7 Anos depois celebrou-se o primeiro voo entre Sanaa, capital do Iémen, e a Arábia Saudita. Há mais dois voos marcados para esta semana. Uma boa notícia: oxalá seja o pronuncio do final de um dos conflitos regionais mais sangrentos deste século, particularmente por encerrar uma crise humanitária sem precedentes. Que se anuncie o final de uma guerra que perdura há 9 anos, mas – vá lá saber-se a razão – foi literalmente ignorada a Ocidente.
O acontecimento está directamente relacionado com a intervenção da China que conseguiu aproximar dois países que pareciam irreconciliáveis: realmente a diplomacia chinesa incentivou o restabelecimento do diálogo entre o Iémen Huti e a Arábia Saudita com o objectivo único de travar o conflito definitivamente.
Sábado à noite (20 horas locais), da capital iemenita, Sanaa, descolou um avião com 277 passageiros que incluía peregrinos para o Haji, a “peregrinação” que é um ritual histórico para simbolizar o desapego e arrependimento durante um período de reflexão. É um dos cinco pilares do Islão com o testemunho, a reza, a esmola e o ramadão, portanto uma peregrinação muçulmana que passa pelas cidades de Meca, Mina, Arafat e Muzdalifah.

O aparelho da Yemenia Airways que voou para Djedda, assinala o fim do bloqueio de sete anos do aeroporto internacional de Sanaa imposto pela coligação militar liderada pela Arábia Saudita que combate os rebeldes houthistas, apoiados pelo Irão. A coligação que é apoiada pelos aliados ocidentais da Arábia Saudita controla todo o espaço aéreo e marítimo do Iêmen, incluindo as áreas mantidas pelos rebeldes.
Ghaleb Mutlaq, ministro das obras públicas houthistas, estimou que seriam precisos duzentos voos para transportar os cerca de 24.000 peregrinos que fazem questão de participar no Haji.

Tal como escrevi no meu artigo publicado em 19 de março último, a Organização das Nações Unidas (ONU) qualifica o Iémen como a pior situação humanitária do Mundo, presentemente. A situação de fome é devastadora e afecta mais de 14.000.000 de iemenitas.
Ainda de acordo com a ONU, o conflito fez, nos últimos três anos, pelo menos, 233.000 mortes, incluindo 131 mil por causas indirectas, como sendo por falta de alimentos, serviços de saúde e infraestrutura. Mas o número mais aterrador prende-se com as percas de vidas de crianças: só como consequência directa dos combates perderam a vida 10.000 menores de 15 anos. Contudo, ONG’s no terreno – particularmente a “Save The Children” – garantem que nestes três anos faleceram 85.000 crianças menores de 5 anos.
Pode ler-se o conteúdo do artigo que assinei em março passado em:
Tempestade da administração de Biden
Inflação nos EE.UU. flutua e, como escreve Felipe Pilkington, na Newsweek, encerra um odor persistente e desagradável: do ponto de vista da deflação global caiu do máximo de 8,9 por cento – máximo estabelecido em junho do ano passado (2022) – para pouco menos de 5% em abril último. Mas a maior dor de cabeça dos estadunidenses encontra-se na inflação subjacente, ou seja, a que não contempla o sector alimentar e os produtos energéticos. Essa diminuiu, mas permanece acima da inflação geral: situa-se nos 5,5%, facto que fez com que a Reserva Federal (ou seja, o banco central do Estados Unidos) alertasse para o facto de as taxas de juros terem de aumentar mais.
Importante entendermos que a taxa de juros referida pela “FED” – que é a taxa relativa aos fundos federais – encontra-se em torno dos 5%, o nível mais elevado desde o Verão de 2007, em vésperas da última crise financeira verdadeiramente ocorrida nos EE.UU..
Foi precisamente esta pressão das taxas de juro sobre o sistema bancário que foram responsáveis pelas recentes múltiplas falências bancárias: Silicon Valley Bank, Signature e First Republic. Isto sucede porque os preços das obrigações caem precipitadamente quando a Reserva Federal aumenta as taxas de juro tão rapidamente, tal como ocorreu no início do ano.
Felipe Pilkington reconhece que o mercado se encontra sob outras pressões: nomeadamente do mercado imobiliário comercial em queda, pela combinação de taxas de juros progressivas e o aumento dos salários do trabalho doméstico – interno dos Estados unidos – cada vez mais espremidos. Em certa medida, a liquidez no mercado imobiliário comercial pode esgotar-se se os empréstimos – que se negoceiam em baixa – , como os títulos garantidos por hipotecas em 2008, podem tornar-se resíduos tóxicos e terminarão asselados no balanço do governo.
É indesmentível que a economia Norte-americana se encontra num momento de estagnação, pese embora seja um facto com consequências distintas doque acontece na Europa em circunstâncias semelhantes, porque não será menos verdade que a capacidade de regeneração da economia estadunidense é muito maior e acelerada haja entusiasmo dos agentes económicos e também porque, essencialmente para quem conhece bem os EE.UU. se percebe estarmos perante “2 em 1”: por um lado, as grandes metrópoles; por outro, o resto do país, agrícola e industrial, por exemplo onde as vacas se misturam com cenários de extracção de matérias-primas como o petróleo e onde há alguns milhões que guardam mais dinheiro com eles que nos bancos (fenómeno que não permite saber com exatidão o volume de dólares que existem no país).
Durante os últimos dezoito meses, a economia dos Estados Unidos estagnou: cresceu 1,2% desde o quarto trimestre de 2022, em termos ajustados pela inflação.
Por outro lado, falta conhecimento concreto sobre o efeito na economia resultante do gasto extraordinário com a guerra na Ucrânia que ascende já a 145.000 milhões de dólares.
– por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)