
Os fogos em Portugal são como uma epidemia. Quase todos os anos se repetem momentos de terror, confrangedores para milhares de famílias que vivem no interior do país já de si meio desertificado. Também já está de moda, declarar fogos em zonas urbanas mais arborizadas e mesmo nas imediações dos campos de golfe. Fica-se com a sensação que nada deve escapar à corrosão das chamas: fogo até à última árvore?
Estamos perante um fenómeno que também faz questionar as famílias mais jovens que apostam em viver fora das maiores cidades e investem precisamente em fazer vida no interior criando uma nova visão sobre o Mundo – um planeta mais sustentável – aos ‘olhos’ dos próprios filhos. Não é aceitável construir para que tudo desapareça num minuto vá lá saber-se a razão, a maioria das vezes de forma ficcionada, sobretudo para as investigações a fogos que têm as suas ignições de noite, aproveitando a menor atenção e o cansaço da maioria dos que trabalham de dia, afasta qualquer iniciativa credível e estratégica para repovoar regiões abandonadas para fazê-las ressurgir no âmbito social, económico e cultural.

A desertificação no interior dos países do Sul da Europa deve-se às políticas ideológicas completamente equivocadas dos colectivos dos Órgãos da União Europeia que se decidiram pelas subvenções aos agricultores para consumar as culturas de sequeiro e algumas de regadio. E os governos desses países aceitaram pela ganância em ter cada vez mais dinheiro nos cofres dos Estados como se isso fosse um bem infungível. Redondo engano, sabemos que o dinheiro é um bem fungível que se pode trocar, gastar ou literalmente acabar.
Agora torna-se mais difícil inverter esta realidade; correr atrás do prejuízo e enfrentar os ‘lóbis’ do negócio do fogo que tem calendário anual – vigora entre 4 e 5 meses – e agentes bem conhecidos. É preciso por os helicópteros e os aviões no ar e rendibilizá-los; vender fardamentos e equipamentos e se se perder um veículo de combate a incêndios também não será problemático, pois há quem pague novo e os carroçadores agradecem. Importante é que não se percam vidas, mas isso não é possível garantir de todo.

Imagem da capa jornal Publico, edição do dia 14 de julho
Oiço à miude que o negócio do fogo é como qualquer outro. Não, não é! É um dos alguns negócios contemporâneos sem ética que deviam ser auditados sistematicamente e qui çá controlados por polícias ou serviços de investigação, habitualmente designados por serviços de inteligência
Não há fogos simplesmente porque faz calor!
Fogos, sim, mas só por negligencia, maldade e intencionalidade humana e por fenómenos meteorológicos excepcionais como os raios caídos na sequência das trovoadas tipificadas nas vulgarmente chamadas tempestades subtropicais ou tropicais podem servir de ignição a uma floresta desordenada, mal-tratada e sem manutenção.
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Uma descarga elétrica atmosférica (DEA) é um descarregamento elétrico de enorme intensidade que acontece na atmosfera, entre o que se designa por espaços eletricamente carregados. Ocorre tanto no interior de uma nuvem – intra-nuvem -, como entre nuvens as inter-nuvens – ou entre uma nuvem e a terra nuvem-solo. O raio vem sempre acompanhado do relâmpago que é uma projecção intensa de radiação eletromagnética – que possui elementos na faixa visível do espectro -, e do trovão além de outros fenômenos. Embora as descargas intra-nuvem e inte-rnuvens sejam mais repetidas, descargas nuvem-solo são de maior interesse prático para nós, humanos. A maioria dos raios ocorre na zona tropical da Terra e particularmente sobre as terras emersas, dependentes de fenômenos convectivos quando é intensa a atividade elétrica é intensa. Os fogos florestais nas zonas tropicais ou intertropicais sucedem com frequência, são violentos, mas extinguem-se naturalmente pelas chuvas…. Importa deter-nos no clima tropical que é megatérmico, onde a temperatura média é quase sempre superior aos 18 °C.
Nesta zona do planeta não há estação invernosa e a precipitação anual é superior à evapotranspiração potencial anual.
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O fenómeno já se estende a Espanha e ao Sul de França. Presentemente, na Grécia e em Itália os pirómanos encontram-se mais controlados por que há registos e relação dos antecedentes de cada um deles. E, por exemplo, nos EE.UU. – lá para os lados da Califórnia – e na Austrália, começa-se a rastrear os comerciantes dos incêndios e as detenções aumentam substancialmente com penas pesadassímas entre os Norte-americanos.

Em Portugal, os fogos fazem parte das histórias que se podem contar durante e depois das épocas estivais. Ardem milhares de hectares: Por exemplo, este ano, Portugal volta a bater recordes de área ardida por hectare de floresta. Vejamos em termos comparativos com a Espanha peninsular: Portugal tem 88 889 km2 e 3.2 milhões de hectares de floresta; contra 494 011 km² da Espanha peninsular que possui 26,27 milhões de hectares de massa florestal – 57% do território que o torna no segundo país do ranking europeu – e em 2022 já arderam 87.400 hectares, enquanto em Portugal arderam 38.198 hectares.
Perdem-se milhares de milhões em bens materiais sejam parte integrante da natureza – fauna e flora -, sejam património das famílias, casas, explorações agrícolas e pecuárias. Todos os anos depois do Verão, Portugal fica mais pobre do ponto de vista sócio-económico. E com uma floresta mais empobrecida. O sonho de cada ano em ter um governo responsável que inclua nas suas prioridades o ordenamento do território e, em particular da floresta torna-se miragem e serve às maiores falsidades dos discursos de ocasião.
As televisões espanholas não se esquivaram a emitir uma das maiores anacronias do primeiro-Ministro, António Costa quando afirma “(…) que vencemos o Covid, também venceremos o fogo”. Ora muito bem, teremos de fazer uma pergunta chave: Que Covid o Sr. António Costa e os portugueses venceram?

Mas à semelhança de anos anteriores – haja ou não mortos, feridos e percas milionárias para as economias familiares e para o país – todos se vão esquecer deste terrível momento quando chegarmos mais perto do Outono: a época dos fogos acabará e todos farão férias das chamas, ou seja, todos aqueles que só experimentam o flagelo pela televisão e as imagens nas páginas dos jornais descansarão emocionalmente durante sete meses aproximadamente.
Mas as vítimas dos incêndios florestais jamais esquecerão o espectáculo aterrador, as temperaturas altíssimas levadas pelos ventos a pairarem perto dos seus corpos, os seus bens em risco ou simplesmente perdidos e, tantas vezes, a falência das suas vidas como oferta do fenómeno que na maioria dos casos nada tem de prodígio. As famílias das vítimas de Pedrógão Grande, não esquecem como certamente todos aqueles que ainda nada ou pouco receberam desta tragédia que aconteceu a 17 de junho de 2017 quando dois incêndios se juntaram e fenómenos de vento de grande violência empurraram as chamas por mais de 10 quilómetros entre Pedrógão e a Estrada Nacional 236-1. Assalta-me a pergunta do milhão: ¿Já todos receberam indemnizações, ajudas competentes e os milhões da solidariedade dos cidadãos? Tenho a percepção que não, mas a certeza que desde o Presidente da República (o maestro das selfies) à maioria dos Órgãos de Comunicação Social se esqueceram… Já passou a eternidade de longos 5 anos.
Por cada hectare ardido perdem-se entre 1.111 e 1.666 árvores
E cada uma delas armazena entre os 130 e 222 quilos de CO2
Todos os dias ouvimos falar do aquecimento global do planeta como se isso já não tivesse acontecido ou o mesmo em sentido inverso. Mas são mínimos os comentários sobre a preocupação do desaparecimento progressivo da massa de floresta.

Vejamos: O carbono armazenado por árvore é de aproximadamente 130 kg CO2-eq para as árvores na Mata Atlântica, e 222 kg CO2-eq para as árvores da Floresta Amazônica; enquanto em 2019 (última estatística divulgada) o mundo emitiu 36,4 bilhões de toneladas do gás.
Pergunta-se: mas afinal quantas árvores são precisas para reter 1 tonelada de CO2?
Os dados que se conhecem apontam para a necessidade de 7 árvores, para deter 1 tonelada de carbono nos seus primeiros 20 anos de idade; enquanto se estimam que são necessárias 22 árvores para fornecer oxigénio a uma pessoa.
Ora para termos uma ideia do que se perde num hectare de floresta devemos ter presente a realidade: 830 a 2.500 árvores estabelecendo uma área por planta em que variam de 4 a 12 metros quadrados. No entanto, habitualmente considera-se a perca entre 1.111 e 1.666 árvores por hectare ardido. E para que se possa ter uma noção do que se perde com os fogos nos países mediterrâneos ficam o nome das árvores que mais oxigénio produzem: Árvore kiri, pinheiro de Alepo, pinheiro-manso, sobreiro mediterrâneo, jacarandá, mélia ou canela, acácia com três espinhos.
A maior dor de cabeça está na libertação do metano no Ártico siberiano
Há 56 anos; há 54 anos; há 52 anos. … Há 46 e 45 (também há menos anos) experimentei esse superior aquecimento global, precisamente em alguns países do Golfo, com 48 graus à sombra e mais de 52 debaixo do Sol. Atrevo-me a deixar a dica: sobre o convés de um barco com casco em aço podíamos estrelar um ovo ou transformar a sola de um tênis numa espécie de raqueta. Afinal, o vagabundo do CO2 já andava à solta, mas ainda longe de nós, do Ocidente das vacas, dos porcos, das galinhas e da nossa ignorância alimentada pelo marketing político e pelas modas de quem nunca se levantou de uma cadeira para trabalhar de verdade, olhar o Mundo e estudar a realidade. Ah! Já agora seria razoável tentem saber n realidade quantos quilogramas de CO2 liberta um humano por cada hora ou por cada dia. De qualquer modo, para ajudar convém esclarecer como um ser humano ou um mamífero produz CO2: o gás carbônico é constantemente produzido pelas células durante o metabolismo celular (respiração celular), gerando uma diferença de concentração entre o interior da célula e seu exterior (espaço intercelular ou interstícios), e uma consequente difusão desse gás carbônico para o líquido intersticial.
O aquecimento global no hemisfério Norte deve-se fundamentalmente à libertação de metano no Ártico. Desde 2020 que se registam libertações do gás para atmosfera que é o mais simples dos hidrocarbonetos. Acontece no Ártico siberiano onde se monitorizam essas libertações nos lagos congelados também conhecidos pelos “gigantes adormecidos”.

Isto acontece pela pressão do gelo no subsolo, pelo que se designa recentemente por Permafrost, também chamado de Pergelissolo. Trata-se de um tipo de solo formado por gelo que pressiona a rocha e os sedimentos fragmentando-os e que armazena também uma grande quantidade de carbono. No essencial o PermafrosT fragiliza a crosta e isso permite a libertação do metano ainda que lentamente, nos lagos gelados da região siberiana.
O metano é o principal contribuinte para a formação do ozônio ao nível do solo, mas é um poluente perigoso, cuja exposição causa 1 milhão de mortes prematuras a cada ano. É 80 vezes mais prejudicial para a atmosfera que o CO2.
Podemos considerar que as emissões antropogénicas de metano ocorrem pela extracção, refinação e distribuição de combustíveis fósseis, actividade agrícola, pecuária, por aterros de resíduos urbanos e estações de tratamento de águas residuais.
Mas teremos de atender que as grandes origens de metano são provocadas por falhas geológicas como a actividade vulcânica, dos pântanos e da decomposição de resíduos orgânicos.
– por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)