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Em 16 de dezembro de 2001, no rescaldo da noite eleitoral das autárquicas desse ano, António Guterres, à época Primeiro-Ministro, demitiu-se segundo as suas palavras para evitar “… um pântano político” em Portugal.
Grande lucidez que António Guterres demonstrou ao apresentar a sua demissão e levar para o desemprego político inúmeros “boys” socialistas, ao contrário do que atualmente acontece com António Costa que se mantém agarrado ao poder a todo o transe.
Com efeito, nas eleições autárquicas de 2001 o Partido Socialista teve uma derrota histórica, tendo perdido, entre outras, as Câmaras Municipais de Lisboa; Porto; Sintra; Setúbal; Coimbra e Faro.
Aliás, as eleições autárquicas de 2001 deverão servir de exemplo para todos aqueles que fazem oposição, a nível local e nacional, ao poder cada vez mais tentacular e hegemónico dos socialistas, sendo demonstrativo de que é possível derrotá-los democraticamente.
Penso mesmo que para evitar a tentacular hegemonização do poder em Portugal, atualmente em curso, os eleitores terão, com toda a certeza, mais cedo ou mais tarde, a sabedoria de derrotar os socialistas em eleições, quer sejam locais ou nacionais.
Evitar que o Partido Socialista se torne na única alternativa de poder em Portugal é um imperativo patriótico a bem da alternância política de governação, o que em democracia é algo absolutamente normal e daí não advirão dramas, a não ser os pessoais de uma certa elite partidária pela perda de muitos milhares de empregos que só foram obtidos pelo facto de possuírem o cartão de militante adequado.
Contudo, António Guterres não se demitiu unicamente pelos maus resultados nas eleições autárquicas de 2001, segundo o histórico militante e ex-ministro do Partido Socialista, João Cravinho, curiosamente, pai do atual Ministro dos Negócios Estrangeiros, também chamado João Cravinho, essa demissão deveu-se ao “clima pestilento” de corrupção que então existia em Portugal.
Pena é que João Cravinho, pai, num passado recente tenha defendido que o Parlamento português deveria estar no centro da prevenção e da luta contra a corrupção, o que se saúda, mas agora está calado quando o seu próprio filho, enquanto Ministro da Defesa do anterior Governo, está envolvido, no mínimo, por gestão incompetente e negligente, num escândalo financeiro e de provável corrupção envolvendo milhões de euros de derrapagem nas obras do antigo Hospital Militar de Belém.
O mais estranho disto tudo é que João Cravinho, filho, que foi proscrito pelo Presidente da República para ser novamente nomeado como Ministro da Defesa do atual Governo, tenha transitado tranquilamente para Ministro dos Negócios Estrangeiros.
O ambiente pantanoso de 2001, bem como o que resultou dos escândalos de corrupção dos governos de José Sócrates, regressou agora em força, novamente pela mão dos socialistas, agora comandados pelo otimista irritante e todo-poderoso, António Costa.
O pântano atual está bem evidenciado nas demissões no atual Governo que, até à hora em que escrevo, abrangeram dois ministros e oito secretários de estado, não sendo de estranhar que mais demissões possam ocorrer proximamente.
Uma das dez demissões ficou a dever-se a problemas de saúde de uma secretária de estado, mas as restantes nove demissões foram motivadas por uma mistura explosiva de inabilidades e incompetências políticas, de falta de perfil para os cargos desempenhados e de investigações criminais desenvolvidas pelo Ministério Público.
Destas demissões destacam-se duas delas, a primeira a de Pedro Nuno Santos que primou pela incompetência e truculência verbal, tendo tido uma gestão desastrosa nos dossiês da TAP, de Alexandra Reis, do aeroporto, da ferrovia e da habitação, a segunda a de Miguel Alves que foi obrigado a demitir-se, por indecente e má figura, na sequência de ter sido acusado pelo Ministério Público de crimes de prevaricação.
O descalabro público do atual Governo é de tal maneira evidente que já é um alvo preferencial do implacável e criativo anedotário nacional, estando as redes sociais repletas de memes sobre a atual situação política portuguesa e sobre os próximos ministros e secretários de estado a demitirem-se ou a serem demitidos.
Sabendo-se como o Primeiro-Ministro, António Costa, é avesso à demissão de membros do Governo, não será difícil de imaginar o regabofe e o descontrolo absoluto que impera na escolha do pessoal político para o acompanhar na governação de Portugal.
Esse regabofe e descontrolo absoluto na escolha do pessoal político, já obrigou António Costa a implementar um questionário de escrutínio com 36 perguntas para se aquilatar se os indigitados para o Governo têm ou não condições de serem nomeados, sem que surjam posteriormente casos que obriguem à demissão.
O surpreendente é António Costa, ao contrário do que pensa Marcelo Rebelo de Sousa, considerar que o questionário de escrutínio é só para os novos membros que venham a integrar o Governo, não sendo aplicável aos que já estão em funções.
Dá que pensar o facto do Primeiro-Ministro, António Costa, se recusar a aplicar o questionário de escrutínio aos atuais membros do Governo, não se sabendo se teme que surjam novos casos polémicos como os dos Ministros das Finanças, dos Negócios Estrangeiros e do Ambiente e da Ação Climática ou que se tornem públicos casos que também o envolvam pessoalmente.
Num tempo em que claramente já está em causa o regular funcionamento das instituições democráticas, lamenta-se que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assista a tudo isto de forma conivente e sem impor a sua autoridade constitucional.
A manter-se o atual regabofe político, em breve o povo português terá certamente a palavra, falta é saber de que forma.
Até quando a forte gente de Portugal será governada por tão fraca gente.
– Fernando Pedroso, Deputado Municipal do CHEGA na AMO