Este conteúdo é Reservado a Assinantes
O que leva dois militantes do PSD, no alto da sua experiência Presidencial da República, a terem diferentes opiniões, sobre a capacidade e competência do actual líder do PSD, Luís Montenegro, não se coibindo de trazer a público as suas pessoais divergências em razão de matéria?
Cavaco e Marcelo, demonstraram á saciedade, os respectivos estilos presidenciais, um nos antípodas do outro, e quiçá, aí residir o cerne da sua animosidade pessoal, como que um a dizer ao outro “a minha gravata é maior que a tua” – Cavaco sisudo e refugiado na sua concha (Belém), Marcelo extrovertido e nas ruas a tirar selfies.
Ambos egocêntricos, com Cavaco a lidar mal com a sua condição de reformado dos grandes palcos, e Marcelo exacerbando o seu gosto de ser a figura do dia, todos os dias, em todos os locais.
O líder do PSD, tendo arrumado com o seu antecessor, anda meio perdido com a dinâmica política do País, mergulhado numa angustiante ansiedade latente, ora temendo o regresso do sebastiânico ex-líder Pedro Passos Coelho, qual fantasma do passado, mais presente que o próprio líder Montenegro, ora hesitante sobre a muleta a escolher, num futuro exasperadamente incerto – CHEGA, que teme, o IL que receia, ou o CDS uma ténue realidade partidária.
Sem rumo, Montenegro, faz navegação de cabotagem (á vista da costa), com os olhos fixos no Costa, primeiro-ministro, esperando um milagre, uma oportunidade de mostrar o que vale.
Para seu desespero, o Professor Marcelo já lhe deu nota definitiva – reprovado, ou seja, a chancela dos inaptos minimamente para a coisa.
Com isso, é Marcelo quem efectivamente, dá corpo á oposição ao PS, e ao Governo de António Costa, e, ironicamente, dando razão a um ex-secretário de estado autor da frase “o senhor Presidente da República pode ser o nosso pior pesadelo”, e hoje a realidade dos factos comprova a 100% a exactidão da frase.
A “boa” relação institucional entre Marcelo e António Costa apenas durou enquanto Marcelo conseguiu impor a exoneração de governantes, entre outras situações sistematicamente levadas a cabo pelo Presidente, numa ingerência noutro órgão de soberania, o governo, em clara violação das regras constitucionais, mas quando isso deixou de ser assim, a coisa azedou, e o homem amuou.
Mas o pior foi quando Marcelo, na veste de Presidente da República, anuncia aos jornalistas ver-se na contingência de não poder usar, como é seu desejo, outrora intimo, hoje declarado, de usar a “bomba atómica” escorado na certeza da inexistência de uma alternativa ao PS e a António Costa.
Dito de outra maneira e em vernáculo de mesa de café “O PSD não conta para o campeonato, e está nas mãos do CHEGA e do IL, já que o CDS não existe, e o líder Montenegro não convence ninguém”.
Isto condiciona, brutalmente, um impreparado Montenegro, para quem já não bastava a “sombra” de Passo Coelho, como agora vem o próprio Marcelo, decretar a sua mediocridade.
Rebuscando o baú, Montenegro, saca de lá o vetusto Aníbal Cavaco Silva, cuja voz, curiosamente, ainda é ouvida pela comunicação social, e só por esta, ao povo Cavaco não passa de uma má memória (ninguém se esquece, quando caiu o BES com estrondo, momentos antes Cavaco dizia, ao País, que era um banco sólido), e a propósito de um evento dos autarcas do PSD, vai lá botar discurso. Outra ironia, pois Cavaco primeiro-ministro, ignorava olimpicamente o Poder Local, e até os incluía nas suas famosas “forças de bloqueio”, mas a necessidade assim o impõe.
Perante os autarcas do PSD, Cavaco fartou-se de enviar recados ao actual Presidente da República (mas então estando num evento do Poder Local do PSD não deviam ser a estes os destinatários das suas palavras?).
Marcelo não demorou a dar troco, 24 horas depois, ao microfone de uma televisão, sentenciou “eu (Marcelo), enquanto Presidente falo muito, quando deixar de o ser, falarei pouco, outros (referindo-se a Cavaco), preferem fazer ao contrário”.
Ou seja, para Marcelo, Cavaco calava-se demais enquanto Presidente, e agora, que não o é, fala demais.
Cavaco Silva, discordando da nota de medíocre, chancelada por Marcelo a Montenegro, contrapôs a “superior” preparação do dito, a si próprio quando assumiu pela primeira vez a chefia do governo. Primeiro erro de Cavaco.
Depois Cavaco, ao contrário de Marcelo que vê numa coligação á direita a solução para derrotar o PS, instou Montenegro a ir a jogo sozinho, dizendo mesmo ser um erro não seguir o seu conselho, e com isto deu um pequeno puxão de orelhas a Montenegro, como se faz aos miúdos travessos, por andar a almoçar com o líder da IL. Segundo erro de Cavaco.
Havendo uma luta de egos entre Cavaco Silva e Marcelo Rebelo e Sousa, não se afigura muito inteligente, ir buscar Cavaco para enviar recados a Marcelo, que os não aceita e até os despreza.
Montenegro, fica no meio desta artilharia pesada, e nem percebe que os tiros saem todos pela culatra. Parece, um pouco aquele miúdo no recreio da creche, a dizer aos matulões que vai chamar o irmão mais velho.
2026, ano de eleições legislativas, vem demasiado longe para Montenegro, os casos e casinhos menores e de terceiro plano, saídos da CPI á TAP, são meros rolos trituradores de lavagem de roupa suja, que nada acrescentam à política portuguesa, sendo até contra procedente, face ao comportamento indigno e vexatório dos deputados do PSD, e não só, a quem não interessam explicações, sejam elas quais forem, o que se percebe, pois a venda á pressa da TAP num finado governo do PSD, liderado por Pedro Passos Coelho, verdadeiro caso de policia, é muito incómodo e urge mesmo desviar as atenções, a que se juntam as próximas eleições europeias, em 24 de Junho de 2024, que retiram margem de manobra a um líder, cada vez mais a prazo.
Nem sequer os outros ex-líderes do PSD, se dispõem a dar uma ajudita (Santana Lopes, ainda magoado mandou-os á fava, Marques Mendes a seguir pisadas dos mestres, está a ver se passa pelos pingos da chuva, Rui Rio incompreendido, não está para aturar os miúdos de “Kindergarten”).
Acresce que todos os ex-líderes do PSD, com propriedade se lhes podia chamar líderes da oposição, já Montenegro nem isso consegue para si.
Se Montenegro não passar o teste das Europeias, com distinção, vai passar á história, sem história de relevo para o seu currículo, e o do PSD.
Por tudo isto é perfeitamente compreensível o desespero nas hostes do PSD.
É a vida.
Oliveira Dias, Politólogo