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A pandemia resultante da doença COVID-19, por um lado, forçou o encerramento dos escritórios das empresas e organismos públicos em todo mundo em 2020 e, por outro lado, impulsionou a digitalização de processos intrínsecos à sua atividade como forma de assegurar a sobrevivência das organizações. Embora se tenha observado uma rápida capacidade de adaptação a uma realidade que ocorreu repentinamente e para a qual ninguém estava preparado, induzindo uma acelerada transformação digital das organizações, na generalidade das empresas e dos organismos públicos, o processo está ainda longe de estar consolidado. Com o fim da pandemia seria legítimo perspetivar uma desaceleração neste processo o que, em conformidade com os dados que têm sido reportados, não se está a verificar.
Todavia, as organizações que não estão preparadas para a transformação digital provavelmente terão dificuldades acrescidas para se adaptar aos desafios que, naturalmente, emergem na gestão de recursos humanos a trabalhar remotamente. Embora este processo de adaptação tenha que acomodar desafios específicos das organizações e por isso tenha inevitavelmente durações variáveis de umas para outras, há etapas que as organizações podem seguir para garantir que o processo seja o mais tranquilo possível.
Para que a implementação de uma estratégia de transformação digital de uma organização seja bem sucedida, deverá ser construída tendo por base as seguintes premissas:
- Será fundamental efetuar uma definição clara de uma visão focada nas necessidades dos clientes, assegurando a adesão da equipa da organização a essa visão;
- As lideranças de topo devem garantir que a visão para a transformação digital engloba as necessidades de todos os que têm interesses na organização, incluindo funcionários e, no caso das empresas, os seus acionistas, assegurando-se que essa visão está subjacente a todas as decisões de negócio que tomarem;
- Será de primordial importância identificar e caraterizar a tecnologia, infraestrutura e os recursos exigidos para a transformação digital da organização, bem como identificar a existência de competência internas para a sua implementação ou a eventual necessidade de recurso a parceiros externos;
- Deverão ser analisados os procedimentos intrínsecos a processos internos e externos e, eventualmente, reformulados em consonância com os requisitos da transformação digital da organização;
- Deverão ser fomentados um ambiente e cultura de inovação permanentes focados em corresponder às expectativas dos clientes e que induzam o aparecimento de novos modelos de negócio e oportunidades.
Em conformidade com estudos que têm vindo a ser realizados e cujos resultados têm vindo a ser reportados, relativamente ao estado-da-arte da transformação digital das organizações nos países desenvolvidos, podem identificar-se as quatro realidades a seguir indicadas:
- Embora a consciência para a necessidade da transformação digital das organizações visando a sua sustentabilidade e melhoria da competitividade se tenha iniciado antes da pandemia, as restrições de circulação que foram impostas, aceleraram o ritmo do subjacente processo. Por outro lado, de acordo com informação que tem sido reportada, após o fim da pandemia, 80% das empresas reforçaram os seus orçamentos para fazer face a despesas acrescidas com o processo de transformação digital, o que permite concluir não haver um abrandamento na implementação da correspondente estratégia.
- São muitas as situações em que os funcionários que foram forçados a realizar a sua atividade profissional remotamente durante a pandemia continuam a exercê-la em modo remoto, incluindo situações de desenvolvimento de produto. À medida que as configurações de trabalho remoto continuam e o uso da Internet aumenta, os funcionários precisam de mais largura de banda para realizar com eficácia a sua atividade laboral. Em consequência, as organizações precisam de incluir nos seus orçamentos os custos inerentes a ferramentas e recursos indispensáveis à desejável produtividade dos trabalhadores remotos;
- Com o aumento do número de funcionários a trabalhar a partir de casa, os departamentos de tecnologias de informação das organizações terão que começar a monitorizar a segurança das redes domésticas e assegurar a formação dos seus trabalhadores em conceitos básicos de cibersegurança;
- Trabalhar em casa tem vindo a fazer emergir constrangimentos ao desenvolvimento da atividade profissional dos funcionários de muitas organizações, que não existiam antes da pandemia. Estes constrangimentos resultam essencialmente da falta de espaço físico para uma configuração adequada do posto de trabalho, necessidade de cuidar de crianças durante o dia de trabalho e ainda da invasão da videoconferência no seu espaço privado. Tradicionalmente, os líderes das tecnologias de informação concentravam-se essencialmente em questões técnicas, no entanto, com um número crescente de funcionários a trabalhar remotamente, exige-se que se inove na forma como os trabalhadores podem desenvolver a sua atividade colaborativamente em modo virtual, visando mitigar os efeitos negativos dos constrangimentos acima mencionados.
A transformação digital de uma organização é um processo de inovação incremental que, como todos os processos de inovação, levará algum tempo, o qual está muito dependente da maturidade da organização para esta realidade que será inevitável num futuro relativamente próximo. Todavia, a adoção de boas práticas potencializa o sucesso, garantindo um percurso sustentável e tranquilo até se atingirem os objetivos delineados.
Entre outras iniciativas que facilmente podem ser encontradas na Internet, o IEEE – Institute of Electrical and Electronics Engineers desenvolveu um programa constituído por cinco cursos, com a designação “Digital Transformation: Moving Toward a Digital Society”, com o objetivo de promover a discussão sobre como a transformação digital poderá ser aplicada em vários setores de atividade e fornecer conhecimento e competências básicas de como implementar nas organizações ferramentas digitais de forma sustentada.
João Calado
(Professor Coordenador Principal do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)