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O crescimento das urbes, nem sempre conduz a um desenvolvimento sustentado, e isso vê-se no binómio qualidade de vida versus acessibilidade a bens e serviços básicos.
Uma cidade como Odivelas, que conheceu um incremento exponencial na floresta de cimento em que se tornou, fruto da ocupação espacial potenciada pela população oriunda de outros lugares, aqui encontrando uma vasta área para implantação daquilo que outrora foi conhecido como bairros clandestinos, mais tarde eufemisticamente rebaptizada como AUGIS, áreas urbanas de génese ilegal, deu lugar a novas preocupações decorrentes dessa maciça demanda por terreno de construção.
Para além do gritante problema de uma reduzida mancha verde, em Odivelas avulta a exposição a questões de segurança, se em presença de catástrofes naturais, capazes de fazer desmoronar as pontes existentes ao redor de Odivelas.
Na verdade, a construção de uma rede viária, circundando o município de Odivelas, como é o caso da A36 (crel), da A9 (cril) da IC22 (Radial de Odivelas), transformaram a cidade e o município numa ilha com 26.54 Km2, para além da ribeira existente a qual só por si já era um obstáculo natural, embora confinada á parte sul da cidade.
São pelo menos 18pontes que nos ligam a Lisboa, e a Loures :
1 – acesso da CRIL ao Strada;
2 – aesso do Strada á CRIL;
3 – pequena ponte no porto da Paiã;
4 – ponte de acesso do Porto da Paiã ao vale do forno;
5 – acessos rodoviário em ponte junto a´escoal agrícola da Paiã;
6 – Ponte rodoviária da estrada de Stº Eloy para a Pontinha;
7 – Pequeno acesso em ponte para o Kartódromo de Odivelas
8 – Ponte das Patameiras para serra da luz;
9 – Ponte de acesso a seguir ás bombas da feira do silvado para a estação intermodal do sr. Roubado;
10 – Acesso superior rodoviário sobre a Malaposta;
11 – Ponte rodoviária do Olival Basto para a rotunda da antiga Lar Giro;
12 – Pequena ponte da Póvoa de Stº Adrião, junto ao edifício devoluto da JAE (agora com obras de requalificação);
13 – Ponte da Radial de Odivelas sobre Odivelas;
14 – Ponte da Radial sobre a Ramada,
15 – Ponte ferroviária do metropolitano;
16 – Ponte viária junto ás portagens da CREL Montemor;
17 – Ponte do acesso viário superior junto ao Beatriz Ângelo.
18 – Ponte de entrada em Odivelas, pela escola Avelar Brotero;
Uma catástrofe ao nível de um tremor de terra, ou actos de terrorismo visando essas infraestruturas, colocarão os odivelenses na posição de ilhéus indefesos, por corte das vias rodoviárias aéreas, e ferroviárias (metro) com a capital, onde se concentram o grosso dos meios de socorro e emergência.
É certo que com a construção do Hospital de Loures, ficou mitigada essa situação de desfavor, no entanto a ligação a esta unidade hospitalar apenas é assegurada pela estrada nacional que liga a ponte da bica, na Ramada. Não é uma via rodoviária adequada ao escoamento de acidentados em caso de catástrofe, e sendo a única, o entupimento e consequente estrangulamento do fluxo rodoviário seria mais do que previsível.
Mais adequado será o acesso pelo alto da Ramada (parte nova a norte), com uma ampla via rodoviária em ambos os sentidos, desembocando perto do Hospital Beatriz Ângelo, isto se o acesso nº 17 não colapsar, caso contrário fica cortado o acesso a esta unidade hospitalar.
O sentimento de segurança é ilusório, e pode levar a uma procrastinação das soluções, que contudo não resolvem tudo mas mitigam os efeitos e os impactos.
Assumindo estas infra-estruturas como necessárias, e são-no, indubitavelmente, resta a prevenção, cuja responsabilidade impende sobre o executivo municipal, não só de Odivelas mas também com os municípios confinantes destas infraestruturas, como é o caso de Lisboa, Amadora, e Loures, numa lógica de intervenção integrada de meios, e por isso ser incompreensível como o Plano Geral Municipal de Emergência de Odivelas declara, candidamente, na sua página 7, que não foi considerada a articulação com outros municípios. Mais uma vez se faz sentir a urgência das Regiões Administrativas.
Este plano consagra outra bizarria logo na página seguinte, no que se refere aos critérios para activação do plano, não contempla os actos de terrorismo, dito de outra maneira, se o plano for levado á risca, havendo actos de terrorismo visando as infraestruturas públicas, o plano não é activado.
Gizada a prevenção, é essencial sensibilizar a população sobre o modus operandi em caso de verificação de um cenário de catástrofe natural, ou acto terrorista, designadamente prevendo pontos de aglomeração/concentração da população.
Ora o plano acima aludido define, e bem, 3 pontos de concentração para a população: na cidade de Odivelas, é no antigo campo do Odivelas Futebol Clube (hoje com várias infra-estruturas desportivas reduzindo drasticamente o espaço livre para concentração de pessoas); na Pontinha é no campo de futebol Tenente Valdez; e em Caneças no respectivo campo de Futebol.
Nos meios a utilizar, e considerando que Odivelas se pode transformar numa “ilha” salta á vista de qualquer um que o meio helitransportado é a solução mais eficiente e mais eficaz.
Ora isso, não só, não está previsto, como não existe nenhum espaço onde se possa fazer aterrar um helicóptero de emergência.
Não basta pois fazer uns quantos prospectos informativos, ou ter no site do município a informação pertinente.
Antes de mais urge rever este plano, obsoleto, e chegar aos odivelenses, começando pelas comunidades escolares, um bom meio para replicar a informação, sem esquecer que nenhum plano é bom se não for testado em contexto real. Isso é inegociável.
– Oliveira Dias
Politólogo