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Há muitas formas de ofender fisicamente. Há várias maneiras de dar um murro ou um empurrão. Há matizadas formas de violência física. Conhecia o Eduardo Lourenço há alguns, muitos anos. Foi meu ex-vizinho do lado de lá do jardim. Era vizinho de um viridário – vulgo parque urbano como está na moda chamar-se a um jardim melhor – que se acreditava seria uma espécie de “menina dos olhos” de quem vive na Ribeirada, um dos bairros mais interessantes sob todos os pontos de vista da cidade de Odivelas. Uma zona quase de luxo entre a urbanidade.
O Eduardo era um dos muitos lá do bairro. Um bem-educado. Zeloso pelo bem-estar da comunidade e pelas coisas boas da Ribeirada. Critico, mas condescendente. Detestava a inércia e os malfazentes.
Mas já em finais de 2018 e início de 2019, pouco tempo depois da sua conclusão, muitos se aperceberam que o mega jardim da Ribeirada -ou parque urbano como queiram – se iria transformar em mais um lugar de reunião de candidatos a delinquentes menores e de vândalos alguns já recenseados na polícia. A falta de vigilância, a inoperacionalidade da PSP de Odivelas e a deficiente iluminação associada ao desinteresse dos habitantes qui çã por receio ou por mera displicência de quem tem mais de fazer que alertar as autoridades, acaba mal na maior parte das vezes.
O Eduardo Lourenço saiu de casa para dar o seu giro com o amigo de quatro patas, à hora errada e na direcção mais desaconselhável. Deu de caras com uma béstia que lhe aplicou um soco – mal-intencionado certamente -, mesmo para abalar como quem julga impor respeito menosprezando um maior.
A vida tem destes infortúnios. Mas a adversidade do Eduardo Lourenço não pode passar desapercebida como se de um acidente se tratasse. ¡Não! ¡Não! Não se trata de uma casualidade.
O autor deste soco, matou. Cometeu-se um homicídio e não poderá ter atenuantes algumas como se apregoarão irreflectidamente:
O murro mal dado; a falta de sorte; a força incontida da juventude; o infortúnio do Eduardo ter tombado sobre o solo e batido com a cabeça onde não era suposto; a reacção de pânico do jovem ao ver na penumbra um maior com um cão pela trela; a falta de oportunidades para os mais novos, agora confrontados e assustados com a crise da pandemia de SARS-CoV-2, a guerra na Ucrânia e uma mão-cheia de coisas más.
Enfim, tudo aquilo que uma boa defesa inovará e recriará.
Oxalá que a Justiça portuguesa não subestime o ofendido que tão pouco se poderá defender, apadrinhando o prevaricador como quase sempre faz em nome da Lei e dos direitos e liberdades, com aquele antigo registo de que errar é humano.
Oxalá que os testemunhos se queiram fazer ouvir, não temam por isso e se distanciem das coacções.
Deus queira se faça Justiça ao Eduardo que perdeu a vida porque foi socado com tremenda violência capaz de o deitar ao solo e provocar-lhe um traumatismo Crane encefálico irreversível. Há murros que não se podem dar, são imperdoáveis e muito menos repetir-se.
– por José Maria Pignatelli