O cenário mais tenebroso que se oferece no momento é claramente a guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia.
Para lá de todas as considerações, e são muitas, uma há que é a mais preocupante: o holocausto nuclear. Em primeiro lugar não é lá muito correto dizer que a guerra é apenas entre aqueles dois beligerantes, isso é quase um eufemismo, porquanto a realidade é que a guerra desenvolve-se com vários protagonistas, desde logo a Federação Russa, que provocada pelo cerco a que se viu sujeita pela NATO, e a iminente possibilidade de ver ogivas nucleares á sua porta, na Ucrânia, se viu forçada a agir, afinal os americanos têm já ogivas suas (não da NATO mas sim suas) na Alemanha, Bélgica, Itália e Turquia, e certamente não é para enfeitar o solo europeu, não se ignorando que quer a Inglaterra quer a França são potências nucleares … ora este arsenal todo na Europa quem visa? A Federação Russa naturalmente.
Em segundo lugar é certo que a Federação Russa é o agressor, por necessidade de defesa, aos olhos da Federação Russa, algo que Putin vem alertando desde pelo menos 2003, sem que o ocidente lhe dê crédito.
O ocidente ao ignorar os receios tantas vezes verbalizado por Putin, mais não fez do que ignorar, humilhando-o, avançando com adesões de ex-estados soviéticos … porquê?
O apoio total que o ocidente providencia á Ucrânia faz dele parte integrante do conflito, e generalizou-se a ideia, propalada pelos opiniáticos e por responsáveis militares NATO, publicamente, á saciedade, que a Federação Russa tem forçosamente de perder esta guerra.
O argumento é que se a federação Russa ganhar irá avançar contra a Polónia e os estados bálticos, como se Putin fosse louco o suficiente para atacar países NATO.
Quando os opiniáticos não percebem que é impossível derrotar um país com potencial nuclear, recorrendo a armas convencionais, como pretende a Ucrânia, onde por muito sucesso que a contra-ofensiva tenha, apoiada pelo ocidente, no final das contas a Federação Russa terá mesmo de recorrer ao seu arsenal nuclear, como de resto já o fez há 70 anos os EUA, então nunca irão perceber porque razão Putin nunca deixará que aconteça o que sucedeu em 1962 quando Nikita Krutchev, curiosamente um ucraniano, teve de meter a viola no saco e dar meia volta sem conseguir colocar misseis em Cuba, forçado pela reacção defensiva de Kennedy, cujos argumentos foram exactamente os mesmo de Putin, hoje.
Em conclusão, lá que os opiniáticos se enganem quanto ao cenário 1 e 2, já este último assume foros de armagedão, mas apenas para os europeus, porque os outros continentes estão demasiado afastados para sentirem na pele as ogivas nucleares tácticas, as tais que quando rebentam arrasam tudo num raio entre 20 a 100km, e ai de quem viva na Alemanha, na Bélgica, na Itália e na Turquia, num primeiro momento num segundo momento (coisa de alguns minutos a ver no que param as modas) a França e a Inglaterra que se cuidem também, a não ser que não carreguem nos seus botões nucleares, pois a decisão é sua, ao contrário dos primeiros que nem sequer dominam o comando do botão nuclear.
A opinião pública americana estará disponível para morrer por causa de um país europeu? Duvido. Eles sabem que o uso o nuclear estratégico (entre continentes) é como a pata do elefante … onde ele põe a pata …. Lixa tudo.
Estou absolutamente convencido que antes mesmo do Nuclear, seja ele o táctico, seja ele o estratégico, a escalada passará primeiro por outros factores, e desde logo o recente rebentamento da barragem é só um dos sinais.
Não existem “guerras fofinhas”, onde os inocentes escapam do terror da morte, e numa guerra o objectivo de ambos os lados é sempre subjugar o outro, recorrendo a todos os meios, a não ser que lucidamente as partes vejam vantagem em suspender as operações, como que congelando o estado actual da mesma.
Isso permite, por um lado ganhar tempo, para tratar dos feridos, das maleitas e lamber as feridas, e por outro dá lugar aos decisores militares primeiro e civis depois de gizarem soluções, com a ajuda de terceiros, mas com a realidade, a dura realidade, como ponto de partida.
Enquanto isso não acontece, não é só com barragens destruídas que se compromete planos, próprios e alheios, os cereais também são um recurso importante de subjugação, e é só fechar a torneira e um dos lados, nesta contenda, fica logo de cócoras, a Ucrânia.
A maior central nuclear da europa, Zaporhigia, é outro recurso que pode fazer moça sobretudo se a electricidade que dali alimenta a Ucrânia for cortada de vez, e não esporadicamente, como tem acontecido.
Já ensinava Zun Tsu, na sua obra magistral “A arte da Guerra”, como se houvesse arte no terror, que onde mais dói no inimigo, são os seus recursos logísticos, e que por isso a sua destruição é um imperativo.
No final das contas é muito simples, para um lado sair vencedor, o outro tem de ser destruído, e isto é extensível aos “amigos” associados a cada um deles. E reiterando a pergunta, será que os “amigos” estão dispostos a serem destruídos para se solidarizarem com o vencido?
Ou será mais inteligente, uma cooperação entre todos os envolvidos, sobretudo os que têm o poder de decisão (os políticos russos, americanos, e os militares ucranianos, que efectivamente dão ordens a Zelensky), para, pelo menos, não escalarem mais, e a parti dessa pausa de guerra, avaliarem as opções que realisticamente sobram em cima da mesa? Voltar ao que era antes da guerra é uma impossibilidade, que só uma visão fantasiosa e obnubilada, pode persistir em perseguir.
Lá diz a velha frase “não desencadeies nada que não possas controlar”, dito noutro vernáculo: “não provoques gratuitamente, o urso adormecido”.
Oliveira Dias, Politólogo