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No ano de 2022, o abastecimento de combustíveis e eletricidade de quase todas as nações europeias assume uma importância acrescida em consequência de a Europa procurar alternativas para mitigar os efeitos da dependência das importações de combustíveis da Rússia.
Por outro lado, enquanto muitos países têm feito progressos no caminho para a transição energética visando minimizar a dependência dos combustíveis fósseis, quase metade dos países europeus ainda depende deles como sendo a principal fonte de geração de eletricidade. Todavia, a Europa tem mantido um ritmo constante na transição para fontes de energia renovável visando a geração de eletricidade, tendo feito um progresso assinalável ao longo da última década.
Usando dados da Eletricity Maps (https://app.electricitymaps.com/map) e da International Energy Agency (https://www.iea.org/) constata-se que, em 2011, os combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) representavam 49% das fontes de energia para a produção de eletricidade na União Europeia, enquanto que as fontes de energia renovável representavam apenas 18%. Uma década depois, as fontes de energia renovável começam a aproximar-se dos combustíveis fósseis, constatando-se que, em 2021, 32% da produção de eletricidade na União Europeia recorria a fontes de energia renovável, em comparação com 36% que resultava da utilização de combustíveis fósseis.
Embora a produção de eletricidade a partir de energia hídrica não seja tão representativa quanto as outras fontes de energia renovável, não deixa de ser a fonte de energia primária mais comum para a geração de eletricidade na Europa, não sendo negligenciável o seu contributo para a produção de eletricidade a partir de fontes de energia renovável.
Apesar do seu declínio nas últimas duas décadas, a energia nuclear constitui-se na maior fonte única para a geração de eletricidade na União Europeia. Em 2001, 33% da eletricidade produzida recorria à energia nuclear, tendo caído para 25%, vinte anos depois.
No entanto, quando analisamos individualmente os países que integram a União Europeia, constata-se que a maioria dos maiores países continua a depender dos combustíveis fósseis como a sua principal fonte de energia para a geração de eletricidade.
A Alemanha continua a evidenciar uma forte dependência do carvão para a geração de eletricidade, constatando-se que, entre 2017 e 2021, 31% da eletricidade produzida no país recorreu à utilização deste combustível fóssil. Todavia, apesar da dependência do carvão, fonte de energia intensiva na emissão de carbono para a atmosfera, a produção de eletricidade a partir de energia eólica e solar, no período atrás mencionado, foi de 33% do total da produção de eletricidade na Alemanha (23% para a energia eólica e 10% para a energia solar).
Na França, a energia nuclear constitui-se como a principal fonte de energia para produzir eletricidade, contribuindo para mais de metade da eletricidade produzida no país.
Considerando o período de 2017 a 2021, a geração de eletricidade na Itália, Reino Unido e Holanda é fortemente dependente do gás natural. Dos três países mencionados, a Itália é o país mais dependente do gás natural para a produção de eletricidade, sendo esta fonte de energia responsável por 42% da eletricidade produzida no país, enquanto que para a Holanda o recurso ao gás natural representa 40% da eletricidade produzida e para o Reino Unido 38%.
A Espanha contrasta com os principais países da União Europeia, constituindo-se como um caso de sucesso na transição para a utilização de fontes de energia renovável na produção de eletricidade. Enquanto que no período de 2017 a 2021, o país dependia essencialmente do gás natural (29%), em 2022 a contribuição do mesmo para a produção de eletricidade caiu para 14%, contrariamente à energia eólica que aumentou a sua contribuição, sendo responsável por 32% da energia elétrica produzida no país.
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia que a independência energética na União Europeia se tornou de extrema importância, e os países têm vindo a aproveitar a oportunidade para acelerar a transição para fontes de energia renováveis no que à produção de eletricidade diz respeito. Dados publicados recentemente revelam que em 2022, pela primeira vez, a produção de energia elétrica recorrendo à energia solar e eólica (22%) ultrapassou a utilização de gás natural (20%).
Embora em 2022 se tenha registado um aumento no recurso a combustíveis fósseis para a produção de energia elétrica na União Europeia, estima-se que em 2023 ocorrerá uma redução da ordem dos 20%.
Na última década, Portugal tem vindo a fazer investimentos significativos viabilizando a utilização de energias renováveis para a produção de eletricidade. Em 2013, 25,7% da energia elétrica produzida no país recorria a fontes de energia renovável, aumentando para 27% em 2014 e 28% em 2016. Em 2020, este número aumentou para cerca de 30%.
Portugal foi notícia mundial quando, em fevereiro de 2016, 95% da eletricidade produzida no país foi proveniente de fontes de energia renovável, incluindo biomassa, energia hídrica, energia eólica e energia solar. Três meses depois, em maio, por um período de quatro dias, 100% da eletricidade produzida em Portugal recorria a fontes de energia renovável.
O nosso país tem definidos como objetivos estratégicos atingir a neutralidade carbónica até 2050 e conseguir assegurar que, até 2026, 80% do consumo de energia elétrica realizado em Portugal resulte de produções que recorrem a fontes de energia renovável.
Todavia, Portugal está atualmente dependente da importação de energia elétrica para fazer face às necessidades do país, sendo de salientar que, em 2019, a eletricidade produzida internamente apenas satisfez cerca de 25% das necessidades. Nos edifícios é consumida cerca de 56% do total da energia elétrica necessária ao país, enquanto a indústria consome 25%.
João Calado
(Professor Coordenador Principal do ISEL)
(ex-Vereador do PSD)