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Bem sei que o que não faltam são preocupações para os odivelenses! Entre elas estará, certamente, a mobilidade dos seus munícipes e a respetiva necessidade de um ordenamento que permita melhorar a circulação, sendo esta uma das principais competências da Câmara Municipal.
A ausência de faixas dedicadas a transportes públicos ou de ciclovias e a existência de vias sem quaisquer condições para a circulação de peões deveriam estar, por isso, nas prioridades do executivo municipal. Só com o aperfeiçoamento das condições referidas podemos, equacionar a substituição do automóvel e melhorar a mobilidade no concelho.
Devido à falta de confiança nos transportes públicos, tantas vezes justificada, e à ausência de alternativas às deslocações em meio próprio, temos diariamente uma circulação automóvel caótica, com tempos de viagem absurdos para distâncias tão curtas.
Uma das razões que levam a uma elevada intensidade de tráfego no nosso território são o transporte das crianças e dos jovens até às escolas, ATL ou outras atividades desportivas ou culturais. À boleia dos pais, as deslocações em automóvel próprio são uma das razões que tornam muito difícil o trânsito em Odivelas, principalmente nas horas de entrada e saída para as escolas ou ATL, que coincidem com a ida para ou o regresso dos empregos.
Outra das razões é que Odivelas continua a ser um concelho dormitório, periférico do centro de Lisboa, que beneficia de 3 estações de Metro. Esta circunstância, que representa um fator de atratividade para quem escolhe a sua casa e que aqui acaba por se fixar, torna as áreas próximas destas estações zonas de estacionamento selvagem, com um trânsito caótico, com uma ocupação abusiva das ruas e passeios e limitadora para quem ali reside.
É por isso fundamental que se criem alternativas que permitam a circulação diária de milhares de pessoas (para o trabalho, escola e atividades) de forma segura e com qualidade. Esta tarefa reveste-se de uma importância ainda maior numa altura em que a redução da utilização do automóvel e das emissões de dióxido de carbono representam uma prioridade mundial, pelo menos nos países mais desenvolvidos – aqueles com quem nos devemos querer comparar.
Olhando para a realidade de Odivelas, o panorama é assustador e há dois exemplos recentes que dão evidencia disto mesmo: as recém-criadas “Zonas 30” e uma famosa inauguração de um parque de bicicletas no Senhor Roubado.
Começando pelas denominadas “Zonas 30” e considerando a Estratégia para a Mobilidade Urbana, aprovada pela Câmara Municipal de Odivelas em Outubro de 2020, um dos objetivos da implementação destas zonas passa por promover a mobilidade suave e contribuir para uma divisão modal mais sustentável.
Este documento estratégico assume mesmo como primeiro objetivo “alterar a repartição modal nas deslocações a favor dos transportes públicos e dos meios suaves, (pedonal e ciclável), melhorando as condições de mobilidade das populações”. Atenção, foi o Município de Odivelas que aprovou isto!
Mas após a concretização de algumas destas obras no centro histórico de Odivelas, constatamos que não foram criadas vias dedicadas aos transportes públicos, nem vias de circulação para bicicletas ou trotinetes (meios suaves).
Há toda uma obra nova, com um investimento bastante significativo do orçamento municipal e é lamentável verificar que não foram criadas condições de mobilidade leve, para bicicletas e trotinetes, com vias e zonas de estacionamento para estes meios de transporte, ainda para mais quando vemos cada vez mais pessoas a utilizar estas formas de deslocação.
Se a criação de vias unidirecionais no sentido de trânsito com velocidade reduzida é uma boa solução, esta, sempre que possível, devia ser acompanhada de faixas exclusivas para transportes públicos. Mas, infelizmente, não foi isso que aconteceu nestas “Zonas30”.
O outro exemplo obriga-nos a recuar a Maio de 2021, quando o então Ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, inaugurou um parque de estacionamento para 5 bicicletas (tentem não rir), junto à estação de Metro do Senhor Roubado.
Estávamos na antecâmera das eleições autárquicas de Setembro de 2021 e nessa cerimónia de inauguração era anunciado com pompa e circunstância uma fantástica rede de ciclovias que ligaria Odivelas aos concelhos limítrofes, aí se afirmando que se tratava de “um ato oficial de assinatura de contratos de financiamento de ciclovias intermunicipais”, que visavam “a construção de 46 quilómetros de ciclovias, envolvendo oito municípios”, representativos de “um investimento de cerca de 12 milhões de euros”. Estávamos a falar de algo em grande, mesmo!
Mas depois temos a realidade…
O que a realidade nos mostra são várias ciclovias às portas de Odivelas, com destaque para as de Lisboa e Amadora, que são interrompidas por não terem continuidade no nosso território.
Dando uma volta pelo concelho, é fácil constatar que não há uma única ciclovia digna desse nome. Com o anúncio de tantos quilómetros e de tantos milhões de investimento, não sei bem quantos é que já foram construídos noutros concelhos, mas, em Odivelas, nem 100 metros!
A mobilidade leve e a circulação intermodal planeada são mais uma evidência reveladora de um executivo socialista sem qualquer estratégia, quando já leva mais de 20 anos de governação à frente dos destinos do concelho.
Temos um documento aprovado que tem uma caracterização e diagnóstico bastante realistas, mas com uma execução camarária socialista incapaz de dar resposta aos problemas aí assinalados e à vista de quem diariamente se desloca em Odivelas.
Continuamos a ver uma cidade onde os peões circulam literalmente no meio da estrada, por ausência de passeios, onde não há uma única ciclovia digna desse nome, onde não há faixas rodoviárias exclusivas a transportes públicos e onde a possibilidade de termos um sistema partilhado de bicicletas ou trotinetes, com ordenamento e regulação, não é mais do que uma miragem.
E assim vai Odivelas, não a “30”, mas a passo de caracol e sem qualquer estratégia de mobilidade!
David Pinheiro, Iniciativa Liberal de
Odivelas