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A entidade reguladora do funcionamento das instituições de ensino superior deverá implementar políticas que induzam as instituições a um processo de transformação da forma de conferir competências aos seus estudantes indo ao encontro das suas expetativas e, desta forma, potenciando a melhoria do seu sucesso académico e por outro lado, respondendo às expetativas e necessidades das entidades empregadoras, visando a melhoria da sua competitividade num mercado global cada vez mais agressivo, que exige produtos e serviços com um ciclo de vida cada vez mais curto.
Por um lado, temos hoje a entrar no ensino superior uma geração de estudantes que cresceu envolvida pela “oitava maravilha” do mundo, a Internet, a que estão permanentemente ligados, utilizando permanentemente a informação disponibilizada por dispositivos móveis, o que lhes induz competências que têm que ser potencializadas no âmbito dos processos de ensino/aprendizagem utilizados, visando melhorias significativas no seu desempenho académico.
Por outro lado, é frequente ouvir os empresários referirem que não sabem quem serão os seus concorrentes ao fim de horizontes temporais relativamente curtos, consequência do elevado gradiente de desenvolvimento tecnológico que hoje é observado, o que implica que as instituições de ensino superior sejam capazes de preparar os seus diplomados para desempenhar funções cujos requisitos não são conhecidos no momento da sua formação académica.
Este desiderato impõe que sejam assumidos desafios políticos com impacto a longo prazo, a médio prazo e a curto prazo, visando uma transformação estrutural no funcionamento das instituições de ensino superior portuguesas, que acompanhe as tendências internacionais, mantendo-as competitivas e com capacidade para dar resposta aos desafios emergentes acima referidos.
Muitos são os líderes de opinião convictos de que as instituições de ensino superior podem desempenhar um papel importante no crescimento das economias nacionais. Os Centros de Investigação das instituições de ensino superior são frequentemente caraterizados como incubadores de novas descobertas e inovações que afetam diretamente as comunidades locais e até mesmo atingir uma dimensão global. A fim de gerarem inovação e de se adaptarem aos desafios das economias, as instituições de ensino superior devem adotar um modelo de funcionamento estrutural que permita flexibilidade, estimulando a criatividade e o pensamento empreendedor. Há um consenso crescente entre muitos líderes de opinião relativamente a políticas para o ensino superior, de que a liderança institucional e os currículos poderiam beneficiar da adoção de modelos de inicialização ágeis. Muitas são as instituições em que se estão a desenvolver novas abordagens e programas baseados nestas últimas, visando estimular mudanças de cima para baixo que possam ser implementadas numa ampla gama de configurações institucionais. No mundo dos negócios, o movimento Lean Startup usa a tecnologia como um catalisador para promover uma cultura de inovação mais ampla e económica, fornecendo um modelo convincente a ser submetido à consideração dos líderes das instituições de ensino superior.
O movimento Lean Startup foi criado e implementado em Silicon Valley, um dos maiores centros de inovação tecnológica dos Estados Unidos da América, com raízes nas instituições de ensino superior. Muitos graduados pela Universidade de Stanford, por exemplo, tornaram-se empreendedores de sucesso em consequência da experiência adquirida no desenvolvimento de estratégias de negócios com base numa estrutura curricular com uma componente prática muito acentuada. Empreendedores, ex-estudantes de Stanford, são responsáveis por uma receita global de cerca de 3 triliões de dólares por ano. Da mesma forma, no Reino Unido, o grupo de empresários formado por ex-estudantes da Universidade de Cambridge, contribuiu para a criação de empresas com um investimento de aproximadamente 100 milhões de libras, ao longo de um período de 15 anos. Muitos são os fatores determinantes na trajetória de carreira dos graduados, embora ela seja frequentemente influenciada pelas ofertas e estímulos das instituições que frequentam, sendo vital que as instituições de ensino superior promovam os princípios que desejam ver refletidos nos seus estudantes.
A força de trabalho contemporânea exige colaboradores ágeis, adaptáveis e inventivos, exigindo que as instituições de ensino superior reformulem as estruturas curriculares dos cursos que ministram visando a aquisição, por parte dos seus estudantes, das competências mencionadas. Somente nos EUA, o número de cursos formais de empreendedorismo no ensino superior cresceu exponencialmente nas últimas duas décadas, com quase 25% dos estudantes que hoje frequentam o ensino superior a ambicionarem ser empreendedores. Embora esta tendência se tenha materializado muito gradualmente, o impacto positivo é evidente. Um estudo elaborado para a Comissão Europeia revelou que, em comparação com os seus pares, os antigos estudantes das instituições do ensino superior que participaram em programas empresariais conseguiram obter empregos mais rapidamente e estavam mais confiantes nas suas competências para inovar no local de trabalho e iniciar novos negócios.
As mudanças que estão a ocorrer nas instituições do ensino superior, um pouco por todo o mundo, estão a alterar a noção tradicional destas instituições, transformando o paradigma de como funciona o ensino pós-secundário.
João Calado
(Professor Coordenador c/ Agregação do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)