Este conteúdo é Reservado a Assinantes
Há uns anos atrás era este o slogan escolhido pelo Município de Odivelas para “vender” as terras de D. Dinis.
O certo é que entre muitos anúncios, powerpoints, cartazes de propaganda as ditas Oportunidades não surgiram.
Projectos como o O’Tech e o MetroBus a que se junta o corte da Linha Amarela e o seu compensador, a rede de eléctricos confirmam que as Oportunidades ou não passam de “bonecada” para apresentar em períodos eleitorais, ou são para alguns.
É um facto que alguns odivelenses agarram as oportunidades que lhes surgem. Exemplo disso, temos a ilustre odivelense e ex Presidente da Associação Raríssimas, que sob o orçamento daquela associação decidiu satisfazer as suas necessidades.
Facto é que a Associação Raríssimas tendo como objectivo o apoio a portadores de doenças raras, desde cedo, foi apoiada com recursos públicos, uns mais siimbólicos como o da Presidência da República, outros mais materiais como os da Segurança Social. A estes ainda se juntaram os apoios particulares, privados e de “mecenas”. Rapidamente o orçamento desta associação engordou ao ponto de para tudo servir, até para uma opulenta forma de vida de quem dirigia esta importante Associação. Haja Oportunidades!
Não obstante e segundo uma recente investigação do “Observador”, as tais Oportunidades surgiram ali para os lados da Paróquia da Ramada, onde um sacerdote e a respectiva amante se terão apropriado de cerca de 800 mil euros de várias instituições ligadas à Igreja, que geriam em benefício próprio e que segundo o Ministério Público provinham de dinheiro de doacções de particulares, empresas e até da Segurança Social. Não é por acaso que Hernâni Carvalho, uma Oportunidade perdida, não conferia ao Poder Eclesiástico a importância que muitos queriam e ainda praticam.
800 mil euros usados para “satisfação das necessidades pessoais e pagamento de despesas de carácter supérfluo, como viaturas desportivas, um Porsche, um barco e duas motas de água, além dos milhares de euros em roupa, viagens e mariscadas.
Tudo isto terá acontecido através da centralização das contas numa só instituição de onde os ora arguidos transferiram dinheiro para as suas contas pessoais, justificando tal com obras de caridade que nunca existiram. Terra de Caridosas Oportunidades!
Falando em Terra de Oportunidades, infelizmente nas terras de Odivelas tal tem sempre um proveito muito duvidoso.
Aliás, este slogan municipal foi substituído por ordem da então Presidente da Câmara Municipal, Susana Amador. Até aqui tudo normal, não fossem os custos associados a este e à mudança de imagem que esta mudança impôs à edilidade odivelense. Como aquilo que é decidido é para levar em diante à tripa-forra, mesmo não havendo recursos financeiros, decidiu-se então acabar com a Festa de Natal dirigida aos filhos dos trabalhadores municipais. Lá se foi a responsabilidade social, trocada pela sempre poderosa e necessária propaganda. Isto é que é agarrar oportunidades. Uma despesa inútil, dirigida a esses malandros dos trabalhadores? O melhor é usar aqueles recursos para o que interessa, na propaganda. Importa pois nunca esquecer quem e como nos tratam. Naquele ano, nós os melhores trabalhadores do mundo e arredores, fomos trocados por um slogan e um logótipo. Ficou claro o valor de quem trabalha.
Todavia, a Terra de Oportunidades não se fica por Odivelas. A propósito desta maldita guerra que desde 2014 se veio desenvolvendo na surdina, mas que há precisamente um ano ganhou a expressão que hoje conhecemos, muitos se têm aproveitado desta para especulando fazer subir a inflacção. Surge então uma nova Oportunidade. A Oportunidade de Sempre. A de extorquir a quem trabalha, inflacciona-se em escala descontrolada os preços de tudo e um par de botas, sendo que a factura se sente com maior dor nos bens de consumo alimentares e energéticos. Eis a Oportunidade, a oportunidade de os bancos centrais subirem o preço do dinheiro, permitindo à banca lucrar de forma usurária e expeculativa, elevando os custos das prestações de empréstimos à habitação e outros. Tal associado a políticas desastrosas como a dos Vistos Gold que estimularam/incrementaram a especulação imobiliária, tornaram a habitação algo de inacessível aos portugueses, mas uma Oportunidade para estrangeiros abastados precisando fazer lavagens de dinheiro. Sendo tal, ainda, uma Oportunidade para guetizar os portugueses nas periferias das periferias das cidades, tirando Oportunidades de habitação aos jovens que nos sucedem, equivalendo tudo isto a um claro empurrão da massa de trabalho mais especializada e culta de sempre para verdadeiras Terras de Oportunidades. É caso para dizer, se Passos Coelho abriu a porta à emigração, António Costa tem empurrado aquela que poderia ser a geração, que cá ficando, poderia fazer de Portugal uma Terra de Oportunidades. Mas não.
No domínio dos salários, António Costa, no Outono passado dizia que os salários não poderiam aumentar muito (nunca podem) para evitar que por essa via se alimentasse uma deriva inflaccionista. Todavia, o mesmo António Costa e o seu Governo nada fazem para estancar a escalada de subida dos preços, chegando mesmo a vergar-se perante a chantagem nos preços praticados por empresas que fornecem ao Estado e deste dependem para existir quase em exclusivo.
Nunca há dinheiro para quem trabalha. As oportunidades são mesmo para os oportunistas, como se verifica no regresso das dinâmicas de rearmamento da Europa, cuja guerra na Ucrânia se tem revelado uma Oportunidade para as máquinas da guerra. Para a indústria da morte o dinheiro surgirá. Surgirá para nos matarmos e a mais uns oligarcas provirmos Oportunidades infindáveis de engordar.
Paulo Bernardo e Sousa | Politólogo