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Por que há experiências inesquecíveis e por haver sempre um industrial mais ousado, partilho a recordação “Peugeot 406 coupé Grand Raid” na rampa do Pikes Peak. Um ensaio de um carro de corridas que acabaria por não ter futuro exclusivamente por alteração de regulamentos da então Federação Internacional do Automobilismo. No final dos Anos 80’ do século passado, entre 1988 e 1990, a Peugeot decidiu rivalizar com o Lancia Delta e o Audi A4 Coupé: lançou uma versão coupé do modelo 405. Aproveitou o compasso de espera da passagem do modelo 205 para o 206, para o fazer com forte inspiração competitiva. Projectou uma versão Grand Raid e uma outra dirigida exclusivamente às celebres corridas na rampa mais louca dos Estados Unidos, no maciço Pikes Peak, no centro do Estado do Colorado.
O maior objectivo era suplantar o Audi, mas principalmente intrometer-se na hegemonia do Lancia S4 e o Ford RS 200, no Mundial de Ralis. Acabaria por ser uma iniciativa fortuita: O Grupo B foi banido da competição após o acidente que vitimou Henri Toivonen, piloto finlandês que foi protagonista de um acidente fatal em 2 de maio de 1986 durante o Rali da Córsega do Mundial da especialidade.
2,2 quilos por cavalo é obra!
Primeiro teste numa adaptação para versão cliente: Motor 4 cilindros de 2 litros (1.998cm3) colocado transversalmente em linha, com comando duplo no cabeçote 4 válvulas por cilindro e uma taxa de compressão anunciada de 8:1. Esta versão debitava 240 cavalos a 6500 rpm, a alimentação era por injeção eletrónica multiponto e turbocompressor Garret, e a caixa de velocidades de 5 marchas para uma tracção integral regulável. Esta versão já possuía travões com sistema (ABS), um pequeno luxo há época. O ‘406 coupé’ tinha um comprimento de 4,40 metros e atingia uma velocidade máxima 260 km/h, e uma aceleração de 0 a 100 Km/h em 5,2 segundos.
Inolvidável foi a prova ao volante do Grande Raid: apenas semelhante à versão cliente à vista. Ainda que munido com o mesmo motor, a potencia era de 400 cavalos a ressoarem numa carroçaria toda em kevlar e carbono, materiais compósitos que se estendiam a alguns dos órgãos mecânicos. Acabava de passar de uma versão com 1330 quilos para uma outra com apenas 880 quilos. Estava ao volante de um carro de corridas com os impressionantes 2,2 quilos por cavalo que, num arranque mais descuidado, colocava-me a 100 quilómetros por hora em 3 segundos. Mais: entre os 11 e os 13 segundos já rolava a 200 km/h seguramente… Atentos que neste superdesportivo o velocímetro não faz parte do equipamento.
Mas a velocidade máxima pouco importava:
Conduzia um dos carros mais rápidos do planeta de então. Importava ser delicado com o pé direito sobre o acelerador, para disfrutar do prazer de ouvir o rugir de um motor de 2 litros dos mais fantásticos que a PSA – actualmente integrada no grupo Stellantis – já produziu. Também experimentar o bailado (relativo) sobre a terra batida e dando alguma margem ao erro, nas curvas largas do trajecto. Impressionante era a constante sensação de estar dentro das costas do banco, tal eram os ‘coices’ que levava por cada vez que engrenava uma marcha, mesmo a 5ª velocidade.
De qualquer modo, recordo que a super versão Pikes Peak ficou de fora. 600 cavalos só estavam à dimensão dos pilotos da companhia de então: o finlandês Ari Vatanen, o sueco Bjorn Waldegard e o belga (ex-piloto de Fórmula 1) Jacky Ickx.
– por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)