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Assistimos à utilização desadequada de conceitos, a que se junta uma incorreta associação de símbolos, como “embaixadores” dessas apologias, disseminando ideias erradas junto da população.
No discurso de tomada de posse como Presidente da Assembleia da República, Santos Silva, em 29.03.2022, apodou o conceito de Nacionalismo, por contra ponto ao de Patriotismo sentenciando:
“ O Patriotismo só medra no combate ao nacioanlismo” completando : “o requesito para ser patriota é não ser nacionalista, isto é, não ter medo de abrir fronteiras, de integrar migrantes e de acolher refugiados”.
No mesmo dia em entrevista à CNNPortugal, reiterou a incompatibilidade entre ser Patriota e Nacionalista, considerando que o nacionalista tem ódio pelo outro.
Esta apologia pessoal não encontra respaldo em nenhuma outra fonte.
Ser rigoroso, e banir os “achismos” a bem da nossa língua, a mesma que para Fernando Pessoa, era a sua Pátria, e derivando o patriotismo desta qualidade substantiva, fácil é entender que ser patriota é amar a sua pátria e o patriotismo é a acção pela qual se concretiza esse amor.
Não esqueçamos um outro conceito, o de Mátria, parelha do de Pátria, e necessáriamente diferente deste, teorizado pelo Padre António Vieira, como sendo a terra que nos viu nascer. (segundo Fernando Pessoa, o Padre António Vieira é o Imperador da língua portuguesa).
Já a Enciclopédia Luso/Brasileira (o google de há 40 anos), define Pátria (página 619, volume XX), “País ou Estado em que cada individuo nasceu e ao qual pertence como cidadão”, dando-lhe um enfoque de natureza politico-juridico. Já o conceito de Patriota e Patriotismo, (página 633, volume XX), se define Patriotismo como “qualidade de que é Patriota: amor ao país (…) afeição à sua terra e ás suas gentes”, logo ser Patriota é uma qualidade, e Patriotismo é a sua concretização, por acções ou omissões.
Em ambos os casos, seja na perspectiva do poeta, seja na da enciclopédia, o Patriotismo conflui para um sentimento de pertença, de afinidade, de amor.
Já para Santos Silva, a nóvel segunda figura do estado Português, o Patriotismo é um combate ao nacionalismo, é uma rejeição ao nacionalismo.
O Nacionalismo, deriva do qualificativo Nação e esta, segundo a Enciclopédia Luso/Brasileira é “conjunto de cidadãos de um estado, que vivem, portanto, no mesmo território, sujeitos a um governo comum e ligados por lei e interesses também comuns” citando Camões em reforço “… como ele ganhara aquela cidade aos mouros … a Nação português … tinha ganhado grão nome” (página 331, volume XVIII), e reitera a enciclopédia o conceito Nação como:“a comunidade de individuos, embora sob vários regimes politicos, unidos pela identidade de origem costumes e religião”.
Porém o grande Camões vai mais longe e numa simbiose de conceitos, no seu leito de morte, oferece-nos a sua última frase: “Morro, mas morro com a minha Pátria”, aludindo á desgraça portuguesa de ter perdido o seu Rei, sem descendência, na batalha de Álcacer Quibir.
Para Camões, então Nação e Pátria fundiam-se, consequentemente nacionalismo e patriotismo, encontram-se, indissociavelmente, no cidadão que ama Portugal.
Já no que concerne especificamente ao conceito de Nacionalismo, ora em debate, diz-nos a enciclopédia “preferência, por vezes exclusiva, por tudo o que diz respeito à nação de que se depende (…) doutrina do partido politico que faz desta preferência o seu princípio de acção (…) no seu mais amplo significado alberga a atitude que confere à sua entidade nação um altissimo valor na hierarquia de valores (…)” (página 336, volume XVIII).
Na verbe de Santos Silva, Patriotismo é, o combate, a rejeição, de tudo quanto diga respeito à nação. Acepção grosseira, que não passa de um “achismo” sem base cientifica, cultural e social.
Santos Silva, confunde com o Nacional-Socialismo, este um “conjunto de doutrinas politicas e sociais do partido nacional-socialista de Hitler” (página 512, volume XVIII). Mas isto não transforma a língua portuguesa, e temos de rejeitar tal tentativa.
Cinjamo-nos, à pureza da nossa língua, mesmo sabendo das polisemias que lhe estão associadas, o nacionalismo nunca é algo negativo. Não se pode apodar o nacionalismo, só porque no passado outros o associaram a acções ideias ou ideologias de forma abusiva, de resto já o mesmo erro se passa com o símbolo da cruz gamada, ou suástica, ignorando-se que existem á milénios, duas suásticas, uma representando a construção e a outra a destruição. A que Hitler celebrizou foi a da destruição. Mas muito antes de Hitler já religiões milenares como a Hindu os utilizam na sua agiografia.
Um símbolo pode até ser usado como forma identitária por povos antagonistas, e basta olhar para as forças armadas da II Guerra Mundial, onde as forças armadas americanas e soviéticas utilizavam a cruz de cinco pontas, diferenciando-se apenas na cor, uma branca e outra Vermelha, respectivamente. Esse facto não torna o simbolismo da cruz de cinco pontas propriedade de ninguém.
Temos exemplo caseiros. Em 1976, foi preciso inscrever na Constituição da República o nome do parlamento: na época dava pelo nome de Assembleia Nacional, mas esta designação era a do regime deposto pela revolução de 1974, então em alternativa optaram por Assembleia da República. Em bom rigor não é só o Parlamento que é uma Assembleia da República, uma Assembleia de Freguesia e Municipal também são Assembleias da República Portuguesa, e o que as distingue é que uma é de caracter nacional, as outras de caracter local.
Por mim, acolho a apologia de Camões, a verdadeira, e rejeito achismos de ocasião.