O Metropolitano de Lisboa, no âmbito das obras relacionadas com a chamada Linha Circular, fez amputar o serviço de metro junto a um dos mais importantes interfaces da cidade, interrompendo a circulação nas linhas amarela e verde entre o Campo Grande e a Cidade Universitária e entre Telheiras e o Campo Grande. Para além disso, reduziu o serviço nos troços que se mantiveram em funcionamento, com composições curtas, como na Linha Verde e troço Campo Grande a Odivelas na Linha Amarela, e nalguns casos menos frequentes. Para agravar, não foram providenciados serviços de autocarros alternativos – tudo isto numa altura do ano, de aulas e trabalho, em que é vital os serviços de transporte urbanos funcionarem em pleno.
Numa fase em que o consumo de combustível em Portugal regressou ao nível pré-pandemia e o trânsito em Lisboa supera esse nível, atingindo níveis caóticos em muitas alturas da semana, a Quercus e a ZERO entendem que estes constrangimentos mal planeados são um sinal errado na transição para uma mobilidade mais sustentável, pois estão a gerar cenários caóticos nos transportes, a fazer aumentar desmedidamente os tempos de viagem – nalguns casos mais que triplicam –, as quais se dão em condições inaceitáveis, e com isso a fazer muitos utilizadores desistirem do transporte público e optarem pelo individual em automóvel.
A Quercus e a ZERO compreendem a necessidade de cumprimento de prazos, nomeadamente fixados no âmbito da comparticipação da obra por fundos comunitários, mas tal não se pode sobrepor ao interesse absoluto de manter níveis de serviço de transporte público condignos. A Quercus e a ZERO entendem por isso que as obras deveriam ter sido programadas para o Verão, numa altura de interrupção do ano lectivo e de férias dos trabalhadores, o que não traria certamente atrasos significativos no cronograma de execução da obra.
Sendo agora demasiado tarde para agir a montante do problema, a Quercus e a ZERO exigem que sejam feitos esforços urgentes para garantir formas de transporte alternativo, nomeadamente a criação de serviços especiais de autocarros que assegurem os percursos dos troços interrompidos. Além disso, este serviço deve apresentar uma frequência adequada, que cubra as necessidades dos utilizadores ao longo do horário de funcionamento habitual do metropolitano de Lisboa.
Para garantir tempos de viagem o mais semelhantes possível aos do metropolitano, estes autocarros devem ser integrados num sistema de vias rodoviárias prioritárias com um sistema de semaforização adaptado às exigências de um serviço de autocarros de alta frequência. Além disso, as estações de bicicletas Gira nos locais e freguesias afectadas pela interrupção do metropolitano, nomeadamente junto às estações, devem ser frequentemente reforçadas com bicicletas que assegurem a procura nos percursos afectados, especialmente de manhã e à tarde, algo que não tem sucedido. Deve ainda o Metropolitano assegurar a disponibilização dos tempos de espera do metro, serviço indispensável mas que na internet está indisponível há semanas e nas estações das linhas afetadas se tem revelado pouco ou nada fiável
Coordenação e não competição entre os diferentes modos de transporte público
Tudo esta situação traz à tona a descoordenação crónica entre operadores de transportes da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e as diferentes tutelas do Ministério do Ambiente, Ministério das Infraestruturas, Câmara Municipal de Lisboa e restantes Câmaras da AML, bem como entre os operadores rodoviários, como os Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), táxis, TVDE e os operadores ferroviários. A Quercus e a ZERO consideram imprescindível que quase 24 anos depois do primeiro dia europeu sem carros, e num momento em que o sector dos transportes representa quase 30% das emissões do país, sejam feitos esforços para que as várias entidades responsáveis procurem soluções conjuntas para mitigar este problema (que se prolongará pelo menos até julho), e sobretudo para que cheguem a acordo sobre a criação de uma Autoridade Metropolitana de Transportes com poderes efetivos de coordenação, e que apresente uma estrutura de governação que envolva todos os atores relevantes, incluindo as Organizações Não Governamentais de Ambiente, as Associações de Utentes e de Moradores, em coordenação com a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes.
Quercus e ZERO exigem clarificação sobre a nova linha: circular ou em laço?
Quanto aos fundamentos das obras em curso que visam a criação da nova linha circular, a Quercus e a ZERO têm dúvidas das mais valias ambientais que resultarão de uma linha que interrompe o acesso direto dos moradores do eixo de Odivelas à cidade. Por isso, a Quercus e a ZERO esperam que estejam a ser desenvolvidas todas as adaptações para garantir que esta nova linha seja efetivamente uma Linha em Laço, na qual entroncam directamente as composições provindas do eixo de Odivelas, e vice-versa, garantindo assim que aos utilizadores da actual Linha Amarela não será imposto mais um transbordo, tal como o atual executivo camarário defendeu e responsáveis políticos asseguraram na altura da decisão.
Fonte: ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável