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A propósito da celebração do 10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, recordo a importância do património cultural associado ao “nosso” Mosteiro de São Dinis e São Bernardo (de Odivelas) e como as opções assumidas para este espaço traduzem mais uma oportunidade desperdiçada, contrariamente ao slogan lançado pelo executivo socialista, em 2006: “Odivelas – Terra de Oportunidades”!
De forma muito objetiva, a criação de um Centro Interpretativo no Mosteiro de Odivelas e a deslocalização dos serviços municipais para este espaço não honram o potencial deste Monumento Nacional (desde 1910) nem o Rei Dom Dinis, que ali jaz e que nos brindou com a edificação desta magnífica obra.
Importa recordar o Rei Dom Dinis e a sua relevância na afirmação da Língua Portuguesa, que se tornou numa das línguas mais faladas no mundo, com mais de 265 milhões de falantes espalhados por todos os continentes, sendo mesmo a mais falada no hemisfério sul.
Foi Dom Dinis que, em 1288, fundou a primeira universidade em Portugal (os Estudos Gerais), onde se podiam assistir a aulas de gramática, retórica, medicina, física e leis – tanto seculares como religiosas; que, mais tarde, em 1297, decretou que o corrente galaico-português fosse designado de português, em vez do latim, passando a ser utilizado na poesia, em notários e na redação de leis; e que foi autor de múltiplas obras escritas, as conhecidas Cantigas de Amigo e de Amor ou as Cantigas de Escárnio e Maldizer, escrita poética que lhe conferiu o cognome de “Rei Poeta”.
Todo este espólio cultural cabe num Museu! Todo este património pode e deve ter lugar num Museu Internacional de Língua Portuguesa!
A este propósito, veja-se o exemplo do Museu da Língua Portuguesa, em são Paulo, conhecido como Estação da Luz, um museu que entre 2006 e 2015 contou com a visita de quase 4 milhões de pessoas.
Depois deste Museu ter sofrido um fatídico incêndio que o destruiu, em 2015, foi recuperado e reabriu portas em julho de 2021, tendo tido a EDP como principal mecenas, através da EDP Brasil, com um contributo de 5 milhões de euros, numa obra que teve um custo total de 13,7 milhões de euros.
Atualmente, depois destas obras, este museu oferece uma área de exposição de 4.333 metros quadrados, divididas por diversos espaços evocativos da Língua Portuguesa, com uso de tecnologia e suportes interativos para construir e apresentar o seu acervo.
Num território como o de Odivelas, que conta com mais de 10% de cidadãos estrangeiros residentes, na sua maioria falantes do português e com origens na Comunidade de Países de Língua Portuguesa, não seria difícil imaginar a integração de um “Museu Irmão” neste Mosteiro.
A nossa “Língua-Mãe”, casa de toda uma diversidade cultural que nos enriquece, com todas as suas variantes fonéticas; a evocação ao Rei Dom Dinis, que aqui escolheu ser sepultado; e a riquíssima história deste mosteiro podem conferir uma experiência museológica única que, com certeza, atrairá inúmeras oportunidades para o concelho de Odivelas!
Mas, olhando para o que o atual projeto municipal nos oferece, verifica-se que para o Centro Interpretativo estão destinados 7.205 metros quadrados, sendo a sua maior fatia correspondente à Igreja (Revista Municipal 40, pág. 42).
E, de acordo com as declarações do Presidente do Executivo Municipal, prestadas à Lusa em dezembro de 2021, este Centro Interpretativo consistirá “num roteiro visitável com a integração dos espaços emblemáticos do monumento num espaço museológico, como a igreja, a sala do capítulo, os claustros, a cozinha e o refeitório das monjas”, em que “pretende-se sobretudo a promoção e a valorização de todo o espaço monumental, reconhecendo o seu importante valor cultural e histórico enquanto referência identitária e evocar a história”.
A ideia do Executivo Socialista deixa antever que teremos pouco mais do que uma visita guiada ao espaço da Igreja e a uma parte do Mosteiro.
Vemos desconsiderada toda uma riqueza cultural associada ao Rei Dom Dinis e à sua importância na instituição da Língua Portuguesa como língua oficial, enquanto assistimos a muitos outros municípios a valorizarem e a potenciarem o seu património, material e imaterial.
Mas não parece ser essa a vontade em Odivelas!
Esta constatação torna-se ainda mais evidente quando se verifica que o Executivo Municipal irá destinar 6.968 metros quadrados do edificado do Mosteiro de Odivelas a Serviços e Órgãos Municipais, quando esta Câmara dispõe de património à sua disposição, destinado a habitação e serviços, em valor superior a 117 milhões de euros, de acordo com a última prestação de contas.
É por isso questionável se, nesta fase, não seria tempo de inverter a opção pela deslocação massificada dos serviços municipais para este espaço de excelência e aproveitar o património já detido para esse efeito.
A ampliação da área destinada ao Centro Interpretativo e o esforço para converter uma zona mais ampla do Mosteiro de Odivelas num Museu Internacional da Língua Portuguesa parece-me, naturalmente, uma opção muito mais digna e representativa do potencial deste Monumento Nacional.
Com competência e empenho, estou em crer que os mecenas e outras instituições de renome não faltariam à chamada no apoio a esta obra, à semelhança do que aconteceu no renovado Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
A Iniciativa Liberal em Odivelas tem, insistentemente, trazido esta proposta à discussão publica, tendo já formalizado esta pretensão na Assembleia Municipal de Odivelas, a qual veio a ser chumbada com os votos contra do Partido Socialista, do Chega e do Bloco de Esquerda, na sessão municipal do passado dia 10 de março.
Com esta medida, considerando a localização do túmulo do Rei Dom Dinis e do Mosteiro no nosso território, pretende-se que Odivelas promova o turismo local, atividades culturais e artísticas, promoção do conhecimento, capacitação histórica dos nossos jovens do território e da Língua Portuguesa, atração de investigadores, colóquios e apresentações de obras nacionais e internacionais e um conjunto de outras ações relacionadas com a atividade de um Museu desta natureza, contribuindo para potenciar o desenvolvimento cultural, económico e social do concelho de forma determinante e incomensurável!
Não há dúvidas que a gestão do espaço do Mosteiro de Odivelas constitui mais uma oportunidade para o concelho!
E penso que não ficam muitas dúvidas sobre o elevado potencial de um Museu Internacional da Língua Portuguesa ao invés de um mero Centro Interpretativo e da instalação de Serviços e Órgãos Municipais, conforme previsto pelo Executivo Socialista. Espera-se que o apregoado diálogo socialista em Odivelas seja uma realidade e que, ao contrário do afirmado no slogan de 2006, esta não seja mais uma oportunidade… desperdiçada!
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- David Pinheiro
Iniciativa Liberal de Odivelas