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Em semana de presença do Presidente da Republica Ucraniana em sessão solene da Assembleia da Republica, com a participação do Presidente da República, Marcelo Rebelo Sousa e do Primeiro Ministro, António Costa, assistimos ao episódio mais triste, provavelmente desde o 25 de Abril, nessa mesma Assembleia: a não participação do Partido Comunista Português nessa sessão. Não pela ausência em si, mas sim pelo esmagamento do seu passado e da defesa do humanismo, como pilar essencial de uma sociedade…
Após a sessão, ouvindo o comentário de Paula Santos (atual líder parlamentar do PCP), nos microfones da comunicação social presente, na Assembleia da Republica, percebemos que o PCP está fechado em si mesmo, enclausurado numa retórica de ódio e raiva, perante a liberdade dos portugueses e dos povos europeus, de não terem escolhido (democraticamente) o caminho da “liberdade” que o PCP defende e que tanto foi inibida no passado… Este, constante ajuste de contas, de altivez moral do regime, com as escolhas dos povos, através do voto (não só em Portugal) continua a impedir o PCP de “evoluir” numa sociedade onde imperam as liberdades e direitos iguais para todas as pessoas e para todos os povos.
Temos assistido, desde 24 de Fevereiro, à posição mais hipócrita, desrespeitosa e nauseante que o PCP poderia ter tido. E, confesso que, apesar dos constantes erros estratégicos políticos dos últimos tempos (desde a “criação” da gerigonça, até aos erros primários na gestão municipal em Loures) fiquei muito surpreendido por esta postura.
Aprendi, ao longo da minha vida, a respeitar o PCP, o seu passado, os seus militantes (alguns meus amigos) e apoiantes, e, mais importante, o papel decisivo que teve no combate, permanente, contra um regime ditatorial, que se viveu em Portugal, durante o Estado Novo. Enalteço o papel de Álvaro Cunhal, durante o PREC, que por muitas vezes, evitou um derramamento de sangue, ou mesmo o inicio de uma guerra civil; Carlos Brito (histórico militante comunista, que foi líder parlamentar do PCP e que divergiu de Álvaro Cunhal em 1990), em Março de 2021 disse, ao jornal Diário de Noticias, “…não admira que esteja nas páginas mais brilhantes, mais inovadoras e mais mobilizadoras do partido… estava permanentemente atento à conjuntura e à procura de saídas para ela… como em pleno Verão Quente de 75, em que se demarcou do gonçalvismo e das forças mais à esquerda… permitiram ao PCP integrar-se no processo de democratização do país ”, o que por si só é demonstrativo, do que foi Álvaro Cunhal, não como comunista, mas como estadista e verdadeiro humanista e defensor dos direitos e liberdades de todos os portugueses… E essa imagem, penso, ser partilhada pela grande maioria dos portugueses que viveram esses tempos… Mas, esse respeito que sempre tive pelo PCP, está a desaparecer… E, deduzo, que se Álvaro Cunhal ainda fosse vivo, estaria constrangido e, direi mesmo, envergonhado por este PCP… Pelo menos eu estou envergonhado… tenho vergonha alheia por estes dirigentes do PCP…. Tenho vergonha alheia por esta forma de ver o mundo… tenho vergonha alheia, como português, que “este” partido comunista exista em Portugal…
Na última reunião de câmara, em Loures, o PCP tentou limpar esta imagem, com uma moção de pesar, intitulada, “Pelas vitimas da guerra na Ucrânia”, moção essa, que aparentava uma inflexão de posição… mas não, além de hipócrita, a moção é absurda e ainda agudiza a vergonha alheia, que tenho “deste” PCP, com frases “maravilhosas” como estas: “…travar o aproveitamento da guerra e das sanções como pretexto para agravar as condições dos trabalhadores e dos povos…”… mas não devemos todos, como humanos e defensores da paz, fazer esforços, mesmo económicos e financeiros, para minimizar o sofrimento do povo ucraniano?; ou ainda “… o que exige que seja na garantia da integridade e respeito pela vida e não pela instrumentalização das vítimas de conflitos que se concentrem no esforços de todos os que defendem a paz.” … mas então, a denúncia pela comunicação social, e por ONG´s no terreno, das atrocidades realizados pelos militares russos (assassinatos de civis, violações de crianças e jovens, violência sobre idosos, ou desrespeito pelo corpo dos mortos, colocando-os em valas comuns), com a conivência de Putin, devem ser ignorados, por aqueles que defendem a paz?? Isto é instrumentalizar as vitimas?;… ou ainda quando apelida os crimes de guerra em Bucha, Kramatorsk e outros como “…operação de manipulação desencadeada por forças ucranianas…” ao arrepio de todas as provas recolhidas no terreno por ONG´s e entidades judiciais internacionais?… É esta a forma de o PCP apresentar um moção de pesar, intitulada “Pelas vitimas da guerra na Ucrânia”…
O PCP, encontra-se numa espirial sinistrógira histórica, que, infelizmente para aqueles que lutaram pela democracia, comunistas ou não, vai acabar na implosão suicidaria do mesmo…
E eu, como português, sinto uma vergonha alheia pelo que estão a fazer ao legado de Álvaro Cunhal, ao legado de vários que perderam a vida pelo nosso país, ao legado deixado pelo meu pai e pelo meu padrinho de coração, que lutaram nas faculdades, nas associações de estudantes, ou mesmo nas antigas colónias, e, sinto vergonha alheia, pelos meus familiares que viveram, apoiaram e festejaram (e festejam, os que ainda estão vivos) o 25 de abril e por tantos outros que lutaram, nos seus locais de trabalho, nas manifestações ou ainda na clandestinidade pela liberdade que tenho hoje, e pela liberdade, que espero, as minhas filhas e netos continuem a ter…
Até breve!
– Nuno Miguel Botelho, Ex-Vereador do PSD (2009 – 2021)