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    Histórias d’África – Juros a quanto obrigas. Classe média europeia à rasca

    Despedimentos massivos nas ‘tecnológicas’. Afinal, onde fica a modernização tecnológica e a digitalização global como única alternativa à desindustrialização do Ocidente e à criação da “Economia Verde” a bem de todos?

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    A classe média europeia vive uma nova encruzilhada: a maioria dos europeus estão à rasca, pese embora se verifique gastos supérfluos maiores do que seria de esperar em período de crise global a Ocidente. Os cidadãos fartam-se da realidade e ocorre a muitos viver enquanto podem. Tão pouco aceitam falar do futuro e em aforrar o quer que seja.

    E quem se aventura em apreciar esta corrente de pensamento?

    Despedimentos massivos nas ‘tecnológicas’. Afinal, onde fica a modernização tecnológica e a digitalização global como única alternativa à desindustrialização do Ocidente e à criação da “Economia Verde” a bem de todos?

    Provavelmente nenhum de nós. Excepção da patronal e investidores multimilionários que não desistem de motivar os cidadãos para a necessidade de economizar quase tudo, a bem da sociedade. Precisamente os mesmos que nos venderam a modernização tecnológica e a digitalização global como única alternativa à desindustrialização do Ocidente e à criação da “Economia Verde” a bem de todos.

    E se esta opção se apresentava como futuro cor-de-rosa até há meses, agora assistimos ao demolir das empresas tecnológicas (?) com os milhares de despedimentos anunciados ao virar do ano:    

    • A Alphabet – empresa-mãe da Google – irá suprimir cerca de 12 mil postos de trabalho em todo o mundo, cerca de 6% dos efectivos: anunciam que é preciso travar o enfraquecimento das condições económicas.
    • A Microsoft cortou cerca de 10.000 empregos e começou a comunicar a saída de outros 18 mil. 28.000 despedimentos em menos de um ano.
    • Disney vai destituir 7.000 funcionários, quase 4% de seus funcionários porque necessita de aumentar a margem de lucro (não se trata necessariamente de resultados negativos do exercício de 2022) após a queda de usuários na sua plataforma de conteúdos em streaming. A empresa anuncia reestruturação nas divisões de cinema e televisão, as cadeias desportivas ESPN e a unidade de parques temáticos.

    Milhões de europeus podem falhar pagamentos de hipotecas

    25% das famílias portuguesas não tem como enfrentar a subida das prestações da casa por causa de terem optado por empréstimos com taxas de juro variável, ao invés de optarem por taxa fixa. De acordo com as estatísticas disponíveis, a realidade em Espanha é em todo semelhante.

    De quem é a culpa?

    De todos: primeiro, dos bancos que não tem (ou fazem de conta porque não é conveniente de todo) especialistas nem conselheiros de crédito; segundo, dos clientes que não são exigentes e menos percepção têm sobre o futuro e capacidade em antecipar alterações na geopolítica internacional que é determinante para as variações no sector financeiro e económico global. Enganaram-se os que pensaram que os juros se mantinham baixos e mesmo negativos durante anos.

    E agora, uma grande percentagem de hipotecados em Portugal e também em outros países como em França, Espanha e Itália terão de correr atrás do prejuízo lançado pelo Banco Central Europeu, da senhora Christine Lagarde, em nome do único mecanismo para travar a inflacção – o que tão pouco é verdade em termos técnicos – e recorrer a renegociações do crédito, incluindo dos próprios empréstimos procurando amparo em empresas de assessoria espacializadas nestes mecanismos, algumas com resultados surpreendentes.

    Mas este paradigma – falso em muitas das premissas técnicas e que indirectamente favorecerá o FMI nos seus futuros empréstimos aos países literalmente à rasca e pessimamente governados com uma inflação anual superior aos 60, 70 e 80%  – junta-se a realidade do custo do dinheiro voltar a uma escalada insustentável para a maioria dos cidadãos da classe média, mesmo os conviventes em países ricos, onde os cidadãos vivem mais folgadamente.

    Consequentemente o negócio imobiliário vai ressentir-se a curto e médio-prazo: se negociar uma hipoteca a prestações variáveis é um risco maior; já um empréstimo a prestações fixas será como assinar um contrato com juros demasiado elevados para suportar durante duas ou três décadas. Ciclicamente navegamos num Mundo de incertezas – curiosamente geradas pelas lideranças em quem acreditámos e a maioria (muitas vezes da minoria) deu voto de confiança – e voltamos ao risco de “bolha” imobiliária em países que têm número elevado de casas vazias.

    Vejamos os exemplos confrangedores em Portugal e Espanha.

    Estatísticas de 2020, colocam Portugal na segunda posição entre países europeus com maior número de casas vazias, perto das 730 mil. Em abril de 2022, o Conselho Municipal de Habitação da Câmara de Lisboa anunciava 48.000 habitações sem residentes, precisando as freguesias com maior número de imóveis devolutos: Misericórdia, Santa Maria Maior, Santo António, São Vicente e Estrela.

    Em Espanha, é a banca que possui 80% das 389.000 casas vazias que existem, de acordo com dados oficiais… Mas no final de 2018,  sustentava-se que o número de habitações vazias ou ocupadas ilegitimamente ascendia às 470.000, a que acresciam mais 50 mil ocupadas. Sensos de agosto de 2021, mostram que o número de casas legalizadas em Espanha é de 25.882.055.

    Como resultado directo, a Testa Home, sociedade do Blackstone – fundo considerado abutre que controla mais de 20.000 casas em Espanha – decidiu imediatamente aumentar os preços do aluguer das casas.

    Mas há outros números interessantes no mercado imobiliário espanhol, onde 76% da população disfruta de residência habitual em regime de propriedade:

    • Segundo o Conselho Geral dos Economistas, cada proprietário de uma casa vazia tem um encargo anual de 788 euros, em média.
    • Já o Supremo Tribunal pronunciou-se no sentido dos proprietários de casas vazias sem inquilino deverem ser tributados entre os 1,1 e 2% do valor cadastral do imóvel na declaração anual de rendimentos em conformidade com o Art 85 da Lei do IRPF, o mesmo que o Código do IRS em Portugal.
    • A consultora Atlas Real Estate, garante que a CaixaBank lidera a lista de proprietários, com 25.000 habitações de diversas tipologias.
    Pisoa vazios em Espanha
    Gráfico: I.Benedito – Business Insider Espanha  Fonte: Fotocasa  Criado com Datawrapper

    De qualquer modo, a pandemia de SARS-Cov-2, indubitavelmente mal gerida pelo governo central “progressista” na palavra do líder Pedro Sánchez, – também mais recentemente o conflito russo-ucraniano – provocaram um crescimento do regime de aluguer, mesmo sendo mais oneroso mensalmente já que os cidadãos mais novos não têm salários nem estabilidade laboral que lhes permita negociar hipoteca bancária, tal como acontece cada vez mais em boa parte dos países europeus. No ano passado, 23% da população espanhola vivia em casa alugada contra os 21% de 2019 e 18% em 2018.

    Outra curiosidade das estatísticas é a percentagem de proprietários de pisos vazios por Comunidade Autónoma: 5% dos donos de habitações de Valencia têm pisos desocupados, seguindo-se a Andaluzia com 4,2% e 2,8% dos proprietários de casas vazias encontram-se na Catalunha.

    – por José Maria Pignatelli (texto não foi escrito “ao abrigo do Acordo Ortográfico”)

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