Quinta-feira, Outubro 10, 2024
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MARCELO O ARBORICULTOR

Portugal, sempre gostou de cognomes para os seus governantes. É um País, cujas fronteiras estão definidas à séculos, antes mesmo de qualquer outro país ocidental, governado, sob regime monárquico, por 37 monarcas (sem contar com a mãe de Dom Afonso Henriques, que após a morte do Conde Dom, Henrique, assinava os documentos oficiais como “Regina”, ou seja Rainha em latim, de resto o seu filho, antes da “bênção” Papal, também já se intitulava de “Rex”, e de outro caso que a história dos cronistas oficiais não regista, mas cujos factos aconteceram mesmo – Dom António I, aclamado Rei, após o falecimento de Dom Sebastião, mas obrigado a exilar-se, perseguido pelos mesmos que “montaram” a cilada a Dom Sebastião, a “entourage” castelhana, cujo sucesso haveria de sentar os Filipes, no trono português) e sob regime republicano, vai agora no 21º Presidente.

Dom Dinis, cognominado o “Lavrador”, por ter ordenado a plantação do pinhal de Leiria, foi, digamos, o primeiro governante ligado à terra, via árvores. Aquela decisão régia visou impedir o desassoreamento das terras, que punham então em causa a comunidade local. Foi também com este Rei, que o país assistiu a uma alargada intervenção na secagem de zonas pantanosas, reconvertendo-as em solos aráveis. Portanto a ligação á terra era justificada.

Com a implantação do regime republicano, duas alterações radicais se verificaram logo à cabeça: Para marcar a diferença, o Estandarte do Presidente da República passou a ser uma bandeira nacional toda em fundo verde, hasteada sempre no local em que ele se encontra, em cada momento, contrariando, a cor do estandarte do Rei que era todo em vermelho; e abandonou-se o uso de cognominar os governantes, como se isso fosse uma obrigatoriedade associada a um nado governante.

Porém, e há sempre uma excepção à regra, no caso dos governantes republicanos, tínhamos, até agora, apenas dois Presidentes da República, cognominados “Presidente-Rei” – Sidónio Pais e Mário Soares. Para uns este cognome era visto como um apodo, para outros era percepcionado como um elogio.

Mas agora, o actual Presidente da República, cuja característica egocêntrica que o leva a deixar a sua face em todo o que é telefone, numa espécie de culto à personalidade, a roçar a patologia, num mimetismo praticado à exaustão por um seu correligionário de partido – Alberto João Jardim, com a diferença que este tinha sempre duas coisas à mão: Um fotógrafo para registo fotográfico dos villãos com o governante da quinta vigia (sede do governo regional), e dois seguranças pessoais, não fosse o diabo tecê-las (segurança sempre dispensados no continente por desnecessidade).

Contudo o 10 de Junho de 2023 marcou uma viragem, para Marcelo Rebelo de Sousa, pelo aproveitamento feito, de um evento cujo objectivo é celebrar Portugal, e bem merece pelos seus mais de 900 anos de história, Comunidades portuguesas no mundo, a nossa diáspora, credora do nosso orgulho concidadão, e de Camões, o vate maior da nossa nação.

Mas, o dia foi transformado, por Marcelo, o celebrante mor, e exclusivo, da efeméride, num discurso de recados políticos, disfarçado de elegias ao Douro, e á vinha, com o conforto de ter garantida a inexistência de réplica, porque só o Presidente discursa, podendo assim, atirar as pedras guardadas no alforge politico de ocasião, visando quem lhe merece desagravo.

Para adjectivar quem, sabendo que o oponente (no caso o senhor Primeiro-Ministro) não lhe pode dar troco à altura (não pode discursar), visando-o com pedradas, e apodos, umas directas outras disfarçadas, tirando vantagem da sua posição (a bola é só minha), ou quem faz uso de uma efeméride das mais sagradas para a Nação, conspurcando-a com recados e recadinhos de polichinelo, numa vendetta infantil, a lembrar o puto a quem lhe tiraram o rebuçado da boca e agora só quer vingar-se, teria de ser vernaculamente directo. Não o farei. Não quero ir tão baixo como quem critico.

Mas retiro algumas conclusões, no mínimo, bizarras: o Presidente da república Portuguesa, Marcelo rebelo de Sousa, para além de um insigne jurisconsulto e constitucionalista (esqueçam lá a apologia de Marcelo sobre a questão de referendar matérias constitucionais …), esmeradíssimo selfista profissional, prolifero cronista cá do burgo, revelou mais uma “colidade” do seu variadíssimo arsenal – a Arboricultura. Pois é, o homem é um especialista no cultivo e tratamento de Árvores.

No lamentável discurso proferido, Marcelo o arboricultor, aconselhou a podar as árvores, cortando os ramos mortos para não afectar a árvore, assim doente, com a presença daqueles empecilhos. Qualquer semelhança a referências ao governo e António Costa, já antes, por Marcelo, o arboricultor, classificado como um governo “cansado”, e ao irritante do momento, personalizado pelo ministro da infra-estruturas, João Galamba, é, segundo o Presidente da República, mera coincidência.

Dizer isto, quando nos entra pelos olhos dentro o contrário, é um verdadeiro atestado de burrice, que o senhor Presidente passa aos portugueses. Que petulância.

Esta metáfora marcelista glosando as árvores, até encaixa bem com a personalidade do senhor Presidente da República, senão vejamos, se Marcelo fosse uma árvore, seria obviamente um Eucalipto, uma espécie que seca tudo à sua volta, não admite concorrência, e impõe a condição de centro do mundo. Isto é o perfil de Marcelo.

Fazendo um paralelismo com o ecossistema biológico arbóreo, entre a floresta, o bosque e a mata, o eucalipto (leia-se Marcelo) preferiria esta última (simbolicamente falando claro), em linha com o seu desejo de ”eliminar” politicamente quem se lhe opõe.

Mantendo o cenário arbóreo, escolha pessoal do senhor Presidente da República, que árvore personifica, então, António Costa, assolado por todas as ervas daninhas, da mata? Naturalmente, se se manter até 2026, será um justo merecedor da qualidade de um Castanheiro, espécie arbórea de muito longa duração, de tal forma que até se costuma dizer que as bodas de castanheiro celebram os casamentos de 95 anos. 

E o Montenegro? e o Ventura? e o Rocha? Obviamente Pinheiros: crescimento rápido, pouca duração, uma vez por ano servem para enfeitar, mas no fim da sua curta existência são desprezados, por quem os enfeitou, e desaparecem.

O Eucalipto sabe disto. O Castanheiro também sabe. Os Pinheiros ainda não chegaram lá … mas a realidade acabará, como sempre, de se impor.

Oliveira Dias, Politólogo

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