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A pandemia resultante da doença COVID-19 veio alterar drasticamente as atividades comerciais, obrigando as empresas a enfrentar novos desafios e novas formas de operar para fazer face a constrangimentos resultantes de uma economia volátil, incerta, complexa e ambígua. Apesar dos desafios, as tecnologias de informação e comunicação têm permitido alcançar objetivos que num passado relativamente próximo não seriam possíveis atingir.
As organizações empresariais passaram ou ainda estão a trilhar um caminho de recuperação para atingir volumes de negócio pré-pandemia. Neste contexto e numa perspetiva de futuro mais resiliente, as organizações precisam de definir uma estratégia que, porventura, terá de ser caraterizada por três estágios críticos: responderem aos efeitos da crise na economia mundial em consequência dos confinamentos impostos ao mundo pela pandemia; serem digitalmente resilientes para estarem preparadas para qualquer choque que possa vir a ocorrer e reerguerem-se visando a sua sustentabilidade e capacidade de inovação. A Empresa do Futuro será uma organização completamente transformada digitalmente. Essa organização sustentará os processos de negócios com base na tecnologia, sendo alimentada pela inovação e centrada no ecossistema.
Nesta conformidade, começa a emergir a necessidade de as empresas ampliarem a sua definição de valor, incluindo confiança e diversidade, para além dos valores financeiro e do ecossistema. As empresas precisam de demonstrar que são confiáveis de forma holística, incluindo dimensões como imagem de marca, sustentabilidade, diversidade e reputação do seu ecossistema, exigindo novos estilos de liderança, em que humanismo e empatia serão fatores determinantes para o seu sucesso.
Em consequência da necessidade de dar resposta a requisitos emergentes, tem-se observado um investimento crescente na transformação digital de muitas organizações, procurando colmatar lacunas existentes nas suas infraestruturas, dar resposta a novos requisitos e aumentar a sua quota de mercado. Esta realidade tem induzido um crescimento significativo do investimento em projetos de transformação digital das organizações, cuja taxa média de crescimento na Europa é de dois dígitos, perspetivando-se que supere o crescimento esperado do PIB por um fator de 3 vezes. Vivemos um tempo, em que a utilização das funcionalidades disponibilizadas pela tecnologia na automatização de processos é determinante para que as empresas consigam assegurar uma eficaz capacidade de resposta e adaptação a novos desafios, bem como capturar novas oportunidades.
Os novos desafios que as empresas enfrentam exigem transformações ao nível das operações intrínsecas à sua atividade, que se traduzirão na alteração do foco na eficiência para uma resiliência com capacidade de acomodar uma crescente procura do mercado por serviços/produtos personalizados, dando resposta a requisitos específicos. Em 2021, 90% dos Diretores de Operações das empresas europeias priorizaram investimentos em segurança cibernética visando mitigar a exposição aos ataques informáticos, procurando melhorar a resiliência e confiança na cadeia de valor em que as suas organizações estão inseridas. Tem sido reportado que, nos últimos 24 meses, 80% das organizações europeias foram alvo de violação de dados, em consequência de fragilidades na segurança cibernética da sua cadeia de valor, fazendo perspetivar o aumento dos investimentos neste domínio tecnológico.
Por outro lado, alguns analistas preconizam que as empresas europeias, no ano de 2023, direcionem os seus investimentos para as tecnologias de operação e tecnologias de informação e comunicação, nomeadamente no que se refere à sua integração na cadeia de valor e à aquisição de novas ferramentas de monitorização do desempenho, com o objetivo de contribuir para a redução das emissões de carbono em toda a região em mais 3%. A tecnologia que assegurará a integração dos processos nas cadeias de valor e nos mercados desempenhará um relevante papel na redução das emissões de carbono, para além de contribuir para uma maior visibilidade da organização na cadeia ou cadeias de valor em que está inserida, melhorando a segurança dos processos e correspondente eficiência. Este desidrato será da maior relevância no apoio ao incremento da sustentabilidade europeia e à excelência industrial.
O conceito de trabalho no âmbito das relações laborais também está a sofrer algumas transformações que se traduzem na alteração dos comportamentos e competências dos trabalhadores, em mudanças ao nível da cultura organizacional consubstanciadas na criação de ambientes de trabalho dinâmicos não limitados pela hora do dia ou espaço físico, incluindo equipas diversificadas, para além de promoverem a colaboração homem-máquina. Tem sido reportado, que nos últimos dois anos, um número significativo de empresas europeias tem realizado investimentos não negligenciáveis em sistemas de informação suportados por modelos de inteligência artificial, transformando as funções a desempenhar pelos seus recursos humanos numa perspetiva de atrair e reter os melhores talentos. Por outro lado, perspetivam-se investimentos em sistemas de informação que viabilizem atividades laborais não confinadas ao espaço físico das empresas.
As tecnologias de análise de dados, inteligência artificial e gestão de fluxos de trabalho estão a permitir às empresas automatizar e aumentar as funções dos seus recursos humanos, com impacto no recrutamento e retenção dos melhores talentos, originando culturas de trabalho com produtividade acrescida, em ambientes de trabalho híbridos. A tecnologia permitirá reduzir as desigualdades entre os trabalhadores, promovendo a diversidade e removendo barreiras físicas e financeiras no acesso ao emprego dos menos favorecidos. A remoção de barreiras físicas permite o recrutamento dos melhores talentos, independentemente da sua localização, potenciando a flexibilidade, a resiliência da empresa e a melhoria dos resultados financeiros.
João Calado
(Professor Coordenador Principal do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)