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Entre os especialistas nesta matéria existe um consenso generalizado de que serão duas as tendências com impacto de médio/longo prazo no funcionamento das instituições de ensino superior: o incremento das culturas de inovação bem como uma necessidade urgente de se repensar de forma holística o funcionamento estrutural dessas instituições.
Para enquadrar a questão da inovação nas metodologias de suporte à transmissão de conhecimentos no ensino superior, nomeadamente quando se trata de conceitos teóricos, importa promover o debate de ideias que induza respostas às questões a seguir indicadas: Quais os desafios emergentes para as instituições de ensino superior, no médio prazo? Quais as tendências e desenvolvimentos tecnológicos que impulsionarão a mudança dos processos de ensino/aprendizagem? Quais serão os desafios que se consideram como solucionáveis e quais os que serão difíceis de superar? e como poderão ser implementadas soluções eficazes?
Em relação aos principais obstáculos para o ensino superior, a combinação de processos de ensino/aprendizagem formais e informais é considerada um dos desafios solucionáveis – este é um aspeto em que já vêm sendo implementadas alguma experiências piloto, em algumas instituições de ensino superior. O Cork Institute of Technology, na Irlanda, é uma das instituições de ensino superior há muito reconhecida pela utilização de metodologias de aprendizagem não formais e valorização de competências adquiridas antes do ingresso na instituição, através do reconhecimento de competências dos seus alunos adquiridas por outras vias e proporcionando a integração nas estruturas curriculares da sua experiência de vida.
Também em algumas instituições de ensino superior estão a ser criados grupos de trabalho que procuram fomentar a criatividade, visando alavancar recursos informais associados aos processos de ensino/aprendizagem dos cursos que ministram; por exemplo, alunos de marketing da Indiana University usam o Instagram para explorar e compartilhar ideias de campanhas publicitárias, procurando que as mesmas sejam bem sucedidas.
Por outro lado, têm sido apresentados diversos estudos que pretendem identificar qual o equilíbrio entre as vidas conectadas e desconectadas dos alunos, o que tem vindo a ser classificado como um desafio de difícil concretização, pelo facto de não ser fácil de definir e muito menos de resolver. O elevado gradiente associado à evolução da tecnologia educacional induz dificuldades acrescidas em discernir adequadamente quando e como implementá-la para promover uma transformação real dos processos de ensino/aprendizagem nas instituições de ensino superior.
Considerando as tendências e os desafios que têm vindo a ser identificados em diversos relatórios, que sinalizam alguns desenvolvimentos tecnológicos que poderão apoiar e constituir fatores de inovação e mudança nas metodologias pedagógicas a adotar nas instituições de ensino superior, é possível identificar um desafio de curto prazo, em que as instituições deverão implementar processos de ensino/aprendizagem suportados no paradigma emergente Bring Your Own Device (BYOD), conjugado com a analítica da aprendizagem (metodologia que permite que os docentes possam tomar decisões tendo em consideração análises sistemáticas e elaboradas de dados relativos ao trabalho desenvolvido pelos alunos e dos contextos educacionais nos quais a aprendizagem se desenvolveu) e metodologias de aprendizagem adaptativa, aproveitando mecanismos de aprendizagem suportados em dispositivos de comunicação móveis, facilitadores da criação de ambientes de aprendizagem online e disponíveis em qualquer instante e lugar. Por outro lado, é urgente que as instituições de ensino superior formalizem grupos de trabalho internos que incentivem a preparação de uma alteração dos processos de ensino/aprendizagem, a implementar num horizonte temporal relativamente curto, com base em ferramentas intrínsecas aos conceitos de realidade aumentada e virtual. Esta transformação dos processos de ensino/aprendizagem nas instituições de ensino superior culminará com a introdução de recursos suportados por tecnologias endógenas aos domínios do conhecimento da computação afetiva e da robótica, perspetivando-se a sua concretização num horizonte temporal de meia dúzia de anos.
Por outro lado, um pouco por todo o mundo, são vários os exemplos de instituições de ensino superior em que os espaços de lecionação estão a sofrer alterações de modo a acomodarem novas metodologias pedagógicas e novos modelos de suporte aos processos de ensino/aprendizagem, baseados em processos ativos de aprendizagem. As configurações tradicionais de sala de aula que posicionam filas de assentos em frente a um pódio estão a ser alteradas visando facilitar a implementação de novas experiências de aprendizagem e de interação na sala de aula. Na Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, foi criado um espaço de configuração das salas de aula, todas a confinar com um átrio central, visando potenciar trabalho colaborativo entre professores e alunos de várias disciplinas. O edifício foi também projetado para atrair muita luz natural induzindo maior bem-estar emocional de professores e alunos.
João Calado
(Professor Coordenador c/ Agregação do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)