Final à vista (?) de um dos conflitos regionais mais sangrentos deste século, particularmente por encerrar uma crise humanitária sem precedentes. China consegue incentivar o restabelecimento do diálogo entre o Iémen Huti e a Arábia Saudita com o objectivo único de travar o conflito que dura há nove anos, definitivamente. A notícia é avançada pelo coronel Pedro Baños, na sua conta do Twitter.

Segundo o geoestratégia militar espanhol, anuncia-se o termo de uma guerra sangrenta que o Ocidente quase ignorou por completo, sobretudo por envolver um parceiro estratégico, pese embora se circunscreva no Mundo das autocracias entre as mais cruéis do planeta, a Arábia Saudita. Mas convém relembrar que se atravessa um momento em que os sauditas pretendem dar uma nova imagem de si mesmos ao Mundo, particularmente pela organização de grandes eventos desportivos internacionais, incluindo competições de países terceiros.
Recorde-se que a Organização das Nações Unidas (ONU) qualifica o Iémen como a pior situação humanitária do Mundo, presentemente. A situação de fome é devastadora e afecta mais de 14.000.000 de iemenitas.

Segundo a ONU, o conflito já fez, nos últimos três anos, pelo menos, 233.000 mortes, incluindo 131 mil por causas indirectas, como sendo por falta de alimentos, serviços de saúde e infraestrutura. Mas o número mais aterrador prende-se com as percas de vidas de crianças: só como consequência directa dos combates perderam a vida 10.000 menores de 15 anos. Contudo, ONG’s no terreno – particularmente a “Save The Children” – garantem que nestes três anos faleceram 85.000 crianças menores de 5 anos, nos últimos 8 anos. O Iémen que vive uma guerra civil violenta há nove anos, é um dos mais pobres entre os países árabes.
Origens na Primavera Árabe de 2011
O conflito tem origens na Primavera Árabe, de 2011, quando uma revolta popular forçou o presidente, Ali Abdullah Saleh, a deixar o poder nas mãos do então vice-presidente, Abdrabbuh Mansour Hadi, gerando-se uma nova onda de insatisfação em grande parte da população iemenita, aumentando tensões entre a população já dividida.

A BBC News do Brasil explica com clareza, numa linguagem simples, para que todos entendam as causas do conflito e quem são as partes envolvidas. Vejamos: Supunha-se que a transição política levaria à estabilidade, mas o presidente Abdrabbuh Mansour Hadi enfrentou diferentes problemas, entre eles, ataques da Al-Qaeda e de um movimento separatista no Sul, corrupção, insegurança alimentar e um outro facto não menos determinante: muitos militares mantinham-se leais ao anterior presidente Ali Abdullah Saleh.
O movimento huti – que defende a minoria Xiita Zaidi do Iêmen e lutou em várias rebeliões contra Saleh, na década passada – aproveitou-se da debilidade do novo presidente para tomar controle da Província de Saada e de zonas próximas.
Desiludidos, muitos iemenitas, mesmo sunitas, apoiaram os hutis, e, no final de 2014, os rebeldes tomaram a capital Saná, forçando o presidente Abdrabbuh Mansour Hadi a exilar-se. O Iémen ficou sem liderança. E o conflito quase se generalizou de modo dramático em março de 2015, quando países terceiros entenderam por bem intervir no conflito interno iemenita por medo a uma suposta influência do Irão. Arábia Saudita e outros oito países árabes – todos de origem sunita -. constituíram uma coligação, prontamente apoiada pelos aliados ocidentais Estados Unidos, Reino Unido e França: Todos juntos realizaram ataques aéreos contra posições hutis com o objetivo declarado de restaurar o governo do presidente Mansour Hadi que tinha substituído Ali Abdullah Saleh, forçado a demitir-se anteriormente.
Medo do Irão e oportunismo dos radicais islâmicos
A coligação liderada pela Arábia saudita e os aliados ocidentais receava que o sucesso dos hutis daria ao Irão um ponto de apoio estratégico no Iémen, vizinho da Arábia Saudita. O Irão, de maioria xiita, é o maior rival regional dos sauditas e inimigo número 1 do Ocidente, no Médio Oriente. A intervenção da coligação foi violenta e suportada também na ideia de que o Irão apoiava os hutis com armas e suporte logístico.

Em meados de 2017, os militares hutis acabaram por se opor aos desígnios do ex-presidente Ali Abdullah Saleh que apoiavam teoricamente, assassinando-o em dezembro desse mesmo ano.
Há mais de três anos que as tropas da coligação se estabeleceram na cidade de Áden e expulsaram os hutis de quase todo o Sul do país. Aliás, a Arábia saudita garante que o governo de Mansour Hadi foi estabelecido ainda que este permaneça exilado.
Apesar de maior sucesso da coligação, nunca conseguiram expulsar os hutis da cidade de Sanaã e muito menos da cidade de Taiz, mais a Sul. É a partir de Sanaã, de onde disparam, com alguma frequência, mísseis e munições de artilharia em direção à Arábia Saudita. Aliás, o bloqueio contra o Iémen foi potenciado após a queda de um míssil balístico em Riad, capital Saudita, em novembro de 2017, supostamente lançado por militares hutis iemenitas.
O conflito torna-se ainda mais sangrento a partir do momento em que militantes da Al-Qaeda, na Península Arábica, e rivais da própria Ai-Qaeda ligados ao designado Estado Islâmico, aproveitaram-se do caos dos últimos três anos, ocupando territórios a Sul do país, fazendo deles palco para os seus próprios conflitos, perpetrando ataques mortíferos, especialmente na península Áden, mesmo ao virar do Golfo de Áden para a entrada do Mar Vermelho, frente ao Jibuti (já do lado do chamado “corno” de África que também confina com o Mar Arábico ao Norte do Indico). atingindo populações civis, principalmente mulheres e crianças.

– por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)