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Assegurada a missão inicial das autarquias locais, em Portugal, que em 1976 “receberam” um território com enormes lacunas, das quais se destacavam a falta de infra-estruturação das aldeias, povoados, vilas e cidades, privadas da distribuição doméstica, de água canalizada, de saneamento básico, de tratamento de resíduos domésticos, industriais e hospitalares, de energia eléctrica, de vias asfaltadas e passeios, parques infantis, etc, as autarquias viram-se confrontadas com uma mudança de paradigma – que município, que freguesia para o seculo XXI.
Na década de 90, do século passado, Michael Porter, reconhecido guru da gestão, foi convidado a vir a Portugal diagnosticar os “clusters” nos quais o país deveria investir os seus esforços. Tentava-se, então, uma mudança de paradigma, para o País.
Semelhantemente, as autarquias, passaram por igual dúvida – o que fazer para concretizar o desiderato constitucional de prover os interesses das populações.
Recordo bem nos meus tempos de universidade, e tendo na turma um vereador de Rio Maior, autor da célebre “Feira das Tasquinhas”, explicar á turma que a aposta do seu município passava pelo “cluster” do desporto, aproveitando uma lacuna, de então, ao nível nacional, apostando para tanto a autarquia de forma efectiva em equipamentos desportivos (desde campos de futebol, a piscinas e pistas de atletismo), conseguindo, com isso, captar para a cidade uma série de eventos, ligados sobretudo ao futebol (como os cursos de treinadores de futebol, torneios, e eventos de natação de projecção internacional). A cidade ganhou muito com o dinamismo fomentado por essa aposta estratégica.
O senão, foi entretanto a Federação Portuguesa de Futebol, ter apostado na sua cidade desportiva, no Jamor, esvaziando Rio Maior. As apostas estratégicas têm riscos, sobretudo se feita a uma dimensão infra-regional.
Seja como for os municípios foram, ao longo dos tempos procurando o seu melhor “cluster”, e é assim que Óbidos apostou na festa do chocolate, Vila Nova de Poiares é a capital da Chanfana, Lourinhã é a Capital dos Dinossauros, Sesimbra é a capital da sardinha, Nazaré a capital da caldeirada de peixe, Olhão é a capital do marisco, São Vicente é a Capital das Sopas caseiras, e por aí fora.
Odivelas, o último município a ser criado em Portugal, desde 1976, teve de fazer a sua opção, e o desporto foi a escolha, vindo o pavilhão multi-usos, apesar da polémica que suscitou, aquando da opção de o construir, servir esse propósito.
Lembro-me bem que os detractores do mesmo brandiam argumentos como a pouca utilização que o pavilhão viria a ter, não justificando o investimento municipal.
A verdade é que a utilização do pavilhão tem sido muito grande, a procura deste equipamento é muito alta por parte de clubes e associações desportivas de diversas modalidades.
Uma modalidade que me diz muito, por ter uma filha como praticante na mesma, para além de primos (não de Odivelas) campeões do mundo e da europa (4 irmãos que formam a Rajani Team), é o Karaté, cuja pujança, em Odivelas, é notável.
Todos os anos as galas de Karaté, em Odivelas, são memoráveis (https://www.youtube.com/watch?v=BAtUrRawSbA), e a demostrá-lo aí temos as bancadas completamente cheias, e os atletas enchem por completo o tapete das actuações às muitas centenas.
Não tenho números, confesso, sobre outros desportos mas não me espantaria que o Karaté tivesse mais praticantes que o futebol, em Odivelas, este tradicionalmente um desporto de massas.
Este tipo de apostas, e os investimentos a eles associados, não são de resultados imediatos, porque geracionais, e só a longo prazo enxergaremos os resultados. Positivos, certamente.
Sem pretender dar mais importância a uns em detrimento de outros, não tenho a menor das dúvidas de que estas apostas moldarão o futuro da cidade, do município, quiçá do país.
Não me espantaria, também, que outros municípios fizessem apostas semelhantes, aliás nem sequer é uma novidade, não só pelo exemplo de Rio Maior, há umas décadas atrás, mas antes mesmo de Rio maior tivemos o Pavilhão Paz e Amizade, em Loures, cujo objectivo também foi o de criar uma centralidade regional. Mas sem o mesmo sucesso de Odivelas, isso é patente.
Porém, os exemplos anteriores têm uma vantagem, permite antever o que nos irá acontecer, seja por força de apostas semelhantes na Região, seja pelo crescimento exponencial do desporto ao ponto de atingir o nível de inadequação da infra-estrutura existente, seja por qualquer outra razão.
Ora isso convoca os poderes municipais a antecipar, alternativas e/ou ajustamentos, para fazer face às surpresas.
E aqui tanto se pode apostar num investimento em novas infra-estruturas desportivas, para acudir à demanda, como se pode explorar “clusters” alternativos que não apenas o desportivo, ou, pensar estas soluções de forma integrada, não à escala municipal, mas á escala regional, no caso metropolitana, por uma razão muito simples – o fomento da qualidade de vida das populações já não se confina mais ao mitigado espaço territorial do município … .
Isto reconduz-nos, embora não seja a intenção deste escrito, à absoluta necessidade de implementarmos as Regiões Administrativas. Certo, certo, é que a prazo o Karaté em Odivelas, a manter este ritmo de crescimento avassalador, poderá vir a ter de encontrar outro “Dojo” territorial.