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    ODIVELAS TERRA DE OPORTUNIDADES!

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    Uma das formas de um território se afirmar como destino de qualidade, é precisamente ser percepcionado como uma terra de oportunidades, tanto para os residentes, como para quem visita o território, seja em passagem esporádica, seja profissional, ou por qualquer oura razão.

    A gastronomia desempenha, neste particular, um especial papel, pois já diz o ditado popular “pela barriga se apanha o homem”, razão porque outrora, as mães cuidavam de ensinar a arte de cozinhar ás filhas, para assim as tornar casadoiras.

    Existem locais, cidades ou regiões, muito peculiares em razão da sua gastronomia, por exemplo, costumo dizer que uma “poncha”, só é poncha se feita por um madeirense. Esta bebida tradicional madeirense, que mistura aguardente de cana, laranja, ou limão, açúcar, tudo bem misturado com um instrumento que dá pelo nome técnico de “caralhinho”, motivo de brincadeira preferida de um madeirense quando faz uma poncha para senhoras, e estas mostram enorme surpresa perante tal nome, recebendo então como resposta do fazedor de poncha “ai minha senhora não me diga que nunca teve o caralhinho nas suas mãos”. É uma bebida forte, não é para meninos, e parece ter sido inventada por pescadores que não a dispensavam antes de sair para a faina.

    A “chanfana”, típica comida com carne de cabra “virgem”, tem a sua capital em Vila Nova de Poiares, e não há restaurante nenhum no distrito de Coimbra que a não sirva com todos os matadores. Foi aí que conheci um distinto actor português, em 2008, quando o Presidente da Câmara local, na época o decano dos Presidentes de Camara de Portugal, Jaime Marta Soares, me convidou para apresentar um livro meu sobre municipalismo, e por coincidência Tozé Martinho encenava uma peça teatral na terra que tive oportunidade de assistir com gosto, tendo participado num agradável convívio comensal, com o actor e companhia, que se mostraram muito interessados e curiosos sobre a temática do meu livro que com gosto também lhes expliquei, terminando Tozé Martinho com o desabafo “gostaria um dia de experimentar o Poder Local”.

    Já a carne “mirandesa”, reputada como a melhor carne do mundo, é a ex-libris de Miranda do Douro, e outras terras bragantinas, e curiosamente tem uma ligação à nossa Odivelas: A primeira referência bibliográfica da Raça Mirandesa data 1286, feita por D. Dinis, cuja sepultura aqui jaz. Esta carne é absolutamente divinal, e não a comercializa quem quer, sendo até objecto de rateio. Quando residia em Santarém, junto á estação de comboios existia um restaurante que apenas uma vez por semana tinha esta carne. Era nesses dias que me tinha por cliente, o dono do restaurante quando me via entrar punha logo a mirandesa ao lume. Quando fui para a Madeira em 2005, tive oportunidade de conhecer o Director da prisão regional, cuja terra de origem era Miranda do Douro, logo tão fã da mirandesa quanto eu, e quase chegámos a fundar uma confraria da carne mirandesa.

    Já a “caldeirada de peixe” honra a localidade de Peniche. Fácil de fazer, mas feita em Peniche é sempre outra coisa, um regalo para o palato.

    O “leitão”, é na bairrada, dizem os comensais experientes nesta coisas, mas o de negrais não lhe fica atrás e sempre é mais perto.

    O “marisco” faz-se em todo o lado, mas é em Olhão que lhe fazem um festival todos os anos.

    A “feijoada á transmontana”, está bom de ver, é transmontana, e leva couve, mas no mundo, que conheça, só uma cidade reclama ser a sua capital, é o Rio de Janeiro, no Brasil, que lhe dedica o dia de sábado como o dia de feijoada em todos os restaurantes. É diferente da nossa, mas vem-lhe buscar as bases.

    Enfim podia continuar e certamente haveria de me esquecer de alguma coisa, o importante é realçar que a experiência gastronómica induz uma socialização enriquecedora.

    E Odivelas tem algum traço gastronómico? Terá tido no passado, mas o que nos vem á memória é a celebrada “marmelada” de Odivelas, muito típica, cuja valorização está a cargo de uma confraria ou duas.

    Tirando isso a nossa gastronomia local é assegurada pelos restaurantes cá da terra, e existem vários para todos os gostos, feitios e bolsas. Mas para um restaurante funcionar como elemento de atracção de forasteiros ou até residentes, para além da boa comida, é essencial ser fácil encontra-lo … aberto.

    Já me aconteceu chegar a um restaurante, ali nas colinas, com pessoa convidada, faltando poucos minutos para o meio dia, e ser-me barrada a intenção de me sentar numa das muitas apelativas mesas postas, com o argumento que “o serviços ainda não começou”, aguarde lá fora. Semelhantemente aconteceu num restaurante perto de casa muito procurado, porque faltavam 7 minutos para o serviço iniciar.

    Mas a “créme de la créme” foi no passado dia internacional da mulher, pretender proporcionar às minhas mulheres (esposa e filhas) um agradável repasto comemorativo do dia que se assinalava, mas sendo 22.30, apenas dois restaurantes estavam abertos, precisamente os referidos em cima, e ao pretender entrar nos mesmos, visto estarem com vários clientes, a serem atendidos, exibiram uma postura de total indiferença, disparando um definitivo “já não servimos”.

    Em jeito de brincadeira disse ao meu pessoal “estão a ver afinal a crise é psicológica, estes já não precisam de ganhar dinheiro”.

    Não vislumbro como Odivelas se pode assumir como uma terra de oportunidades, se estas oportunidades são desbaratadas pelo tecido económico, no caso a restauração, que se dá ao luxo de recusar clientes porque faltam uns minutos para abrir o serviço, ou porque depois das 22 horas, já não querem clientes.

    Certamente a “glovo” a “ubereats” e outros que tais agradecem, mas uma cosia é certa, com este tipo de restauração, não vamos lá. Nem a marmelada os salva.

    Oliveira Dias, Politólogo

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