Este conteúdo é Reservado a Assinantes
Com a tomada de posse do novo governo de Portugal, aparentemente o Mar volta a estar incluído na agenda política, com a criação do Ministério da Economia e do Mar.
Efetivamente, a História de Portugal fala por si quando pensamos no papel que o Mar e a localização geográfica do nosso País desempenharam numa fase em que nos abrimos a um Novo Mundo. Poder-se-á dizer que a nova visão do Mundo para a qual Portugal contribuiu, foi à época e na devida escala um passo para a globalização. A importância do Mar enquanto via de comunicação e instrumento de globalização, banalizou-se ao longo dos séculos. E essa banalização verificou-se de tal modo, que hoje não nos apercebemos da evidência da sua importância. Paralelamente e num mundo em que a rapidez passou a ser um fator determinante, não é de estranhar que ao longo dos tempos fossem sendo pensadas outras formas de comunicação, deslocação e transporte, bem como fossem sendo adotadas soluções alternativas capazes de cumprir este requisito cada vez mais imperativo.
Todavia, a realidade dos nossos dias, configura-se como motivo suficiente para ponderarmos de forma séria a sustentabilidade da sociedade atual e do seu modelo de desenvolvimento. As necessidades prementes de contrariar o congestionamento de infraestruturas rodoviárias, bem como de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, são exemplos paradigmáticos da atual situação.
O contributo que a intermodalidade poderá dar para a satisfação dessas necessidades, considerando a otimização de uma utilização integrada na cadeia logística, do transporte marítimo de curta distância, do transporte ferroviário e do transporte fluvial, é uma medida que já neste momento se encontra em plena fase de implementação.
Contudo o diagnóstico da realidade dos nossos dias bem como as estratégias a adotar com vista à prossecução de objetivos de sustentabilidade, de racionalização e de otimização de recursos, não se esgota em medidas como a anteriormente referida, indo muito para além do “apelo” que possamos sentir enquanto nação com uma costa atlântica assinalável e com a maior zona económica exclusiva no contexto do continente europeu.
No entanto, a pouca visibilidade à sociedade em geral, de grande parte de todo um macro sector de atividades marítimas, tem sido muito possivelmente um contributo de peso para o “esquecimento” a que o mesmo tem sido votado, e para alguma negligência da importância que lhe deveria ser de facto atribuída. Não existindo uma única relação causal para esta visibilidade deficitária, poderá dizer-se que a falta de reconhecimento do ponto de vista político, da importância da educação, da formação e da investigação que se efetua neste grande sector, tem contribuído para a sua estagnação e nalguns casos mesmo definhamento.
De acordo com a Estratégia Europa 2020 foram eleitos três eixos de intervenção prioritários, designadamente: o crescimento inteligente, o crescimento sustentável e o crescimento inclusivo. Possuindo qualquer um destes eixos, múltiplas e variadas vertentes de potencial aplicação e concretização, a sua contextualização no âmbito da educação/formação e da investigação no domínio das atividades ligadas ao Mar, assume uma importância que merece particular destaque.
Um desenvolvimento com estas características só será, no entanto, viável se baseado em premissas que se encontram já delineadas no âmbito do conceito do crescimento inteligente, baseado no designado triângulo do conhecimento, constituído pela educação, investigação e inovação.
– João Calado (Professor Coordenador c/ Agregação do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)