Para um construtor automóvel prestígio jamais será sinónimo de disponibilizar uma enorme gama de modelos e versões ou, simplesmente assentar a reputação em ícones passados, nem que seja por o sucesso de um simples motor diesel ou um modelo mais desportivo para famílias da classe média ou apenas ao alcance de milionários. A notoriedade e o valor de uma marca serão indiscutíveis se, por exemplo, um dos seus modelos é leiloado por valores impensáveis, independentemente da sua antiguidade e exclusividade. Ferrari continua a ser um símbolo de ilusões obviamente para os mais endinheirados, mas também para todos apaixonados pela indústria da automação. Há enamorados pela coisa dos motores que protagonizam esforços financeiros improváveis para adquirir o seu veículo de sonho.
Para a marca italiana, o começo do Verão distingue novo capítulo da história:
- Fernando Alonso vendeu o seu Ferrari Enzo por valor surpreendente num leilão, por 5,4 milhões de euros. É certo que o superdesportivo do piloto espanhol de fórmula 1 é o porventura o modelo “Enzo” mais singular, acima tudo porque têm o número de chassis 001, das 400 unidades que se fabricaram, e algumas especificidades únicas.
- A 29 de junho, apresentou o modelo SF90 XX nas versões Stradale e Spider, os dois primeiros Hiper desportivos da marca com chancela ‘XX’, naturalmente homologados para circular em estrada com performances exclusivas muito por força dos seus 1.016 cavalos de potencia. Proximamente escreverei sobre o SF 90 que já está esgotado apesar dos valores de compra oscilarem entre os 770 e 850.000 euros, para países onde incide apenas imposto de valor acrescentado de 21%.

Alonso conduziu-o 4.800 quilómetros em 12 anos
O Ferrari Enzo de Fernando Alonso tem matrícula espanhola com data de 2011, ainda que a produção do modelo tenha acontecido entre 2002 e 2004.
Mas o que tem de tão especial o modelo?
Simplesmente foi concebido na base das tecnologias da Fórmula 1 de então – 2002 – como incluir transmissão electro-hidráulica, travões de disco com carbeto de silício reforçados com fibra de carbono (C/SiC) e um sistema de aerodinâmica ativo que levanta um pequeno spoiler em alta velocidade, criando downforce para maior aderência, ou seja, uma sustentação negativa que procura manter o veículo mais fixo ao solo, mesmo em curvas, pela passagem do ar pelo apêndice em causa. Mas no Enzo, a asa traseira é acionada depois do downforce de 7.600 N ser atingido a 300 km/h. o apêndice é accionado por um sistema computorizado, na expectativa de manter a sustentação, no fundo a firmeza e a dinâmica relativamente ao asfalto.

Mas é o propulsor que faz também este Ferrari – com carroçaria em carbono – ser especial: Dispõe de um V12 de 6.0 litros, capaz de debitar 660 cv de potência e alcançar os 350 quilómetros por hora enquanto velocidade máxima estável, naturalmente com a ‘ajuda’ do seu peso extraordinariamente baixo de 1.255 kg. Foi desenhado por Ken Okuyama, o japonês ex-chefe do departamento de designer da Pininfarina.
Devemos recordar que o Enzo foi o primeiro modelo a equipar um V12 de 48 válvulas da nova geração da Ferrari: curiosamente com uma arquitectura baseada no V8 do Maserati Quattroporte, só que com o diâmetro dos cilindros maior em 104 milímetros. Tratou-se de um projecto ambicioso para substituir as antigas arquitecturas dos motores de 12 e 8 cilindros dispostos em V.
F430 de 2005 foi a segunda Ferrari a adquirir um motor deste projecto.
Desenhado por um japonês do atelier Pininfarina
Este veículo, de tracção traseira e motor colocado centralmente, é oficialmente designado Enzo Anselmo Ferrari para homenagear o fundador da scuderia – que nasceu 20 de fevereiro de 1898, e faleceu em 14 de agosto de 1988, com 90 anos, na cidade italiana de Módena – e memorizar o primeiro título de Fórmula 1 do construtor do novo milênio. Porventura, para simplificar o seu chamamento, tornou-se conhecido simplesmente por Ferrari Enzo.
A Ferrari anunciou o modelo no salão de Paris em 2002 e que colocaria à venda 349 unidades pelo preço base de 693.330 euros. Todos os exemplares foram vendidos antes do início da produção, tal qual acontece agora com o novo modelo SF 90 XX. Contudo, o modelo fica associado a outro acontecimento, talvez pela circunstância da marca ter convidado todos os proprietários dos anteriores modelos homólogos, os não menos extraordinários F40 e F50: os pedidos forçaram à construção de mais 50 unidade. E já em 2004, a Ferrai anunciou ter produzido o exemplar número 400 para ser doado ao Vaticano que, posteriormente o leiloou através da Sotheby tendo conseguido realizar 1,1 milhões de dólares.

Do bilhete de Identidade
Então, o motor V12 do Enzo Ferrari estabeleceu o recorde de mais potente entre todos os desportivos destinados circular em estrada com motores aspirados, ou seja, não sobrealimentados.
O motor – colocado centralmente – tem a distribuição de peso de 43.9/56.1 frontal-traseira. O motor é um V12 tem a designação F140B e é inclinado 65°, com quatro válvulas por cilindro, duplo comando no cabeçote e comando de válvulas variável. Concilia uma capacidade volumétrica de 5.998 c.c. e produz 660 cavalos a 7.800 rpm e um binário de 657 Nm (67 kgf·m) a 5.500 rpm. A injecção electrónica é Bosch Motronic ME7.
Enzo Ferrari tem uma transmissão semi-automática – em toda semelhante á que se equipava na Fórmula 1 -, utilizando borboletas atrás do volante para controlar as trocas de marchas e o accionamento da embraiagem automática. Inclui luzes de LED no volante para indicar ao condutor o momento certo para trocar de marcha. Com esta transmissão é possível trocar de marchas nuns surpreendentes 150 milissegundos.
Os registos do Enzo continuam a ser excepcionais: acelera de 0-96 km/h em 3,14 segundos; atinge os 160 km/h em 6.6 segundos; e os 219 km/h em 11 segundos. Quase como por obrigação para os super desportivos, o modelo foi testado no circuito alemão de Nürburgring Nordschleife pela revista Evo e a volta mais rápida foi de 7 minutos; 25,21 s’.

Enzo Ferrai foi pensado para estar disponível só em 4 cores: preto, amarelo e duas variantes do encarnado “Ferrai”, Rosso ‘Corsa’ e Rosso ‘Scuderia’. Contudo, o plano especial de individualização da construção dos modelos por encomenda, a Ferrari produziu alguns exemplares de cor branca, prata e azul. Wikipédia garante a existência de uma unidade pintada de cor-de-rosa que pertence a um cliente japonês.
– por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)