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Os sectores do turismo e o cultural têm vindo a assumir um papel muito relevante na sociedade contemporânea, sendo áreas estratégicas com responsabilidade pelo crescimento económico e social dos territórios e, como tal, parte integrante das políticas de regeneração dos centros históricos e urbanos.
Fruto da globalização, as grandes alterações que as sociedades têm vindo a registar nas últimas décadas têm moldado as características mais distintivas do espaço urbano, da produção cultural e da indústria do turismo dos territórios.
Novos segmentos de mercado, uma procura cada vez mais exigente, as alterações tecnológicas e a diferenciação de produtos e serviços marcam a área cultural e o sector do turismo. E a capacidade de adaptação a uma realidade em constante mutação é essencial num mercado competitivo. São atualmente setores económicos relevantes e imprescindíveis e que têm feito surgir pequenas e médias empresas, geradoras de vantagens competitivas muito relevantes.
Por isso, a área cultural e o setor do turismo assumem um papel preponderante no espaço urbano e no seu ordenamento, sendo hoje consensual o seu contributo para a qualidade de vida da comunidade, da coesão social, da identidade e diversidade (nomeadamente a cultural), potenciadores, também, do crescimento económico da comunidade, pela criação de emprego e riqueza geradas.
Por um lado, o turismo é hoje um sector estratégico na revitalização dos territórios, desempenhando um papel muito relevante na transformação física, económica e social do mesmo, pelo que se mostra imprescindível o investimento em determinadas facilities, que poderão ser utilizadas por residentes e visitantes. Por outro lado, a complexidade do conceito de cultura contempla não só aspetos de âmbito material como também intangíveis, podendo ser visto como um produto ou como um processo fruto de comportamentos de uma determinada comunidade. Este sector, nomeadamente na sua dimensão das indústrias criativas, tem vindo a assumir-se na economia urbana com uma contribuição direta para as economias nacionais (no PIB) ou no número crescente de postos de trabalho.
Temos visto muitos centros históricos afetados negativamente pelo crescimento de grandes polos de atratividade. Ao assumirem-se como áreas suburbanas apenas adotaram as funções habitacionais, relegando par segundo plano a indústria, o comércio, incluindo o tradicional, a animação ou os serviços, assim como o incremento da sua competitividade suportada na captação de investimento, influenciando negativamente a atratividade destas áreas, que se vêm a revelar como a origem do seu declínio.
Mas poderá existir esperança, através da definição de estratégias de regeneração e reabilitação urbana, que devem procurar melhorar os aspetos ambientais, sociais ou económicos que influenciem diretamente a qualidade de vida das populações, transformando estas áreas obsoletas em territórios atrativos a visitantes, turistas, novos residentes ou investidores.
Não existe uma fórmula ideal para uma revitalização bem-sucedida, no entanto existem particularidades que se forem respeitadas são o ponto de partida para o sucesso da implementação destes projetos. A identificação das características do local, os seus problemas, constrangimentos e envolvimento da população é essencial. Da mesma forma que só uma intervenção integrada e que contemple diversos sectores poderá alcançar os objetivos delineados.
A reabilitação das áreas urbanas compreende aspetos que passam pela preservação e conservação do património físico; pela manutenção da diversificação funcional e social; pela criação/ incentivo da mobilidade e acessibilidade urbana; e pela revitalização da imagem urbana. Um centro urbano só é atrativo e dinâmico se contiver uma série de funções, como a habitação, os serviços, o comércio, a animação ou o emprego, e se integrar novas realidades, incorporando soluções como a adoção de planos de mobilidade que englobem uma rede de transportes públicos e a adequação do espaço ao peão e ao uso de meios de transporte não poluentes, entre outros. Estas melhorias têm de ser acompanhadas da assunção de uma nova imagem e da forma de comunicar.
A regeneração urbana aliada ao turismo e à cultura passa, por isso, pela conciliação dos diferentes interesses que o espaço agrega e que convergem procurando uma série de bens, produtos e serviços diversificados.
Este contexto e estes conceitos, como muitos outros, são desconhecidos ou têm vindo a ser relegados pelos subsequentes responsáveis pela gestão do território de Odivelas. Atualmente pela maioria socialista, antes por estes de braço dado com sociais-democratas e nas décadas de 80 e parte de 90 pelos comunistas.
Odivelas vive uma realidade onde graves constrangimentos condicionam o território, mas onde dominam uma forte identidade e os recursos singulares, constituídos pelo seu património construído e monumental, etnográfico e cultural, aos quais se deveria associar a atividade turística e cultural.
A imponência do Mosteiro de Odivelas e a sua articulação com um centro histórico, a ruralidade urbana de Caneças, a importância da água e das indústrias artesanais em que o vento era a força motriz, o relevante papel da Pontinha para a liberdade em Portugal, conjugados com os legados gastronómicos e vivências culturais únicas são passados que não devem ser renegados, mas potenciados para o futuro.
Têm sido realizados investimentos, mas como em tudo não foi definida estratégia que promova a afirmação de Odivelas como destino turístico e cultural de qualidade. O Centro Interpretativo das Águas de Caneças e a reabilitação da Fonte das Piçarras são disso exemplo, tal como a futura revitalização do Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, vulgo Mosteiro de Odivelas, para maioritariamente funções administrativas do município e para dormitórios. São obras isoladas, avulsas, sem um fio condutor que as ligue entre si e que possa contribuir para a sua promoção além-fronteiras, num período em que a Área Metropolitana de Lisboa recebe milhões de turistas e onde nem a vantagem do metro subterrâneo, com 3 estações no Concelho, se revela como uma vantagem para Odivelas.
Deste desalento é exemplo a ausência de unidades hoteleiras no concelho ou mesmo o número reduzido de unidades de alojamento local. Em Odivelas apenas 70, comparando com as 103 da Amadora, 143 de Loures, 386 de Oeiras, 1115 de Sintra, 1123 de Mafra, 2163 de Cascais ou das 20153 em Lisboa, mas também com as do sul do Tejo: 169 de Palmela, 261 do Seixal, 723 de Setúbal, 900 de Sesimbra ou 1249 de Almada.
Na cultura, o relevante Centro Cultural da Malaposta está de costas viradas para o concelho, com as portas abertas a Lisboa, confundindo-se com a oferta cultural da capital. A empena cega do edifício virada para o IC17, que poderia ser uma montra de promoção da sua atividade cultural, resume-se a um estandarte grosseiro de propaganda política do município. A Quinta do Espanhol, a que muitos insistem chamar de Espírito Santo, poderia ser um espaço nobre de cultura, quem sabe o Museu do Concelho, mas foi recuperado para gabinetes de trabalho. O centro histórico morre a cada dia que passa. O comércio tradicional fecha portas por ausência de estímulos. Os rios e ribeiras, que poderiam ser espaço lúdicos, são tomados por canaviais. Os miradouros tornam-se locais de marginalidade. Os sítios arqueológicos estão ao abandono. A Mata da Paiã, que poderia ser um local de lazer, convívio e prática desportiva, é um espaço fechado e sem dinamismo. Os mercados, locais de comércio tradicional e de convívio, são espaços em declínio que poderiam ser espaços de encontro e partilha de um concelho multicultural. A existência de um nobre Teatro Municipal é uma miragem.
Para mal dos Odivelenses, turismo, cultura e regeneração urbana em Odivelas, por incúria ou incompetência, não significam nada para os governantes socialistas e como por eles apregoado em campanha eleitoral só nos resta “Continuar Odivelas”.
– Filipe Martins,
Membro do Iniciativa Liberal de Odivelas