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Se, o mundo fosse uma capoeira nuclear, só lá caberiam dois galos, os EUA e a Rússia.
A história é feita de impérios cujo retalhe, normalmente imposto pela força das armas, visa o enfraquecimento de outras potências, adversárias, ao ponto de as deixarem fracas e capturáveis aos seus interesses, civis, económicas, socais e militares.
Foi o que aconteceu com as grandes guerras mundiais, se com a primeira o mapa da europa se pulverizou, em inúmeros novos países, antes inexistentes, por extinção de impérios históricos, já a segunda, fruto da humilhação imposta pelos vencedores aos vencidos, da primeira guerra mundial, medrou uma raiva inusitada a Versailles espoletando a II Guerra mundial, sobretudo porque na Alemanha, a apologia de Hitler sobre “espaço vital” levou ao alargamento do Reich, começando pela Polónia e pela europa fora. No final a segunda guerra mundial legou-nos um certo “status quo” imposto pelos vencedores, á medida deles, mesmo que entre eles houvesse adversários fidalgais.
Na realidade se é certo que a Alemanha de Hitler nunca seria derrotada se, em conjunto, os Estados Unidos da América e a União Soviética, não fizessem parte da força “aliada”, também não é menos verdade, que estes “aliados” não confiavam um no outro, pelas mesmas razões – pretendiam para si a maior fatia do bolo. E o bolo era dominar áreas de influência, países e regiões inteiras.
O equilíbrio conseguido foi o que ficou para a história como a “guerra fria”, e esta concretizou-se no espartilho da vencida Alemanha, em zonas de influência, qual bolo repartido em fatias, uma para Inglaterra, outra para França, outra para os Americanos e outra para a URSS. Como são os vencedores que ditam as regras, montou-se o tribunal marcial de Nuremberga, cidade que acolheu o julgamento, dos responsáveis por crimes de guerra, embora altamente selectivo (cientistas e engenheiros, foram não só poupados como cooptados pelos vencedores para os seus países, onde de resto se destacariam de forma notável. Afinal a Alemanha era tecnologicamente avançadíssima).
O corolário desta dissecação da Alemanha, acabaria por degenerar na Alemanha Federal, absorvendo as zonas de influência ocidentais, e na Alemanha Oriental, absorvendo a zona de influência da URSS, ferindo de morte a poderosa, mas derrotada, Alemanha de Hitler. Espoliada das suas reservas de ouro, as próprias e as roubadas aos países que conquistara (agora confiscadas “ad eternum” pelos americanos), e impedida de ter um exercito, a não ser residual, o muro de Berlim, separando estas “Alemanhas”, concretizou a nova ordem mundial bipolar entre o ocidente e a URSS, que se acentuou com a criação pelo Ocidente de uma aliança militar, a NATO, à qual um par de anos depois a URSS se viu forçada a responde criando uma homologa com o Pacto de Varsóvia.
A luta surda silenciosa e capciosa por zonas de influência durou cerca de 70 anos.
O leitemotiv nos dias de hoje centra-se nos recursos energéticos, e a razão é simples, quem domina os recursos energéticos domina o mundo.
A imagem da matrioska, é bem elucidativa neste caso. Cada “boneca” é uma fase.
O ocidente ciente da regra “Dividir para reinar”, começou por magicar como pulverizar a influência da URSS, e entrava pelos olhos dentro que o primeiro passo tinha de ser a unificação Alemã, pois isso enfraqueceria substancialmente a influência do Kremlin, na Europa.
Foi a primeira fase do projecto da unilateralização do poder mundial, quando em 1989, com a queda “inocente” do muro de Berlim, a pedido de Reagen, e concedida por Gorbatchov, com garantias verbais, por parte dos americanos, que a NATO não pretendia alargar-se ás ex-repúblicas soviéticas, sossegando um ingénuo Gorbactchov.
A segunda fase deu-se com o “momentum”, e rapidamente se alastrou ao bloco soviético, economicamente depauperado, sem dinheiro, e inúmeros problemas internos.
A URSS, uma federação de 15 repúblicas, desintegrou-se, para gáudio do ocidente que de uma penada via desaparecer a influência de leste na europa, e depois no mundo. Foi o fim de uma das duas únicas superpotências mundiais. Sem dúvida o ocidente conseguira o que poucos pensavam ser possível.
Mapa da URSS
A terceira fase dá-se concomitantemente com o fim do Pacto de Varsóvia.
A quarta fase sucede quando a NATO, se apressa a abrir as suas portas á adesão dos países, ex-repúblicas soviéticas, as tais que se comprometera a não admitir, engrossando as suas fileiras, obtendo desta forma o ocidente um poder de influência considerável, e a América, como “cabeça” principal do ocidente e da NATO, reforça a sua posição mundial. A Europa, a quem não é permitida constituir a sua própria força de defesa, transforma-se em protectorado americano.
A quinta fase passa, agora pelo desmantelamento de outra federação de territórios, desta feita a própria Rússia, como corolário natural do esquartejamento de um rival, á semelhança do que aconteceu no passado com a Alemanha.
Federação Russa
Por isso o cerco da NATO. Por isso o que ora esta a acontecer na Ucrânia. Em 2008 Mário Soares avisara para o perigo do alargamento irresponsável da NATO a leste, e da inevitável e previsível reacção que isso geraria. Ninguém o quis ouvir. É caso para dizer que brincar com certas matrioskas é mau para todos.
Oliveira Dias, politólogo