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O ChatGPT é um chatbot, ou seja, uma plataforma computacional capaz de manter uma conversa em linguagem natural com um utilizador humano. Foi lançado em 30 de novembro de 2022 pela empresa americana OpenAI, sediada em Silicon Valley, na Califórnia, tendo entre os seus fundadores, o conhecido empreendedor Elon Musk.
Com esta plataforma computacional qualquer cidadão, em qualquer parte do mundo com ligação à Internet, pode interagir com este sistema suportado por modelos desenvolvidos com base em Inteligência Artificial, através da introdução de perguntas ou comandos escritos em linguagem natural numa janela de chat, obtendo do ChatGPT respostas adequadas a quase tudo o que esteja ao alcance da nossa imaginação. Em apenas cinco dias, registaram-se na plataforma cerca de um milhão de utilizadores, número que, em comparação com o Instagram, levou mais de dois meses a alcançar.
Esta realidade induz uma nova dimensão ao quotidiano de qualquer ser humano, acedendo a um sistema que tem a capacidade de explicar, argumentar e até gerar código de programação nas mais diversas linguagens, através de uma simples interação através de uma janela de chat. Ao nível do ensino, esta nova realidade com que as instituições estão a ser confrontadas induz preocupações acrescidas, estando já a ser apelidada como a era da democratização do plágio. Através de simples comandos escritos em linguagem natural, os estudantes conseguem colocar o ChatGPT a gerar textos escritos numa linguagem quase perfeita, ou seja, têm acessível em qualquer parte do mundo e a qualquer hora um redator “fantasma”.
O ChatGPT está dotado da capacidade de escrever textos académicos, tendo já sido reportadas situações de escrita de artigos científicos que conseguiram passar o crivo dos processos de revisão de revistas internacionais. Por outro lado, muitos são já os testemunhos difundidos na Internet de estudantes que utilizaram a plataforma computacional em apreço para executarem trabalhos académicos pressupostamente de realização autónoma.
Esta realidade emergente está a colocar enormes desafios de adaptação às instituições de ensino superior, em consequência de a curva de aprendizagem dos estudantes na utilização destas novas tecnologias ser muito mais acelerada que a dos professores. Em geral, os estudantes descobrem estes novos desenvolvimentos tecnológicos nas redes sociais muito mais rapidamente que as gerações mais velhas. De facto, um professor menos avisado poderá estar a avaliar um excelente trabalho que pressupostamente teria sido elaborado pelo aluno, mas que efetivamente resultou apenas da sua interação com o ChatGPT com uma taxa de esforço mínima. Em consequência, estarão colocadas em causa as competências que os estudantes deveriam adquirir com a realização de um determinado trabalho académico, tornando-os extremamente “incompetentes” e dependentes da tecnologia.
Todavia, a consciência sobre as potencialidades desta ferramenta emergente poderá trazer enorme valor acrescentado aos processos de ensino/aprendizagem e, consequentemente, às atividades de investigação, desenvolvimento e inovação, acelerando a aquisição de competência e a geração de novo conhecimento. Como exemplo, imagine-se um estudante que precisa de criar um processo automático de análise de uma grande quantidade de dados, mas não sabe programar. A utilização do ChatGPT ajudá-lo-á a gerar código de forma automática para desenvolver a necessária aplicação para o tratamento de dados, dará um contributo determinante na correção de erros e ainda permitirá ao estudante adquirir rapidamente competências de programação colmatando a lacuna na sua formação. Em suma, esta ferramenta fomentará processos de autoaprendizagem nos mais diversos domínios do conhecimento, acelerando os processos de aprendizagem sem dependência de terceiros.
Por outro lado, no que se refere à redação de documentos académicos, o ChatGPT será certamente uma mais-valia na resolução de bloqueios intrínsecos aos receios da folha em branco, ajudando na escrita das palavras que muitos consideram as mais difíceis, ou seja, o primeiro parágrafo do texto. O ChatGPT começa já a ser considerado como equivalente à invenção da calculadora e sua utilização na aprendizagem da matemática, que revolucionou os processos de ensino/aprendizagem que até então lhe estavam subjacentes. Por exemplo, na resolução de uma equação passou a ser mais importante a forma como se chega ao resultado, do que o resultado em si próprio.
Nesta conformidade, num futuro relativamente próximo, a avaliação de trabalhos académicos não pode resultar da avaliação da sua forma final, mas tem que incidir essencialmente no contributo dos alunos para melhorar e complementar um texto originalmente produzido pela Inteligência Artificial.
Embora o ChatGPT e outras ferramentas similares sejam um desafio para as instituições de ensino superior, também oferecem oportunidades com elevado valor acrescentado aos alunos, professores e investigadores.
Esta nova dimensão da penetração da tecnologia no quotidiano das instituições de ensino superior, já deu início a processos de alteração das salas de aula em resposta às potencialidades do ChatGPT, tendo vindo a ser reportados alguns casos em instituições do Estados Unidos da América, provocando mudanças nos processos de ensino/aprendizagem e na forma de aferir a correspondente aquisição de competências. Algumas situações reportadas relativamente à lecionação de Unidades Curriculares específicas têm implicado a realização de mais exames orais, mais trabalhos em grupo e avaliações manuscritas em detrimento de trabalhos académicos digitais. No entanto, existe uma corrente não negligenciável que defende a não proibição da utilização deste tipo de ferramentas com o argumento de, ao nível do ensino superior, não ser plausível induzir constrangimentos à liberdade académica.
João Calado
(Professor Coordenador Principal do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)