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O NSU RO 80 foi um dos automóveis familiares alemães mais interessantes do final da década de 60’ – com uma articulação verdadeiramente do século XXI – que fascinou milhares, mas também foi alvo de críticas de muitos dos seus proprietários, sobretudo por não se entenderem, nem eles nem a maioria dos mecânicos de então, com alguma da tecnologia disponível pouco habitual nos automóveis deste segmento. O RO 80 marcou uma geração de apaixonados pelos automóveis de uma classe média alta, amante de alguns luxos como a segurança, o conforto associado ao espaço amplo, aos acabamentos de qualidade (elementos em madeira ou aço polido) e um motor com alguma elasticidade, capaz de uma velocidade considerável em virtude da reconversão da rede de estradas europeias e da construção de autoestradas. Este NSU foi eleito Carro do Ano em 1968, pelas revistas europeias da especialidade. Foi produzido entre Outubro de 1967 e Abril de 1977, num total de 37.200 exemplares.
O RO 80, fez a NSU perder a sua credibilidade apenas e só por questões relativas à mecânica, aos motores Wenkel. Ocorreu uma espécie de paradoxo: o avanço tecnológico foi fatal para a marca que acabou por ser adquirida pelo Grupo Volkswagen, em 1969, agregando-a à Auto Union para formar a Audi NSU Auto-Union. E por mais contraditório que possa parecer, este modelo da NSU acabaria por ser o promotor do sucesso que a Audi passou a beneficiar no mercado, como também a ser determinante no final da marca NSU, tão-só porque em vez de conseguirem solucionar os problemas dos motores rotativos, optaram por os substituir por motores bem mais pesados e descontextualizados dos restantes argumentos tecnológicos do modelo, os V4 e V6 da Ford. Mas se os rotativos Wankel foram a ‘pedra no sapato’ do RO 80, acabaram por ser o regozijo dos desportivos da japonesa Mazda, a partir de 1978 com o lançamento do célebre coupé RX-7 que foram equipados com um bi-rotor de 573 cm3 cada, debitando 115 cavalos proporcionando uma velocidade máxima na ordem dos 200 km/h, fasquia ultrapassada em 1986 quando a potência foi elevada para 166 cavalos graças à introdução da sobrealimentação por via de um turbocompressor.
À frente do seu tempo
O NSU RO 80 era o que habitualmente se designa por uma berlina de três volumes e quatro portas com quase cinco metros de comprimento – 4.780 mm – da autoria de Claus Luthe e que se distinguiu pelas dimensões, pelo estilo, uma silhueta mergulhante, uma frente que inspirava poder e uma grande superfície vidrada. Mas a singularidade deste modelo estava por baixo da tampa do vão do motor: a propulsão era obra da junção de dois rotores de pistão rotativo Wankel que juntos tinham 995 centímetros cúbicos (497,5 cm3 cada um). Apesar da pequena cilindrada, o RO 80 acelerava dos 0 aos 100 quilómetros por hora em 13,1 segundos e ultrapassava a velocidade dos 180 km/h, pelos seus 115 cavalos de potência, atingidos às 5.500 rotações.
O brilhantismo do modelo não se ficava por aqui:
Tinha tração dianteira e a transmissão realizava-se através de uma caixa semiautomática de três velocidades, cuja maior curiosidade era não ter embraiagem: antes possuía um botão situado no topo da alavanca que atuava um sistema de vácuo, para engatar ou desengatar as engrenagens, sendo as marchas introduzidas pela alavanca, no habitual formato “H”;
Travões de disco às quatro rodas, ainda relativamente invulgar na época, bem como suspensões independentes, tipo MacPherson, na dianteira, e a traseira composta por braços triangulares suspensos, tal qual é comum encontrarmos na generalidade dos automóveis de hoje.
A FIAT foi dona da marca e transformou-a na maior produtora de motociclos
A NSU foi fundada em 1873 em Neckarsulm, na Alemanha, inicialmente como indústria de máquinas de costura. A marca lançou o seu primeiro modelo automóvel em 1905, após um período em que se dedicou ao fabrico bicicletas.
A Fiat comprou a NSU em 1932 para produzir exclusivamente motociclos, tornando-se na maior produtora mundial em 1955. Dois anos mais tarde, a empresa voltou a dedicar-se aos automóveis e lançou o pequeno modelo Prinz.
Em 1969, e seguindo um plano de expansão, a Volkswagen, adquiriu a NSU para a associar à Auto Union, originando a Audi NSU Auto-Union. O RO 80 foi o último modelo lançado com o nome NSU.
Conceito copiado nos Citroen GS, CX e Audi 100
O NSU de Claus Luthe fez história na indústria automóvel: o conceito foi seguido pouco depois pela Citroen com modelos como o GS e o CX e mais tarde, em 1984, pela própria Audi com o modelo 100, inequivocamente inspirado no RO 80. A recordar que o NSU tinha um coeficiente dinâmico de 0,35 cx, marca assinalável para a época.
– por José Maria Pignatelli
(Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)