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Ao celebrarmos o dia 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, impõe-se que pensemos neste nosso rectângulo, em Camões, expoente máximo da língua portuguesa e naqueles que teimosamente enviamos para o exílio económico.
Estima-se que existam para cima de 31 milhões de emigrantes portugueses no mundo, contabilizados até à terceira geração. Se os juntássemos aos portugueses que ainda persistem por terras lusas seriamos cerca de 40 milhões. Actualmente somos o 74.º país mais populoso do mundo, contudo, se por cá estivessem os tais 40 milhões, seríamos o 33.º.
A importância destes números não se cinge a uma espécie de ranking procriador. Ao invés, devem ser vistos nas perspectivas económica e social. A verdade é que com o quádruplo da população certamente que teríamos uma economia mais robusta, assente num mercado quatro vezes maior e numa capacidade produtiva quatro vezes superior. Sendo quatro vezes mais, seríamos um mercado mais apelativo. Acima de tudo, teríamos condições para sermos mais ricos. Importa que não esqueçamos que o capital humano precede sempre o capital!
Pelo que pergunta-se, será inteligente investirmos tanto na exportação de portugueses?
Esta tolice de exportar portugueses e agora cada vez mais habilitados, acabou por nos obrigar a outras rendições antes da capitulação económica a que temos vindo a ser sujeitos.
Por outro lado, já muito se falou e escreveu sobre o malfadado Acordo Ortográfico, sendo que, neste dia que também é de Camões, continua a verificar-se a rendição da língua portuguesa à doutrina de mercado que não controlamos, pois os portugueses são cada vez menos.
Um dos fundamentos aludido pelos intelectuais portugueses responsáveis por este Acordo Ortográfico prende-se com a necessidade de alargar e uniformizar a língua falada pelos povos que usam a mesma base linguística que nós, para facilitar as relações económicas entre estes.
Assim, ao invés de reforçar a nossa força dentro do nosso território, ocupando-o com portugueses que iriam construir, contribuir, pagar impostos, fazer descontos para os diversos regimes de protecção social a quadruplicar, quais vendilhões do templo, alienamos o nosso último recurso, a língua, em prol da economia. Fantástico!…
Pior, a bendita uniformização da nossa língua mater transformou-a numa Babilónia linguística, pois não só não uniformizou, como adulterou e em muitos casos afastou. Fantástico!…
A emoção de afirmar “Viva Portugal!” tem de ser acompanhada da razão de existir Portugal, senão é só comoção e esta arrisca-se a transformar-se num mero sentimento sobre algo passado.
Se, como dizia Fernando Pessoa, “a minha pátria é a língua portuguesa” e se tal continuar a ser importante para nós, então não a alienemos. Certamente que nenhum português dos sete costados aceitaria que se vendesse parte do território nacional em nome de uma qualquer convergência económica. Contudo, com este Acordo Ortográfico é o que se pretende. Com ele vendemos a nossa língua, vendemos a nossa pátria.
De facto e de fato, este país de afectos e não de “afetos” – como nos tentam impingir -, de heróis do mar, de nobre povo, esta nação valente e imortal, merece que se brade à terra inteira que «Portugal não pereceu!» e que, sob um sorridente porvir, persistiremos contra as injúrias da sorte. Que o fado luso se aparte dos vis traidores que até a mãe venderiam se possível fosse.
Não há Despacho, Portaria, Decreto-Lei ou mesmo Lei que me faça escrever sem regras, sem ciência, muito menos suportado numa gramática de ouvido, porque a língua, como a bandeira e o território sendo a nossa pátria são temas para o legislador constituinte, não podendo ser adulterada por acéfalos que com nada se comprometem, buscando somente ser arquitectos, não arquitetos, do fim de uma história que formalmente se conta em centenas de anos, mas que há muito ultrapassou de forma ímpar o marco milenar da existência.
Viva Portugal!
- Paulo Bernardo e Sousa
Politólogo