulação é a falta de transparência e, a ausência de informação que muitas vezes se traduz nas máximas “É público mas não é do público conhecimento” ou então “Em política o que parece é”, o seu terreno fértil.
Deveria ser prioridade de qualquer organização, incluindo as Autarquias, ter uma divisão de informação competente e pro-ativa que não se limitasse a inundar as redes mas que mantivesse um canal aberto com os OCS Locais. Não é o caso na maioria das vezes, embora com honrosas exceções como, por exemplo, a C.M. de Sintra. Naturalmente que a informação tem custos, tal como a Democracia, e é mais fácil e barato ter alguém a inundar as redes do que aprovar e implementar um plano de comunicação que tenha em conta a informação privilegiada e antecipada aos OCS Locais.
Os resultados de uma informação ineficiente são quase sempre a especulação e a informação falsa partilhada e sem fontes credíveis, nas redes sociais.
Comunicação Social e Blogs
As redes sociais vieram trazer alguma confusão adicional aos que circulando nessas mesma redes à partida não distinguem coisas que são bastante distintas. Páginas do Facebook como a “LouresTv” ou a “OdivelasTV” são aquilo que tradicionalmente se chamava de “Blogs” – são canais de informação mas não são OCS. Curioso é a facilidade com que, mesmo pessoas geralmente bem informadas, tendem a confundir uma página que é um canal de informação com um Órgão de Comunicação Social.
As exigências de um OCS que tem normas a cumprir pela entidade reguladora – a ERC, e em que os seus jornalistas têm para com a CCPJ e a sua carteira, normas implícitas de conduta, estão muito para além de um simples Blog.
Óbvio que um Blog pode produzir os mais variados conteúdos mas não está obrigado a respeitar a Lei da Imprensa, não tem estatuto editorial nem regras editoriais e não tem obrigações como, por exemplo, algo essencial num OCS – O direito de resposta.
A grande questão é se os Blogs fazem sentido nesta sociedade de informação e sobre esta questão, remetemos os leitores para artigo 6º da Carta Portuguesa dos Direitos Humanos na Era Digital, Lei 27/2021 que ainda se encontra sem resposta do Tribunal constitucional…
Por outro lado, faz doutrina entre alguns decisores das Empresas e das Autarquias, que os Órgãos de Comunicação Social são dispensáveis no circuito de comunicação e que as páginas próprias do facebook podem substituir plenamente a entrevista ou o artigo de fundo, com trabalho jornalístico e as respetivas respostas do decisor, que representam para o Cidadão, em principio, as questões importantes que ele colocaria, levando o decisor a participar num exercício de transparência (1) – são coisas distintas e, como tal devem ser consideradas, ocupando espaços distintos na Sociedade de Informação.
Grosso modo, podemos considerar que esta informação vinculada pelas páginas próprias dos Autarcas e Empresários, alcançam um circuito fechado “dos mesmos para os mesmos de sempre” e não é isto, seguramente, que as marcas querem…
Finalmente lembrar que não há Democracia sem Imprensa Livre e, nas próximas comemorações do 25 de Abril ouviremos, por certo, falar muito de Liberdade mas pouco ou nada da Imprensa Livre mas, disso daremos nota em próximas edições.
Até dia 23 de Abril.
– António Tavares, Diretor
(1) Note-se que não falamos de “conteúdos patrocinados” que as marcas políticas ou empresariais continuam a colocar nos “OCS” apesar dos pareceres negativos da CCPJ.