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Há muitas formas de se apresentar uma história, ou, para utilizar um termo mais actual, uma narrativa, utilizando-se várias técnicas a fim de facilitar, ao destinatário, a sua compreensão. Não é por acaso que, por exemplo, a bíblia apresenta as suas narrativas recorrendo a parábolas, são mais eficientes, em termos da mensagem, facilmente entendidas, pelo vulgo (povo) e por isso reunidas na Vulgata (Bíblia), e escrita na língua vulgar mais internacional da época – o Latim.
Acresce, a título de mera curiosidade, que o Papa mentor da tradução das narrativas dos apóstolos seleccionados para incluírem a Vulgata, foi D. Dâmaso I, cujo nascimento se atribui a terras portuguesas, de Guimarães.
Outra técnica, bastante apreciada, é a narrativa antropomórfica, através da qual se atribuem qualidades, sentimentos ou valores de seres humanos a animais, e/ou a interacção de pessoas com animais, como cerne da narrativa. Camões recorreu a ela com o seu famoso Adamastor, embora aqui seja mais geomórfica que antropomórfica.
Odivelas, também tem a sua cota parte antropomórfica, quando a lenda da sua génese se centrou num urso, mais concretamente no abate de um Urso, numa luta corpo a corpo, entre este e o nosso famoso Rei D. Dinis.
Sinceramente, se ficasse nos anais da história que D. Afonso Henriques tinha dado uma coça num Urso, seria muito mais verosímil, já D. Dinis … é mais difícil de aceitar a veracidade desse episódio. Mas, lenda é isto mesmo, muitas vezes fica no domínio da ficção.
Difícil é, igualmente, tomar como boa a narrativa que dá D. Dinis a caçar sozinho, ali para os lados de Beja, numa coutada adentro os domínios do Ducado de Beja, tradicionalmente pertença dos infantes primogénitos, ou do próprio Rei. O Rei nunca andava sozinho.
Ora se toda a narrativa lendária (narrativa exotérica) não corresponde a factos reais, então só nos resta a via simbólica (narrativa esotérica) desses episódios, e aí, sim, tudo começa a fazer sentido.
D. Dinis era um iniciado na Ordem do Amor, acrónimo de Roma (Igreja Católica), logo antagonista da mesma. Todos os trovadores, e ele era-o também, pertenciam a essa ordem e passavam as suas mensagens através dos cantares de amigo e de amor. A simbólica era-lhe familiar.
O milagre das rosas da Rainha Santa Isabel tem uma simbólica diferente da que lhe atribuíram. De resto o mesmo milagre foi atribuído á sua avó, Rainha da Hungria. E o investigador Luso-Prussiano Rainer Daenhardt, descobriu que o mesmo milagre muito antes já fora atribuído a uma Princesa Moura, D. Cassilda, residente na Península Ibérica. Portanto o simbolismo envolvia a corte de Dom Dinis.
O que encerrava então o simbolismo do Urso, em D. Dinis ? Vejamos:
Na linguagem esotérica, o Urso tem o significado de traição, injustiça, perdas, e é associada a instintos humanos negativos.
Nas cartas ciganas, significa a falsidade, inveja, ciúme, agressividade, mau caracter, mau conselho.
No glossário de símbolos bíblicos associado á lenda de David contra Golias, descreve o inimigo cego pela raiva, ferocidade, e temeridade.
DESTA SORTE VENCER O URSO, SIGNIFICA VENCER OS OBSTÁCULOS NEGATIVOS QUE NA VIDA D.DINIS FOI ENCONTRANDO PELO CAMINHO.
Quais foram esses obstáculos?
Na Família:
- Teve de afastar a mãe do governo do reino;
- O irmão acusa-o de usurpação e cria-lhe problemas e incidentes diplomáticos;
- 1281 D.Dinis marcha sobre Vide onde o irmão amuralhou a vila em rebeldia;
- 1282 faz a paz com o irmão;
- 1287 o irmão rebela-se novamente, e ataca Castela;
- 1289 Ajuda seu tio, Rei de Castela, contra a poderosa e inimiga família de Lopo de Haro, garantindo assim o trono para sua filha;
- O seu Filho legitimo haveria de levantar-se em armas contra D. Dinis.
- A morte do Avô, o Rei Afonso o Sábio, como ele trovador, afectou-o bastante.
O Clero:
- 1281 proposta de concordata solucionando problemas herdados do pai que fora um dos muitos reis portugueses excomungados pelo Papa;
- 1289 o Papa recebe os bispos portugueses mas não fica convencido;
- 1290 resolvido o problema com Roma;
- 1292 os Bispos do Porto, Viseu e Guarda revoltam-se;
Vencidos os obstáculos lança em 1295 a 1ª pedra do Mosteiro de Odivelas, e dedica-o a São Bernardo, o mentor da Ordem do Templo, e o ideólogo da criação do Reino Templário Portugraal.
Curioso notar que os cavaleiros Templários tinham por obrigação de combater o Leão.
Recordemos a lenda de David, pastor que combatia o urso e o leão (tal como D. Dinis) para defender o rebanho de seu pai, tendo vencido, mais tarde Golias.
O Leão simboliza:
- os desejos da natureza humana,
- o prazer da carne,
- a luxuria,
- o poder,
- o dinheiro
- e o sexo, a tudo isto se opunha a vida ascética de um Templário.
EM SÍNTESE O URSO SIMBOLIZAM OS PERIGOS EXTERNOS Á PESSOA.
E O LEÃO SIMBOLIZAM OS PRÓPRIOS VICIOS.
EM DETERMINADOS RITOS MAÇÓNICOS A EXPRESSÃO “É DEVER DE TODO O MAÇON, ALÇAR ALTARES Á VIRTUDE, E CONSTRUIR MASMORRAS AO VICÍO” TEM O SIMBOLISMO DE COMBATER VICIOS E EXALTAR VIRTUDES.
D. DINIS COMBATEU UNS (URSO), COM SUCESSO, E OUTROS COM UM SUCESSO MAIS MITIGADO (LEÃO). NINGUÉM É PERFEITO.
A VIDA DE D. DINIS FOI UMA LUTA CONSTANTE, MAS NÃO SEGURAMENTE CONTRA UM URSO … PELO MENOS DE QUATRO PATAS.
– Oliveira Dias, Politólogo