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As iniciativas que visam desenvolver a inteligência urbana não são apenas um motor de inovação, exigindo um esforço acrescido para gerir os riscos que lhe estão associados. A não adoção de abordagens proativas na gestão de risco pode levar ao fracasso total de projetos do setor público orientados para a tecnologia e que visam a prestação de um serviço público mais eficaz, respondendo às expetativas das populações.
As causas da falha de projetos de inovação no domínio do conhecimento, designado por inteligência urbana, são essencialmente consequência de: pouco envolvimento da gestão de topo; liderança ausente; escassez de competências profissionais; planeamento desadequado; ausência de alinhamento estratégico entre os objetivos organizacionais e os objetivos dos projetos e expetativas pouco realistas.
Por outro lado, sendo o setor público o principal promotor de iniciativas de modernização da prestação do serviço público e da gestão do espaço público, alguns dos desafios que se colocam à implementação de iniciativas inovadoras são: inexistência de pressão concorrencial; resistência à mudança; objetivos de curto prazo; prestação de contas no fim dos ciclos políticos e ausência de Planos Estratégicos de longo prazo.
Nesta conformidade, a inteligência urbana passa pela criação de uma infraestrutura que permita monitorizar o metabolismo dos territórios e utilizar essa informação de forma inteligente.
A conceção desta plataforma e subjacente arquitetura obrigam a um conjunto de requisitos não funcionais, comuns para este tipo de sistemas abertos e distribuídos, nomeadamente: interoperabilidade, transparência, localização, tolerância a falhas, segurança de dados e de comunicação, escalabilidade, resiliência, desempenho e a substituibilidade.
O desafio consiste em contribuir para um quadro tecnológico aberto, envolvendo sistemas informáticos, sistemas ciberfísicos e elementos IoT, numa lógica de integração por adaptação sem necessidade de adaptadores especializados. A adaptação ocorre através da obtenção de meta-dados sobre os elementos (serviço) e, assim, será assegurada a cooperação entre sistemas informáticos e sistemas ciberfísicos sob diferentes responsabilidades e na base de uma diversidade de quadros tecnológicos.
A concretização de soluções inovadoras na implementação de conceitos intrínsecos à temática das cidades inteligentes, que tenham subjacentes os desafios acima elencados, potenciará um conjunto de oportunidades que poder-se-á agrupar em cinco pilares: Pessoas; Modelos de Gestão; Economia; Mobilidade e Ambiente.
As Pessoas constituir-se-ão num motor da inovação da maior relevância para tornar uma cidade atrativa, sendo expetável: um contributo com valor acrescentado para termos cidadãos mais informados, educados e participativos; mão de obra mais qualificada que proporcionará um crescimento urbano mais acelerado; uma população com um nível elevado de educação que potenciará o crescimento da produtividade local; cidadãos com formação académica elevada que estimularão o crescimento das instalações de consumo; desenvolvimento de atividades empreendedoras e fixação de talento.
A tecnologia será indutora de novas estratégias subjacentes aos Modelos de Gestão dos serviços e empresas públicas potenciando: a promoção do exercício da cidadania ativa ao nível das políticas públicas; o aumento da transparência e combate à corrupção; a desmaterialização de processos; a gestão integrada e automatizada de recursos humanos e materiais; o acesso remoto multiplataforma e a criação de ecossistemas de inovação aberta (Living Lab).
A Economia local será dinamizada em consequência das sinergias resultantes do aparecimento de empresas de elevado valor acrescentado potenciadoras de: condições facilitadoras do aparecimento de novos modelos de negócios; criação de emprego qualificado; aumento da produtividade; flexibilidade do mercado de trabalho; capacidade de integração no mercado nacional e internacional; incremento da atividade cultural das cidades, através da sua promoção e eventual transmissão dos eventos através de canais digitais; melhoria nas condições de acesso aos serviços de saúde; aperfeiçoamento da interação com os serviços da administração pública local e central, melhorando a transparência do seu funcionamento; segurança, ensino e habitação mais eficazes; promoção da coesão social com impacto direto no índice de pobreza; promoção turística do território e wi-fi gratuito nos centros urbanos.
No que ao pilar da Mobilidade diz respeito, seriam criadas as condições para reduzir a pegada ecológica, melhorando a sustentabilidade do meio ambiente, nomeadamente através da promoção da utilização do transporte público, disponibilizando informação em tempo real, especialmente a relativa à desejável intermodalidade; promoção da utilização de modos suaves de transporte; gestão do estacionamento em tempo real e gestão da disponibilidade dos postos de carregamento de viaturas elétricas, em tempo real.
Em relação ao Ambiente, seriam potenciadas as seguintes oportunidades: proteção dos recursos naturais (monitorização dos cursos de água; monitorização e tratamento das águas residuais; gestão da rega de espaços ajardinados); gestão da recolha dos resíduos sólidos urbanos indiferenciados; gestão de ecopontos contribuindo para a economia circular (reciclagem); gestão da iluminação pública; gestão da rede de distribuição de água; monitorização da qualidade do ar interior e exterior e melhoria da sustentabilidade dos edifícios.
João Calado
(Professor Coordenador c/ Agregação do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)