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Uma análise das alterações que vêm sendo introduzidas no ensino superior, com exemplos disseminados por todo o mundo, permite identificar quais as principais tendências para acelerar a introdução de tecnologia nos processos de ensino/aprendizagem na lecionação dos cursos ministrados nas instituições de ensino superior. Estas tendências, que começam a reunir consenso nos relatórios de grupos de trabalho constituídos para estudar este desidrato, podem ser classificadas em três categorias: tendências de impacto a longo prazo, resultantes da tomada de decisões na atualidade, que continuarão a ser importantes por mais de cinco anos; tendências de impacto de médio prazo que, provavelmente, continuarão a ser um fator importante na tomada de decisões para os próximos três a cinco anos; e as tendências de impacto de curto prazo impulsionadoras da imediata adoção de tecnologia nos processos de ensino/aprendizagem que, provavelmente, permanecerão importantes por apenas um ou dois anos, tornando-se comuns ou desaparecendo nesse período.
Por forma a focar as discussões de cada tendência e desafio, considera-se pertinente considerar três meta-dimensões: política, liderança e prática. A política, nesse contexto, refere-se às leis, regulamentos, regras e diretrizes formais que regem as instituições de ensino superior; a liderança será o resultado das visões de especialistas sobre o futuro dos processos de ensino/aprendizagem, com base em trabalhos de investigação realizados sobre a temática em apreço; e a prática corresponderá à adoção de novas metodologias pedagógicas de suporte aos processos de ensino/aprendizagem subjacentes à lecionação no ensino superior.
Política. Embora todas as tendências identificadas tenham implicações políticas, é possível perspetivar que duas delas tenham um forte impacto nas decisões políticas dos próximos cinco anos. Repensar a maneira como as instituições funcionam é uma tendência de impacto de longo prazo, que exigirá que o poder político priorize reformas importantes do sistema de ensino que ajudem as instituições de ensino superior a reestruturarem-se em torno de um desígnio que visará o aumento da empregabilidade de seus diplomados. A European Higher Education Area (EHEA) lançou o conhecido Processo de Bolonha, visando criar políticas que induzam as instituições a adaptar modelos de funcionamento potenciadores de um melhor apoio à evolução das necessidades dos estudantes e das suas entidades empregadoras.
Vários estudos referem que as métricas a utilizar para avaliar os resultados dos processos de ensino/aprendizagem devem ser suportadas por dados intrínsecos ao desempenho do estudante, o que tem induzido preocupações acrescidas nos dirigentes das instituições no que se refere aos seus direitos de privacidade. Este paradigma emergente exige do poder político legislação orientadora para a criação de códigos de ética, que salvaguardem os direitos de privacidade dos estudantes, quando se implementam algoritmos que retiram dados associados a estudantes específicos, para o seu repositório de registo da sua aprendizagem e correspondente aquisição de competências.
Liderança. Têm sido reportadas duas tendências que se destacam como oportunidades únicas de visão e liderança. A mudança para abordagens de aprendizagem mais profundas que favoreçam experiências práticas e centradas no estudante requer que as instituições preparem os seus docentes para novos papéis como orientadores e mentores. Na Universidade de Delaware, têm vindo a ser realizadas sessões que visam dotar os docentes de novas competências relativas a novas metodologias pedagógicas facilitadoras dos processos de ensino/aprendizagem, baseadas em problemas, colocando-os no papel de estudantes. Os professores espelham o processo de aprendizagem dos seus estudantes, resolvendo de forma colaborativa problemas sociais complexos.
Da mesma forma, a tendência emergente de desenvolvimento de processos de ensino/aprendizagem combinados, exige que a liderança institucional projete oportunidades relevantes de desenvolvimento profissional para seus docentes e funcionários. O Programa de Certificação em Ensino Virtual Online, da Universidade da Pensilvânia, capacita os docentes com as competências necessárias para avaliar criticamente o uso de tecnologias nos ambientes de aprendizagem combinados.
Prática. Várias são as tendências que têm sido identificadas sobre a temática em apreço, com inúmeras implicações nas práticas pedagógicas subjacentes aos processos de ensino/aprendizagem, sendo fácil de encontrar exemplos atuais. O progresso das instituições na promoção de culturas de inovação, destacadas como uma tendência de impacto de longo prazo, está em curso há algum tempo em muitas instituições de ensino superior do mundo. Na Austrália, o curso de Bacharelato em Empreendedorismo, da Universidade de Curtin, envolve os estudantes em atividades de desenvolvimento de negócios com o objetivo de os ajudar a criar as suas próprias empresas. No âmbito da sua formação académica, os estudantes são organizados em equipas de trabalho refletindo a realidade contemporânea de organização das empresas, sendo colocados em contacto com palestrantes convidados e mentores da indústria.
Um pouco por todo o mundo, são vários os exemplos de instituições de ensino superior em que os espaços de lecionação estão a sofrer alterações de modo a acomodarem novas metodologias pedagógicas e novos modelos de suporte aos processos de ensino/aprendizagem, baseados em processos ativos de aprendizagem.
João Calado
(Professor Coordenador c/ Agregação do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)