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As mudanças que estão a ocorrer nas instituições do ensino superior, um pouco por todo o mundo, estão a alterar a noção tradicional destas entidades. Estas alterações estão a ser suportadas por trabalhos de investigação que vêm sendo realizados, que destacam a desconexão entre as exigências da economia do século XXI e o que os diplomados pelas instituições de ensino superior estão preparados para fazer quando terminam os seus cursos. Visando dar resposta aos desafios desta realidade emergente, dotando os estudantes com as competências que o mercado de trabalho pretende, será urgente implementar novas iniciativas políticas, programas e currículos que incentivem os estudantes a trabalhar colaborativamente em contextos interdisciplinares visando a procura de soluções inovadoras para problemas complexos. Outra característica desta tendência é a ênfase em explorar métodos alternativos para a transmissão de conhecimentos, visando acomodar uma população estudantil com competências acrescidas ao nível das tecnologias de informação, procurando dar resposta a uma grande diversidade de necessidades. Modelos emergentes, como a aprendizagem híbrida ou combinada e a educação baseada em competências, estão a salientar as ineficiências das abordagens do sistema tradicional, quando aplicadas a estudantes “não tradicionais”. Esses novos paradigmas estão centrados na aprendizagem online, um método que permite que as instituições de ensino superior consigam dar resposta às expetativas dos estudantes e do mercado de trabalho, tornando a formação superior mais acessível e criando programas que ofereçam uma proposta de valor acrescentado para os estudantes.
O panorama digital que hoje invade o nosso quotidiano está a criar oportunidades adicionais de aprendizagem para os estudantes fora das instituições, observando-se mudanças graduais nas instituições de ensino superior visando acomodar as expetativas em evolução. Além de promover culturas de inovação, há outros sinais de que o ensino superior está a passar por uma transformação de longo prazo. As conclusões do relatório International Trends in Higher Education 2015, da Universidade de Oxford, dão ênfase a diversas medidas políticas que têm sido tomadas por alguns países visando a internacionalização do ensino superior, com o objetivo de melhorar a qualidade e impulsionar a competitividade económica através de programas de doutoramento que proporcionam aos estudantes a aquisição de competências transferíveis para as empresas. Outro relatório da European University Association revela que um número crescente de instituições tem vindo a implementar um conjunto de iniciativas que procuram melhorar a resposta às necessidades económicas e sociais, aumentando a empregabilidade dos seus diplomados.
Esses fatores estão a induzir o desenvolvimento de novas estruturas curriculares que implicam mudanças profundas e sustentadas no processo de aprendizagem dos estudantes, através da realização de atividades interdisciplinares. Recentemente, a Universidade da Europa Central lançou o projeto “Temas Intelectuais” potenciando a colaboração entre diferentes grupos e departamentos para expandir as suas ofertas formativas interdisciplinares.
No mundo, são várias as instituições de ensino superior que enfrentam profundos processos de reestruturação, eliminando os tradicionais “silos” académicos, para formar uma comunidade interdisciplinar de estudiosos e solucionadores de problemas. O Programa de Investigação Transdisciplinar MnDRIVE, da Universidade do Minnesota, financia projetos de investigação colaborativos que incorporem pelo menos três dos seguintes domínios do conhecimento: descobertas e tratamentos para doenças cerebrais; robótica, sensores e fabricação avançada; processos avançados para a indústria e conservação do meio ambiente e empreendimentos globais no setor da alimentação. Os estudantes da Universidade de Boise State podem fazer um curso intensivo de duas semanas que reúne estudantes de biologia, geologia e sociologia visando criar uma estrutura base de comunicação entre os diferentes domínios do conhecimento. Com a gestão da água como tema abrangente, os estudantes exploram diferenças em escalas espaciais e temporais, opções de modelação e terminologia, visando o desenvolvimento de abordagens interdisciplinares que resolvam problemas complexos.
Modelos de negócio emergentes, possibilitados pelos avanços nos processos de aprendizagem online, estão também a induzir mudanças significativas no ensino superior. Uma abordagem interessante dessa tendência tem sido descrita como a adoção do modelo “Education-as-a-Service” (EaaS), fomentando abordagens em que os estudantes frequentam apenas as Unidades Curriculares que desejam e precisam. O modelo EaaS resultará num novo paradigma de “cliente para a vida” que reterá os estudantes através da prestação de serviços que tornem suas competências óbvias e acessíveis aos empregadores. Além disso, um documento do American Enterprise Institute destaca o ensino baseado em competências (Competency-Based Education – CBE), que concede créditos com base nas competências demonstradas pelos estudantes, como um veículo eficaz para personalizar a sua experiência no ensino superior e ajudar as populações de estudantes desfavorecidas a obter o seu grau académico. Este modelo de educação centrado no estudante tem sido reconhecido como assumindo um papel crucial na evolução de curto prazo que se irá verificar no ensino superior.
João Calado
(Professor Coordenador c/ Agregação do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)