Este conteúdo é Reservado a Assinantes
No passado dia 24 de fevereiro completou-se um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Para não haver quaisquer dúvidas sobre o meu posicionamento pessoal sobre esta guerra, faço uma declaração prévia de que sou daqueles que entendem que a Rússia invadiu a Ucrânia, país soberano e independente, à revelia do direito internacional público, sem confusão entre os países, sendo um o invasor e o outro o invadido.
Vladimir Putin para justificar a guerra em larga escala que unilateralmente iniciou, escuda-se em questões nunca provadas de que a Ucrânia estava a perpetrar um genocídio contra cidadãos de origem russa nas regiões separatistas de Lugansk e Donetsk, mas o que havia, desde 2014, naquela região, era um conflito armado promovido por grupos pró-russos, que pretendiam a independência.
De salientar que Vladimir Putin, só uma semana antes de iniciar esta guerra em larga escala, é que reconheceu a independência das autoproclamadas Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk, dando também a conhecer que considerava que os limites destes territórios se estendiam a áreas significativas sob o controlo e administração da Ucrânia.
Para compor o ramalhete Vladimir Putin ainda acrescenta às razões para iniciar esta guerra a necessidade de desmilitarizar e afastar o nazismo da Ucrânia, mas é a própria Rússia que obriga os seus prisioneiros civis, sem qualquer preparação militar e proibidos de voltar ao seu país, a ingressarem nas fileiras da milícia Wagner, sendo autêntica “carne para canhão” na frente de combate.
Apelar à luta contra o nazismo dá sempre jeito em termos de propaganda interna na Federação Russa, onde a imprensa livre está amordaçada e subjugada, não havendo, por isso, informação independente e imparcial sobre a guerra na Ucrânia.
Vladimir Putin socorre-se de um eufemismo para apelidar de operação militar especial, uma guerra de larga escala com massivos bombardeamentos, que cobardemente patrocina e apoia, que atingem indiscriminadamente populações civis inocentes e indefesas.
Em termos do direito internacional público, de acordo com as Convenções de Genebra, de que tanto a Rússia como a Ucrânia são partes, estamos perante um conflito armado internacional e não uma operação militar especial.
Aliás, logo no início desta guerra, em votação na Assembleia Geral das Nações Unidas, 141 países votaram contra a guerra iniciada pela Rússia e apenas 5 países votaram a favor, sendo de destacar a abstenção da China.
Esta denominada operação militar especial já provocou, na população ucraniana mais de 8 mil mortos civis, entre os quais mais de 400 crianças, bem como mais de 13.000 feridos, dos quais cerca de 900 também são crianças, ao que acrescem os 13 milhões de refugiados que saíram das suas zonas residenciais, com deslocações internas forçadas ou até para o estrangeiro, dos quais 55.500 estão em Portugal.
A este arrepiante número de mortos na população civil ucraniana há a acrescentar, no primeiro ano de guerra, como mortos ou feridos, cerca de 180 mil soldados russos e cerca de 100 mil soldados ucranianos.
São estes os números em perdas e danos nas vidas humanas que impendem sobre o déspota Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, que patrocina e dirige um regime político autocrático, repressivo e cleptocrático.
O que verdadeiramente motiva Vladimir Putin são as suas ambições de conquistas imperiais, ambicionando a recomposição territorial da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), ao que acresce a todo o custo evitar a adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), e à União Europeia.
Contudo, Vladimir Putin esquece-se que a Ucrânia como país independente, no uso da sua soberania plena, tem todo o direito a definir a que organizações internacionais deve ou não pertencer, independentemente de ter fronteiras com a Rússia ou com qualquer outro país.
Aliás, esta guerra iniciada pela Rússia já teve como consequência inevitável o imparável processo de adesão à NATO, com pleno apoio das respetivas opiniões públicas, da Suécia e da Finlândia, tendo, aliás, este último país, fronteira com a Federação Russa, mas nestes casos Vladimir Putin, como normalmente os cobardes e os fanfarrões fazem, não reage por saber que não tem força suficiente para afrontar dois membros da União Europeia, apesar das ameaças de guerra nuclear que constantemente propala.
A atual configuração da NATO que integra países que fizeram parte da URSS (Estónia; Letónia e Lituânia), bem como de outras nações livres que fizeram parte do Pacto de Varsóvia (Roménia; Eslováquia; Chéquia; Polónia, Albânia, Bulgária e Hungria) resulta de uma clara vitória do Ocidente sobre o Bloco de Leste, e essa é uma das razões pelas quais Vladimir Putin, um dos derrotados da Guerra Fria, não se conforma, tendo o sonho imperial de voltar às anteriores fronteiras da União Soviética e a partir daí aumentar a esfera de influência da Federação Russa.
Com o que Vladimir Putin, nesta sua cruzada de expansão imperialista, não contava era com a resistência, a tenacidade, o sacrifício e a abnegação de todo o povo ucraniano e do seu líder, Volodymyr Zelensky, não esperando também o apoio incondicional à Ucrânia por parte da União Europeia e das suas opiniões públicas, bem como da NATO.
A opinião pública portuguesa tem demonstrado um inegável apoio ao povo ucraniano, apesar das patéticas posições assumidas pelo Partido Comunista Português (PCP), no seu indisfarçável suporte a Vladimir Putin e à guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Veremos se o PCP sobrevive politicamente, em próximos atos eleitorais, face a este seu anacrónico e desajustado saudosismo da extinta URSS.
Fernando Pedroso
Deputado Municipal do CHEGA na AMO