Mandava a tradição, dos velhos e sensatos costumes, que os problemas em casa de cada um, se resolviam em casa, de cada qual, excepção, obviamente, aos casos de crime, sob qualquer forma, porque esses, não podem conter-se no recato caseiro de cada qual.
Na verdade, não fazia, não faz, sentido nenhum, que a vizinha, ou o vizinho, viessem para a praça pública dirimir os seus desentendimentos.
Vem isto a propósito daquilo, que tem vindo a fazer caminho, rumo a uma normalização, numa mudança de paradigma, quanto ao bom senso, nas relações de conflito, existentes na nossa sociedade.
Em 2006, participando num encontro luso-brasileiro de eleitos locais de ambos os países, visando identificar oportunidades e desafios para o potencial turístico de cada municipalidade de ambos os lados do atlântico, ali representadas, como era o caso de São Vicente, na pessoa do respectivo presidente de câmara municipal e eu próprio, como seu chefe de gabinete, tive oportunidade de participar, em representação dos municípios da Madeira e dos Açores, a pedido destes, activamente nos diversos trabalhos, em regime de workshops, traduzidos na apresentação do potencial de cada município, e as razões desse potencial.
Fiquei, na época, estupefacto quando alguns presidentes de câmara portugueses, designadamente do interior do país, desfiaram um chorrilho de queixas e queixumes, sobre o abandono a que consideravam estar sujeitos, por parte do governo do país.
Fiz-lhes saber, do meu incómodo, por, no estrangeiro, estarem a verberar apodos ao seu país, algo que, a terem razão, e se calhar até tinham, deviam fazer em “casa” … no estrangeiro, falar mal do país, é no mínimo antipatriótico.
Mal imaginava eu, que aquele “incidente” acabaria por se tornar premonitório, quando hoje assistimos, a diversas classes profissionais, do sector público, não se importarem, para fazer valer os seus interesses, muitas vezes corporativos, e admito legítimos, de os transpor para o estrangeiro “ver”, sabendo que disso nunca resultará o alcançar dos seus objectivos profissionais, a instâncias desses estrangeiros, redundando essas acções numa gratuita humilhação do país.
Destacam-se, neste “modus operandi” os professores que a 22 de Abril de 2023, realizaram uma manifestação nos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro, visando sensibilizar os estrangeiros para a sua luta. A 3 de Junho, outra iniciativa promovida pelos professores junto ao terminal de cruzeiros do Porto de Leixões.
A Confederação de Turismo, preocupada, anunciou as potenciais consequências no turismo, com as greves na TAP, imagine-se, logo uma empresa que os portugueses pagam com língua de palmo, com os denodados esforços para a salvar, ainda se permitem pôr em causa a empresa e o turismo, naturalmente o mais afectado por essas paralisações, concomitantemente, humilhando o País. Nessa esteira o Presidente da entidade regional do turismo do centro de Portugal, manifestou as mesmas preocupações.
O Sinapel, sindicato de polícia, anunciou já, iniciativas de contestação, para a altura em que Lisboa recebe as Jornadas Mundial da Juventude, colocando o País na mira de milhões de pessoas em todo o mundo, para além dos que aqui se deslocam, numa previsão de milhão e meio. Essas iniciativas de contestação passam por acampamento de protesto de polícias, a par da realização diária de protestos nos aeroportos, entre 31 de Julho e 6 de Agosto, com a entrega de folhetos e afixação de faixas, para além de entrega de folhetos nas zonas turísticas da Madeira e dos Açores.
A internacionalização dos problemas internos é legítima, aceitável, e democrática?
Só uma visão muito retorcida, pode escorar a ideia de que um problema profissional, interno, tenha legitimidade para envolver um público que nem directa, nem indirectamente tenha alguma coisa a ver, nem com os contestatários, nem com os seus problemas. Nessa medida é absolutamente inaceitável.
No plano democrático, o enfoque só pode ser o direito á manifestação e ao protesto que a democracia nos trouxe, mas esse direito não se pode sobrepor, ao respeito pátrio, á dignidade mátria, de cada português, caso contrário estamos perante acções antipatrióticas.
Mal se compreende como duas classe tão especiais, como o são os professores, e os polícias, se deixam arrastar por quem medra este tipo de ideias, e pior, por quem as põe em prática, com o mesmo á-vontade com que se come tremoços.
Por outro lado não deixa de ser bizarro, que quem assim age, espera que os visados do seu protesto, lhes resolva os problemas … lá diz o ditado, “não é com vinagre que se atraem as moscas”.
Mas o pior é perceber que esta internacionalização de problemas domésticos, vem em complemento de um conjunto de exageros, que os protestantes dos sindicatos e classes profissionais, várias, lançam mão a insultos racistas travestidos de cartazes caricaturais, mas onde a mensagem está lá, e bem agressiva com a representação de lápis espetados nos olhos do visado. Se isto não é um apelo á violência, então a ideologia nazi era um conto de criancinhas.
A “créme de la créme” destas inusitadas acções concretizou-se com o “cerco” á sede o Partido Socialista, desta feita por iniciativa de um partido com assento parlamentar, tendo sso sido objecto de um muito bom artigo neste órgão de comunicação social, pela pena do Manuel Graça, e a tentativa de “penetras” num evento do PS em Matosinhos, protagonizado por … professores.
Se isto não foi uma provocação … por muito menos, no passado, houve incidentes trágicos, que só não se repetiram em pleno 2023, porque um dos lados, e não foram os professores, teve o bom senso de não cair na esparrela.
Alexis Tocqueville, século XIX, escreveu “a escola está para o ensino como a politica está para a democracia, colocam-na ao alcance do povo”, e Pitágoras sentenciou “educai as crianças e não será preciso castigar os homens”. Não vejo como estes dois seres humanos, maiores entre nós, possam ter razão, com aquilo que hoje se vê, na classe profissional dos professores. Se o exemplo vem de cima, então, vamos ter muitas prisões para os homens.
Oliveira Dias, Politólogo