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Quando a Câmara Municipal de Odivelas, colocou, em consulta pública, em Março de 2019, o uso ao Mosteiro cuja importância, para o País, fez dele Monumento Nacional, logo de todos os portugueses, e não só dos Odivelenses, de modo a compatibilizar a sua fruição pela população em geral, mas não perdendo de vista que o seu proprietário continua a ser o Ministério da Defesa Nacional, que o cedeu por 50 anos ao Município de Odivelas, de imediato dei o meu contributo, propondo em síntese, o aproveitamento de valências interessantes, como era o caso do dormitório com 300 camas, e assim ser adequado uma pousada de juventude, uma pousada sénior, e um centro de acolhimento de crianças e jovens, senão todas estas valências pelo menos as que fossem possíveis, a par de um centro de interpretação histórica, em complemento a um museu, de forma a exaltar o nosso passado, riquissímo e único no mundo.
Neste particular este centro de interpretação estaria focado não só na história de Odivelas, desde o seu nascimento aqui no Vale das Flores, em propriedade de Dom Dinis, onde mais tarde se constitui a Paróquia do Menino Jesus de Odivelas, mas indo à fundação do próprio Reino de Portugal. Como ?
Sabemos que o Mosteiro, que nunca se chamou de Odivelas, (topónimo que em 1712 é apresentado como CURATO, na Cronografia do Padre António Carvalho da Costa, obra que pode ser consultada no site da biblioteca nacional que a tem completamente digitalizada, constata-se que se dá noticia a partir da página 639, sobre a nossa terra, sob o título “ das Freguesias de Nossa Senhora da Encarnação das Ameixoeiras, e do Menino Jesus de Odivellas”,(nesta época as freguesias eram apenas, e só, um território eclesiástico, uma vez que as freguesias seculares surgiriam apenas no século XIX, aquando do governo da Regência se fixou nos Açores durante as guerras liberais que opuseram D. Pedro IV de Portugal – D. Pedro I do Brasil – a seu Irmão D. Miguel), e na página seguinte, 640, se refere que esta (freguesia) tem um Curato (uma parcela de território sob a jurisdição eclesiástica de um Cura) com 370 vizinhos distribuídos pelos seguintes lugares: “Barrosa, Moreira (serra da amoreira?), Bica (ponte da bica?), Trigache, Porto (porto da paiã?) e Pombais. eentre 1762 e 1883, consultada informação do Tribunal de Contas sobre o documento – a décima da cidade – encontramos a referência á : “Paróquia do Menino Jesus de Odivellas” … o que nos indica que afinal a Odivelas de hoje teve designação distinta no passado.
O Mosteiro foi consagrado a S. Dinis e S. Bernardo, o que nos revela pistas importantes: O nosso monarca foi baptizado com o nome de Dinis, porque o dia do seu nascimento, 9 de Outubro, é dedicado ao Santo de S. Dinis. Seria pois um dos aspectos a explorar, pelo seu significado.
Mas o Reinado de D. Dinis ficou indelevelmente marcado pela Ordem do Templo, e São Bernardo, é como sabemos uma das maiores figuras da Cristandade, tendo sido ele o mentor da Ordem dos Cavaleiros Templários, cujos 9 fundadores na Palestina incluía 2 portugueses, Pedro Arnaldo da Rocha e Gondemar, Ordem da maior importância para Portugal, e que D. Dinis defendeu de forma magistral, quando traiçoeiramente foi extinta, por ordem Papal, instigada pelo Rei de França, Filipe, transformando-a na Ordem de Cristo.
S. Bernardo pertencia a uma família da mais alta nobresa bargunda, um povo germânico que se fixou em terras hoje conhecidas por francesas, primo do Conde D. Henrique (outro nobre bargundo), pai do nosso primeiro Rei, e foi S. Bernardo quem gizou a criação do reino de Portugraal (palavra latina que significa Porto do Graal), e para cá enviou D. Henrique para tratar do assunto, que como sabemos haveria de ser concluído pelo seu filho, Dom Afonso Henriques.
A importância e significado de S. Bernardo na criação do Reino, e da Ordem Templária, foi reconhecida por Dom Dinis, ao emprestar o seu nome ao seu Mosteiro, que me pareceu incontornável que hoje, também o celebrássemos como matéria para o centro de interpretação histórica. “Devemos isso a Dom Dinis. Façamos a sua vontade.” Escrevi em conclusão então.
A verdade é que o município acabou por aprovar o CIMO (centro de Interpretação do Município de Odivelas), um “Campus Académico” com residência universitária, espaço sénior, auditório, e um espaço museológico etc. Registo, com satisfação, que as minhas propostas foram todas acolhidas. O único senão, prende-se com a temática do centro interpretativo, que não vai tão longe como Odivelas merecia, e esquece a figura central do Abade de Clairveaux. É pena.
Desconheço, se o CIMO irá explorar a presença de marcas de canteiros construtores (maçons) do mosteiro, uma vez que ali existe uma profusão de presenças dessas marcas nas paredes exteriores da edificação octognal. Os Mestres canteiros eram os únicos artífices detentores de “marcas” pessoais, e estas destinavam-se a registar a presença do Mestre na construção, algo considerado de enorme importância.
Assim como não sei se o Cruzeiro será objecto de escrutínio histórico, dado até como contemporâneo do mosteiro, e cuja cruz cimeira está envolta em algum mistério relativamente ao seu significado ou origem.
Em 2015, se me não engano, o Grão mestre da Ordem Equestre de São Bernardo, Michel Picandet, visitou o mosteiro e o Cruzeiro, e afiançou sem hesitar que a cruz cimeira do cruzeiro, é de origem celta. Por último, porque intimamente ligado ao Mosteiro, o CIMO deveria explorar a lenda das rosas, e a circunstância de, segundo o Rainer Daenhardt, antes da Rainha D. Isabel, já a uma sua tia-avó, Rainha da Hungria, fora atribuído idêntico milagre, e antes desta uma moura ostentava igual milagre, a Princesa Cassilda.
- Oliveira Dias
Politólogo