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Apesar da atual maioria absoluta do Partido Socialista, António Costa não abdica de continuar no seu estilo de fazer política com promessas bonitas que sabe serem do agrado do eleitorado, mas que não poderão ser cumpridas face à atual situação socioecónomica de Portugal ou à notória incapacidade reformadora do seu governo.
António Costa, ao invés de aproveitar a maioria absoluta do PS para imprimir um ímpeto reformista ao seu governo, como, aliás, fez Cavaco Silva com as suas duas maiorias absolutas, continua focado na propaganda de baixa política e nas promessas irrealistas, bem como numa absurda e antidemocrática luta partidária contra o Chega e a privilegiar as tontices fraturantes do Livre e do PAN.
O PS e António Costa têm a absoluta necessidade de alimentar o sonho hegemónico de poder em Portugal e para isso necessitam de manter vivas as expetativas dos portugueses de melhoria das suas condições sociais, laborais e económicas, à custa de engodos que vão lançando no debate político e a que os comentadores do regime e alguma comunicação social vão dando o devido seguimento.
Contudo, os portugueses, face à continuada e inconsequente gestão de expetativas do PS, que normalmente não se cumprem, num próximo ato eleitoral saberão, com toda a certeza, tirar as devidas ilações e dar a outros a oportunidade de governar.
Vem isto a propósito de recentemente António Costa ter apelado às empresas privadas que contribuam para um esforço coletivo de aumento de 20% dos salários médios em Portugal.
António Costa lembrou ainda que na União Europeia o peso dos salários no conjunto da riqueza nacional, é de 48%, ao passo que em Portugal é de 45%.
Contudo, António Costa esqueceu-se foi de apresentar um plano integrado e calendarizado para a prossecução deste importante objetivo, preferindo recorrer a um “sound bite” sem conteúdo substantivo e sem qualquer tipo de compromisso. Foi mais uma das muitas e frequentes balelas de encantar do nosso primeiro-ministro.
O bonito “sound bite” foi proferido no Encontro Nacional de Associações Juvenis (ENAJ) recentemente realizado, porque António Costa sabe muito bem que aos jovens qualificados, não engajados com a Juventude Socialista, o que é oferecido são empregos precários e com remunerações mensais pouco acima do salário mínimo nacional.
Interessante seria fazer um inquérito aos jovens que ouviram o “sound bite” do primeiro-ministro, no sentido de saber se as afirmações de António Costa foram consideradas como uma expetativa credível, ou se pelo contrário foram um impulso demagógico de marketing político de ocasião.
Nunca saberemos o que aqueles jovens pensaram ao ouvir aquelas palavras de António Costa, contudo, não será difícil de imaginar. Ainda bem que não se verificaram apupos, mas não demorará o tempo em que isso acontecerá.
Aliás, sabendo-se da influência que os salários e os aumentos na administração pública têm no setor privado, António Costa poderia no corrente ano ter dado o exemplo na função pública e decidido aumentos que mitigassem os efeitos avassaladores e persistentes da inflação, ao invés de aumentos de 0,9%.
António Costa argumenta que a inflação em 2022 é conjuntural e que tudo voltará proximamente ao normal. Mais uma balela de encantar do nosso primeiro-ministro, porque segundo as previsões da primavera da Comissão Europeia a taxa de inflação em Portugal situar-se-á, em 2022, em 4,4%, desacelerando depois em 2023, mas para uma taxa de 1,9%.
Interessante será ver a orientação do orçamento de estado para 2023 no que diz respeito às revisões salariais da função pública, mas não será difícil de prever que essa mensagem será de rigorosa contenção, até porque o PS, à exceção das eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, não tem pressão eleitoral no seu horizonte e isso facilita o poder absoluto da maioria absoluta.
A previsível contenção nos aumentos salariais da função pública para 2023, com toda a certeza que não inibirão o PS e o governo de fazerem pressão política para que os aumentos no setor privado sejam mais significativos, de forma que os salários médios comecem a trajetória de subida até atingirem um crescimento de 20%, com o que, aliás, concordamos em absoluto, só que o Estado deveria ser o primeiro a dar o exemplo e isso não se vislumbra.
Aliás, António Costa e o governo do PS, são sempre bastante parciais no que se refere à administração pública e ao setor privado, sendo a alocação das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) o mais recente exemplo, dessa situação, com 70% para o próprio Estado e só 30% para o setor privado da economia.
António Costa ao pretender que o setor privado contribua significativamente para o aumento de 20% dos salários médios em Portugal, deveria ter feito uma diferente alocação das verbas do PRR, não privilegiando a administração pública, mas o primeiro-ministro também tem a necessidade de corrigir os erros do tempo da geringonça e recuperar os investimentos públicos que os seus governos negligentemente não realizaram nos últimos 6 anos, por força das cativações impostas pelos seus ministros das finanças.
As políticas públicas serão também um importante contributo para a prossecução deste justo e urgente objetivo de aumentar os salários médios em Portugal em 20%, mas não se vê o governo de António Costa com arte e engenho de eliminar, por exemplo, os custos de contexto que prejudicam a atividade das empresas e que não são imputáveis ao investidor, ao seu negócio ou à sua organização.
Em suma António Costa faz as promessas corretas, mas não faz o que deve fazer para as concretizar. Triste sina a dos portugueses.
- Deputado Municipal do CHEGA na AMO