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O Presidente da República Portuguesa tem-se desdobrado em afirmações contraditórias, sobre o Governo, umas vezes no sentido de o manter em funções, outras vezes ameaçando-o veladamente com a demissão, mas há um denominador comum que o Primeiro-Ministro já deve ter percebido, é que tudo continua na mesma, apesar da sucessão de casos e casinhos, porque sabe que o padrão de Marcelo Rebelo de Sousa é falar muito, sem a correspondente concretização, ou seja, como diz o ditado popular é “muita parra, pouca uva”.
Aliás, Marcelo Rebelo de Sousa, na sua ânsia de ficar na História como o Presidente dos afetos, acabará atraiçoado pela sua fulgurante inteligência, porque ao teimar em manter este Governo em funções está a prestar um péssimo serviço às pessoas mais frágeis e desfavorecidas que são as mais prejudicadas com a falta de clarividência e incapacidade que António Costa está a evidenciar para inverter a atual falta de rumo da governação de Portugal.
A sociedade portuguesa, já percebeu que há mais do que razões suficientes para a demissão do Governo, mas perante o clamor social instalado sobre essa situação, Marcelo Rebelo de Sousa justifica-se, perante a comunicação social, afirmando que manterá António Costa em funções, porque a inflação está alta, há guerra na Ucrânia, há necessidade de executar o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e segundo diz, não há atualmente uma alternativa política ao Partido Socialista, embora as sondagens mais recentes, o contradigam.
Marcelo Rebelo de Sousa vai também dizendo que o Governo deverá melhorar o seu desempenho e concretizar as reformas de que o país necessita, mas isso é uma conversa de embalar porque já se constatou que o Executivo socialista está paralisado e incapaz de resolver os graves problemas existentes em muitas áreas da governação, por exemplo: a) na Saúde, onde há um milhão e duzentos mil portugueses sem médicos de família e as urgências dos hospitais públicos funcionam intermitentemente, com graves falhas aos fins de semana, nos períodos noturnos e em épocas de férias; b) na Educação com os professores há meses em estado de sítio e em guerra aberta e permanente com o respetivo Ministro; c) na Justiça com greves e atrasos processuais; d) na Defesa externa, onde já não conseguimos sequer patrulhar eficazmente o nosso mar territorial.
A propósito da Defesa externa, é oportuno referir que a Marinha Portuguesa pode ter falta de navios reparados e em prontidão para o cumprimento das suas funções de soberania, mas a Força Aérea tem os seus jatos “Falcon”, da gama 50 e 900, devidamente operacionais, porque o Presidente da República ou o Primeiro-Ministro podem necessitar desses aviões para as suas viagens, como tem acontecido frequentemente. Questão de prioridades.
O clamor público sobre a demissão do Governo do Partido Socialista, chefiado por António Costa, é por culpa do próprio Executivo que tem multiplicado, sem fim à vista, sucessivos casos e casinhos e outras trapalhadas, que põem em causa o regular funcionamento das instituições democráticas, mas Marcelo Rebelo de Sousa, não consegue vislumbrar essa situação, apesar da sua longa experiência como jornalista, professor catedrático de direito público, analista político, secretário de estado, ministro, líder partidário e atualmente no segundo mandato de Presidente da República.
Quem acompanhe minimamente a situação política portuguesa, incluindo muitos socialistas, não deverá ter dúvidas que Marcelo Rebelo de Sousa já terá concluído que a atual governação do país está de facto a pôr em causa o regular funcionamento das instituições democráticas, o que constitui uma das razões para a demissão do Governo.
Sabendo-se que o Governo está a implodir internamente e completamente atolado nas suas próprias trapalhadas, importa saber qual a verdadeira razão para Marcelo Rebelo de Sousa o manter em funções, parecendo evidente, face ao resultado consistente das últimas sondagens, que o Presidente da República está desesperadamente a querer afastar o Chega do arco da governação. Em política o que parece é.
Este é o erro de Marcelo Rebelo de Sousa que, como Presidente da República, deveria pautar a sua atuação por critérios de independência e equidistância partidária, sem favorecer ou prejudicar os partidos políticos, não condicionando os portugueses na decisão de escolherem quem os deve governar.
Estamos em crer que Marcelo Rebelo de Sousa será obrigado a aceitar que a alternativa democrática à maioria absoluta do Partido Socialista, inevitavelmente terá de incluir o Chega, partido político que tem plena legitimidade, como qualquer outro com assento na Assembleia da República, para integrar o arco da governação em Portugal.
Sim, o Chega é um partido de direita, aliás, o mais à direita dos que têm assento na Assembleia da República, tendo a legitimidade de representar, na sequência de eleições livres e democráticas, uma franja significativa da população portuguesa que não se revê nos velhos partidos do sistema, da direita à esquerda, que conduziram Portugal ao atual pântano político em que se encontra.
É notório e evidente que o crescimento do Chega, conforme o indica as sondagens recentemente publicadas, está a incomodar de sobremaneira, não só o Presidente da República, mas também todos os outros partidos que não reagem a essa situação em termos de luta política leal e democrática, optando pelas estafadas e infundadas acusações de xenofobia e racismo e de fixação de incompreensíveis linhas vermelhas.
Já é tempo de o Presidente da República assumir as suas responsabilidades e demitir o Governo do Partido Socialista e deixar o sistema partidário funcionar em pleno e sem condicionalismos ou então só lhe restará demitir-se ele próprio e dedicar-se a tempo inteiro às selfies que tanto aprecia.
Fernando Pedroso
Deputado Municipal do CHEGA na AMO