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No princípio dos anos 80, Ivone Silva interpretou a rábula da “Olívia patroa, Olívia costureira”, personagem que vive em conflito consigo própria porque a mesma pessoa ora assume o papel de costureira ora assume o papel de patroa, com as contradições inerentes a cada circunstância.
Também tem sido este o comportamento do Partido Socialista (PS) com o Hospital Beatriz Ângelo e com o Metro Ligeiro de Superfície, duas questões que, em Odivelas, exemplificam este “conflito de personalidades”. Vejamos!
Já todos sabemos que o preconceito ideológico levou a que o PS Governo, neste caso a patroa, determinasse o fim da Parceria Pública-Privada (PPP) que existia no HOSPITAL BEATRIZ ÂNGELO, tendo cessado o contrato que vigorava neste hospital desde a abertura com o Grupo Luz Saúde.
Mas o fim da PPP não poderia ter sido feito dando a entender que foi o Governo a querer terminar este contrato. Por isso, o PS Governo sugeriu uma renegociação com condições contratuais inaceitáveis, pelo menos para quem estivesse de boa-fé para com um parceiro, o Grupo Luz Saúde, que de acordo com o Tribunal de Contas revelava uma gestão financeira eficiente, geradora de poupanças para o erário público, e com a prestação de um conjunto de serviços que, genericamente, era reconhecido como de qualidade, considerando um conjunto de quase 100 indicadores de avaliação desse desempenho.
Mas o PS Odivelas, a costureira, nada fez! E antes do fim anunciado desta parceria não manifestou qualquer espécie de desconforto ou se insurgiu contra a posição do PS Governo. Pelo contrário, foi alimentando o discurso governativo de que tudo ia bem e que tudo decorria com a normalidade inerente a estes processos, garantindo que a transição haveria de culminar com a manutenção da prestação de cuidados de saúde à população com a qualidade que se lhe exige.
Não faltaram avisos e pude constatar pessoalmente, em julho e agosto de 2021, que nenhuma transição digna desse nome tinha sido iniciada até essa data e as evidências já faziam temer o pior.
Apesar dos anúncios locais propagandearem algo diferente, a realidade veio demonstrar o falhanço da opção do Governo PS, legitimada por um PS Odivelas que nada fez para se insurgir em benefício da solução que melhores garantias dava aos seus munícipes – a manutenção da PPP com o Grupo Luz Saúde.
E o que faz agora o PS Odivelas?
Depois de uma transição desastrosa que já levou à deslocação para outros hospitais de grávidas em ambulâncias, ao fecho temporário do bloco de partos ou ao cancelamento de inúmeras cirurgias, por falta de anestesistas, o PS Odivelas vem anunciar que está a fazer todos os esforços para pressionar o Ministério da Saúde a corrigir uma situação que é, no mínimo, aflitiva e perto do colapso, sugerindo até que a debandada de médicos deste hospital é provocada pelo grupo privado que, de acordo com o PS Odivelas, “não aceitou” seguir com o contrato, contrato esse que trouxe novas regras impostas por um governo que nunca esteve de boa-fé nestas negociações… penso que fica claro que alguém tem de melhorar a comunicação entre o que se decide no PS Governo e no PS Odivelas!
Foi com pompa e circunstância que Odivelas assistiu ao anúncio do investimento de 250 milhões de euros, com verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), para a concretização de um METRO LIGEIRO DE SUPERFÍCIE (MLS) que ligará os Concelhos de Loures e Odivelas, com interface na estação do Metropolitano de Odivelas, numa parceria assinada entre o Metropolitano de Lisboa, a Câmara Municipal de Loures e a Câmara Municipal de Odivelas, no dia 5 de julho de 2021.
Para os “profetas da desgraça”, as dúvidas eram mais que muitas: a opção pelo MLS, o traçado sugerido, um orçamento de 250 milhões de euros cuja estimativa era impercetível, a própria descrição do projeto no PRR, que era genérica e pouco precisa, e a ausência de respostas a muitas outras questões particulares suscitadas pelo projeto proposto na sua generalidade.
Mas, lá surgiu o PS em Odivelas com a sua máquina de propaganda, com vídeos, publicações, notícias na comunicação de referência, mais de 50 outdoors, até porque estávamos em período pré-eleitoral e não podiam ficar dúvidas no ar. Diziam que apesar desses maldizentes o projeto era mesmo para seguir em frente e iria ser uma realidade!
Não foi preciso esperar muito e logo após as eleições surge o PS Governo, a sua outra personalidade, e começa a dar nota dos constrangimentos anunciando: o Município de Odivelas terá que pagar os custos relacionados com expropriações, nova rede viária e requalificação urbana, em montantes que podem atingir os 80 milhões de euros (valor estimado para Odivelas e Loures).
Mas o PS Governo não fica sem resposta e logo surge o PS Odivelas, pela voz do Presidente da autarquia, Hugo Martins, a dar nota de que o projeto estava em risco, face à incapacidade financeira do Município em assumir estes encargos, acrescentando: “não contem comigo, nem com a Câmara Municipal, para deixarmos para memória futura uma câmara endividada por causa de um projeto em que foram colocados 250 milhões de euros, não sei porquê, não sei quem fez as contas (…)”.
E foi já no passado mês de abril que vemos Susana Amador, ex-Presidente do Município de Odivelas, a mostrar a sua veia de PS Odivelas, ao encabeçar um grupo de deputados do PS que questionou o Ministro do Ambiente sobre o forte impacto que os custos anunciados terão sobre os orçamentos municipais.
Susana Amador coloca estas questões defendendo as causas do PS Odivelas e Loures, onde agora é Presidente da Assembleia Municipal, ao mesmo tempo que é deputada eleita pelo PS na Assembleia da República e que suporta precisamente o Governo do PS que tomou a decisão de idealizar o projeto nestes termos, insurgindo-se agora contra o mesmo.
Mas não vai sozinha! Em seu apoio segue o Presidente da Assembleia Municipal de Odivelas, Miguel Cabrita, também ele deputado eleito pelo PS na Assembleia da República e que suporta o Governo do PS que tomou a decisão de idealizar o projeto nestes termos, insurgindo-se agora contra o mesmo.
Qualquer semelhança entre estes dois últimos parágrafos é pura coincidência e resta dizer que ambos, Susana Amador e Miguel Cabrita, foram já Secretários de Estado nos Governos anteriores de António Costa.
Isto de ser patroa e costureira tem, mesmo, muito que se lhe diga!
- David Pinheiro
Iniciativa Liberal de Odivelas