Este conteúdo é Reservado a Assinantes
Alguns líderes das instituições de ensino superior têm vindo a defender em diversos fóruns que os processos de ensino/aprendizagem emergentes exigem novas configurações das salas de aula. Algumas instituições de ensino superior, um pouco por todo o mundo, estão a adotar programas facilitadores da implementação de novas metodologias pedagógicas e estratégias emergentes, alterando as configurações tradicionais de sala de aula, reorganizando os ambientes de aprendizagem para acomodar um ensino mais ativo. As configurações dos espaços de ensino são cada vez mais projetadas para suportar interações baseadas em projetos, visando proporcionar uma maior mobilidade, flexibilidade e uso de vários dispositivos de apoio à aquisição de conhecimentos e correspondentes competências. As instituições estão a atualizar a largura de banda das redes sem-fio, visando a criação de “salas inteligentes” que suportem sistemas de videoconferência e outros métodos de comunicação remota e colaborativa. Grandes monitores e telas estão a ser instalados para permitir a colaboração em projetos digitais e apresentações informais. Vêm-se observando transformações na forma de lecionar no ensino superior, caraterizadas por um afastamento crescente das aulas tradicionais baseadas no método expositivo, em direção a cenários mais práticos, em que as salas de aula das instituições de ensino superior se começam a assemelhar a ambientes sociais e de trabalho reais, que facilitam a interação entre instituições e a solução de problemas interdisciplinares.
Uma abordagem centrada no estudante, que se pretende impulsionadora do processo ensino/aprendizagem, tem vindo a ser implementada em muitas instituições de ensino superior do mundo, induzindo os docentes do ensino superior a repensarem a configuração dos espaços de lecionação. Existe um reconhecimento generalizado do valor acrescentado dos espaços de lecionação renovados, no que se refere aos processos de ensino/aprendizagem; por exemplo, um estudo de três anos, realizado na Universidade de Ball State, permitiu concluir que os estudantes eram mais propensos a se envolver, quando inseridos em espaços de lecionação inovadores. Instituições como a Universidade de Queensland abandonaram os moldes tradicionais da sala de aula para acomodar novas metodologias pedagógicas. Nesta instituição foi criado um espaço de aprendizagem misto, facilitador de atividades baseadas em equipas com um layout mais dinâmico. As reconfigurações destes espaços visam suportar o que é frequentemente designado de aprendizagem flexível ou ativa. Alguns autores argumentam que os novos ambientes de lecionação, caracterizados por um novo design das salas de aula que permita a colaboração e a aprendizagem baseada em projetos, começarão brevemente a ser fortalecidos com equipamentos, permitindo que os estudantes modelem e criem objetos.
Enquanto se vão promovendo fóruns de discussão potenciando o debate de como reinventar os espaços físicos visando responder às expetativas dos estudantes e facilitar a sua aprendizagem, começam a existir consensos relativamente ao design do espaço que melhor promove a aprendizagem online. Por exemplo, a Universidade de Purdue criou uma área de aprendizagem flexível que pretende responder às expetativas dos estudantes, tanto no campus como aos estudantes do ensino à distância. Esta área de lecionação está equipada com colunas acústicas e microfones de teto e móveis para captura de áudio, proporcionando condições para aulas de engenharia interativas, quer para estudantes locais ou remotos. Essa integração de espaços de lecionação físicos e virtuais tem vindo a introduzir uma nova forma de desenvolver metodologias de aprendizagem combinadas. Este novo paradigma permite uma integração de canais presenciais, assíncronos e síncronos de comunicação online; a participação de estudantes em diversos locais é citada como um benefício-chave, exigindo que as salas de aula físicas sejam projetadas para permitir que os estudantes comuniquem perfeitamente uns com os outros, cara a cara e virtualmente.
A Internet e as tecnologias de informação e comunicação suportadas por dispositivos móveis revolucionaram o modo como as pessoas encontram, consomem e interagem com os conteúdos. Uma manifestação desta tendência é a retirada de livros e revistas científicas das prateleiras das bibliotecas académicas, o que tem gerado alguma controvérsia no seio de algumas comunidades académicas. As bibliotecas estão a substituir as tradicionais prateleiras com livros, por novos tipos de espaços que oferecem áreas de estudo mais colaborativas e individuais. Já desde há alguns anos, que a Biblioteca Principal da Universidade de Cornell tem vindo a adaptar os seus espaços visando assegurar uma resposta adequada às expetativas dos estudantes, recorrendo às tecnologias de informação, dispositivos móveis e espaços que proporcionam o desenvolvimento de atividades colaborativas. Esta reestruturação da mencionada biblioteca encontra-se atualmente numa fase de aumentar o número de assentos, espaços de estudo, superfícies de escrita e móveis com configurações ajustáveis. Da mesma forma, a Universidade de Deakin reconheceu que seus estudantes precisam de um espaço de aprendizagem informal que esteja sempre disponível. A sua biblioteca Waurn Ponds possui uma zona aberta 24 horas por dia, com sofás e recantos de estudo, onde os estudantes podem aceder a livros eletrónicos e recursos online.
João Calado
(Professor Coordenador c/ Agregação do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)