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Começo por uma nota prévia: Este texto não pretende fazer juízos de valor ou da qualidade do trabalho envolvido, mas sim, traçar uma fronteira clara, entre jornalismo e gravação de vídeos institucionais ou para um vídeo-blog.
Numa primeira abordagem ao tema, diria que uma reportagem vídeo sobre um evento, institucional ou de um vídeo amador, que se limita à simples gravação de imagens numa posição passiva como outsider do evento, não tem o nuclear de uma peça jornalística – a intervenção do jornalista, comentando ou, preferencialmente, interagindo com o protagonista ou com um dos envolvidos no “evento”, ou seja, fazer uma peça jornalística é muito para além de uma simples recolha de imagens, considerando sempre as palavras chave – Quem, Quando, Onde e Como.
(Coisa distinta é o fotojornalismo, considerando a máxima de que “uma imagem vale mais que mil palavras”, mas a capacidade de sintetizar numa foto uma situação e uma mensagem singulares está fora da temática deste texto).
Na verdade, o “olhar” do jornalista, considerando aqui o repórter de imagem, deverá ir para além da recolha de imagem e procurar transmitir os momentos chave do evento, com as frases força do protagonista e as questões colocadas pelo jornalista e respetivas respostas, que mais tarde o editor irá trabalhar para recortar do trabalho em bruto, que chega à redação, a peça jornalística que “vai para o ar”.
No caso das entrevista e debates, será talvez das peças jornalísticas que mais facilmente marcam a diferença e tornam claro, o que distingue um Órgão de Comunicação Social (OCS) de um vídeo-blog ou vídeo institucional. Mais uma vez, realço o papel ativo do jornalista no centro das decisões, nos formatos, nos temas e sobretudo na condução dos programas, embora nunca devamos esquecer que nas TV Nacionais os jornalistas têm um recetor no ouvido em que recebe ordens constantes da produção e muito poucos têm total autonomia e mãos livres…
Num evento o jornalista nunca pode manter-se numa situação passiva, a sua missão e o que o distingue, é a interação e a procura incessante de declarações e consequentemente de respostas que interessem à opinião pública mas, para isso, deverá ter a tarimba e o conhecimento ao mais alto nível que, só alguns anos a acompanhar o dia-a-dia das entidades e das figuras de destaque, locais ou nacionais, lhe podem proporcionar. Pensar global – agir local.
Obviamente que, numa visão simples de promoção da imagem em que mesmo as mensagens para o exterior passam exclusivamente pela produção de notas de imprensa e produção de vídeos institucionais, sendo aparentemente de grande conforto para o dirigente são, na verdade, o maior erro político, porque não contêm a referência relativa com outros dirigentes, que só é possível passar publicamente com um Órgão de Comunicação Social.
Consequentemente, uma imprensa regional forte é a pedra de toque da Democracia e não é substituível por simples produtoras de imagens.
Nota Final: Os jornalistas não são pessoas sem convicções políticas nem estão vacinados contra a sensibilidade social, o que eles têm de ter, e não é fácil de se ver em Portugal, é a capacidade de tratar com a mesma isenção os temas e entrevistados, independentemente das suas convicções políticas.
– António Tavares, diretor
EDITORIAL